‘The Northman’ é um arroubo técnico de uma história antiga

Filme é um tributo à cultura nórdica

Depois do sucesso da trilogia de O Senhor dos Anéis, a cultura nórdica inspirou várias produções no cinema e TV após anos inspirando RPGs e histórias em quadrinhos. Game of Thrones parecia o auge desse fenômeno. Mas este ano, a Amazon Prime Video colocou meio bilhão de dólares em uma nova série do mundo de JRR Tolkien, GoT vai gerar outra sequência e até a Marvel vai lançar um novo filme do Thor. The Northman (O Nórdico) faz parte desse contexto.

Amleth (Oscar Novak) é uma criança viking que ama sua mãe, a rainha Gudrun (Nicole Kidman), e o rei Aurvand (Ethan Hawke), que está viajando em uma longa guerra pelo seu reino. O menino se alegra quando vê o pai voltar, mas não percebe que sua vida e toda sua herança estão em perigo em conspirações dentro e fora dos salões reais. Aurvand decide atravessar um ritual de amadurecimento com seu filho, que os conecta e faz o garoto jurar vingar uma eventual morte de seu pai com um feitiço do mago Heimir (Willem DaFoe). Traído pelo irmão Feng (Claes Bang), o monarca viking consegue garantir a fuga do filho que jura resgatar sua mãe e vingar seu pai. Anos se passam e o menino se transforma em um guerreiro quase lendário (Alexander Skarsgård), que esqueceu seu juramento e vive com outra tribo guerreira descontando sua fúria em outros povoados até que uma experiência mística o faz relembrar sua trajetória e aproveitar uma coincidência para retornar ao seu antigo reino. Ao lado da misteriosa feiticeira Olga (Anya Taylor-Joy) ele engendra um plano para recuperar sua herança, salvar sua mãe e seu juramento. Mas nem tudo é como Amleth pensa…

The Northman é diretamente inspirado no mito de Vita Amlethi (saiba mais neste artigo do Nexus One), que inspirou outras histórias mais famosos como um certo Hamlet. Como muitas histórias antigas, é um enredo que traduz os valores morais e princípios da época e não os do nosso mundo. Talvez por isso, o roteiro do diretor Robert Eggers (O Farol) e do roteirista Sjón passe a primeira metade do filme com personagens tão bidimensionais e a segunda nos surpreendendo com as nuances entre a rainha Gudrun (talvez a personagem mais fascinante do enredo) e Amleth, que representa a consagração de Skarsgård como artista. O ator já havia roubado a cena em True Blood e Big Little Lies mas prova na produção o tamanho de seu talento e carisma. De resto, o filme talvez desperdice o talento de Anya Taylor-Joy em cenas de nudez que acrescentam pouco à narrativa. Aliás, é curioso que um diretor tão bom sempre tenha corpos femininos nus em seus filmes, mas omite os masculinos mesmo em um filme com apenas dois homens na história. Não deixa de ser um valor moral como, por exemplo, histórias vikings que ignoram a dor de mulheres violentadas pelos seus maridos.

The Northman: atuações incríveis são um dos níveis de excelência do filme
The Northman: atuações incríveis são um dos níveis de excelência do filme

Eggers é um diretor fascinante e já havia mostrado isso em A Bruxa e O Farol. Talvez The Northman seja sua grande chance de empregar essa sabedoria em uma produção com todos os recursos possíveis e não faz questão nenhuma de esconder. É um filme com som, fotografia, atuação e todos os elementos de um set de filmagem em um nível de sofisticação impressionante que eleva esta produção ao nível de clássicos como Ben-Hur ou Spartacus, de décadas atrás.

Só fica uma impressão estranha de em pleno século 21 ver tanta energia e dinheiro em um filme somente de pessoas brancas sem negros, asiáticos ou latinos (embora Anya Taylor-Joy seja argentina, mas dificilmente isso é lembrado pelo público). Talvez por um realismo histórico que acredita em valquírias e deuses, mas não em outras etnias. É mais uma coincidência estranha na filmografia do diretor. E também um problema na produção assim como a falta de resolução de conflitos como a relação entre Gudrun e Amleth, desbocando em um desfecho bidimensional que empobrece tudo. Com tantas pulgas na orelha, The Northman segue sendo um arroubo técnico e uma aula de direção.

Nota: 8.5

Confira o trailer:

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