Bom dia, Veronica: breves notas sobre a segunda temporada

Produção da Netflix segue empolgante e torna-se mais complexa

Em uma das primeiras sequências de seu episódio de estreia, a segunda temporada de Bom dia, Verônica, da Netflix, mostra uma tensa perseguição. Essa cena dá o tom do que vem a ser a segunda temporada, muito diferente da primeira, que esteve bastante centrada na subjetividade das principais personagens femininas, enredadas em uma conspiração empresário-policial cuja extensão desconhecem. Na segunda temporada, lançada em meados de 2022, logo nas primeira cenas, o espectador é jogado no meio da conspiração em andamento, mostrando mais informações sobre ela, com direito a tiroteios, perseguições e até mesmo explosões.

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Se na primeira a vilania estava principalmente na figura de Brandão (Eduardo Moscovis), um policial que sequestra e mata mulheres, a segunda temporada torna a trama muito mais complexa. Certamente que a corrupção policial permanece, ainda que desta vez centrada na figura da delegada Anita (Elisa Volpatto), apresentada na primeira temporada. Contudo, o centro da corrupção mostra a misteriosa trama envolvendo um orfanato, anteriormente introduzida. 

Com isso, o espectador é apresentado a uma figura messiânica que supostamente cura as pessoas doentes que frequentam sua igreja. Não demora para esclarecer que a “cura” realizada por Matias (Reynaldo Gianecchini) na verdade é um ritual de estupro. Muito dessa descoberta dos crimes de Matias é vista pelo espectador a partir do ponto de vista de sua filha Angela (Klara Castanho).

Essa figura messiânica comanda o orfanato. Nesse lugar, as crianças acabam tendo dois caminhos possíveis. Ou serem traficadas para o exterior, como objetos. Ou fazerem parte de uma espécie de milícia religiosa, que, ao que tudo indica, fornece futuros soldados para as forças de segurança do Estado. Em meio a isso, há uma clara crítica à relação de corrupção não apenas entre empresários e Estado, mas também em relação às igrejas, mostrando o falso messias como a síntese dessa relação.

Na história dessa temporada, a protagonista Verônica vive como um fantasma, depois de ter forjado sua própria morte. Em meio disso, busca provas para denunciar o esquema de corrupção e, talvez, no futuro tentar retornar à sua família. 

Narrada de forma ágil e com forte tensão, com boas cenas de ação e interpretações consistentes, a série mostra uma maior maturidade narrativa e de direção em relação à primeira temporada. Tainá Müller (Verônica),  Gianecchini (Matias), Elisa Volpatto (Anita) e Klara Castanho (Angela) apresentam boas interpretações.

Disponibilizada na Netflix, talvez o maior defeito da série seja tentar importar temáticas e mesmo a linguagem das produções de ação e policiais norte-americanas, como o fez também, por exemplo, Doutrinador. Contudo, apesar disso, Bom dia Verônica pode ser localizada no tempo e no espaço inserida em uma conjuntura específica do Brasil, denunciando, entre outras coisas, a instrumentalização política da religião.

No final das contas, ainda que muitas vezes de forma tímida, Bom dia Verônica consegue ser o grito de um país que tenta escapar dos falso messias e olhar para questões sociais – como as políticas públicas de proteção à infância – de tal forma a escapar da hipocrisia daqueles que prometem mudanças rápidas e das promessas de melhoria que se resumem à mera retórica.

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