‘O Dragão do Meu Pai’ é um filme “dois em um”

Trama traz significados diamantes para crianças e adultos

Na sexta-feira (11) a Netflix adicionou ao seu catálogo uma animação produzida em parceria com estúdio irlandês Cartoon Saloon, responsável pelo fofíssimo Wolfwalkers que nós aqui do POPOCA amamos. O filme da vez é O Dragão do Meu Pai (My Father’s Dragon), inspirado na premiada trilogia literária infantil homônima de Ruth Stiles Gannet. Com roteiro de Meg LeFauve e direção de Nora Twomey.

Como sugere o título, temos uma história que não é contada por seu protagonista. A narração em off com voz de Mary Kay Place diz respeito a alguém que não vemos, mas quer que conheçamos a história de seu pai. De quando era apenas o menino Elmer (Jacob Tremblay), e viveu uma angústia e uma aventura.

O garoto era alegre e prestativo ajudando a mãe a cuidar de um armazém no interior, até que uma recessão econômica os leva a buscar uma nova vida na cidade grande. Dela (Golshifteh Farahani) até tenta manter o otimismo para o filho, mas a falta de dinheiro e perspectivas não ajudam. Quando Elmer acha que deve consertar tudo sozinho, uma gatinha (Whoopi Goldberg) lhe diz que se resgatar um dragão ele terá o que precisa. E assim o garoto parte para a Ilha Selvagem.

O Dragão do Meu Pai é uma história contada do ponto de vista de alguém que não é protagonista
O Dragão do Meu Pai é uma história contada do ponto de vista de alguém que não é protagonista

A partir desse ponto o filme ganha um tom mais fantasioso e infantil, principalmente com a entrada do dragão Boris (Gaten Matarazzo). Mas isso não é nenhum demérito, ao contrário. Além de ser mais atrativa para as crianças, essa parte conversa com a criança interior dos adultos de uma forma diferente da maioria das animações. Pois leva o expectador a fazer a ponte entre a criança que foi um dia e o adulto que se tornou.

Quando digo no título da crítica que O Dragão do Meu Pai é um filme “2 em 1” não é (apenas) pela diferença entre o tom realista da introdução e o fantasioso da jornada de Elmer e Boris. Na verdade, existem diversos motivos para isso. O fato é que o filme traz experiências e significados diferentes para crianças e adultos.

Enquanto o que fica para o público infantil é a aventura de um menino e um dragão ao mesmo tempo que constroem uma amizade e aprendem sobre coragem, altruísmo e perdão, para os adultos ficam outras coisas. Não que estas não nos digam respeito e que não consigamos tirar proveito da jornada fantástica dos personagens, mas porque entendemos coisas que os pequenos sequer percebem.

Cena de O Dragão do Meu Pai, história "dois em um"
Cena de O Dragão do Meu Pai, história “dois em um” que tem seus pecados mas agrada

É como se existisse uma segunda história nas entrelinhas, simbolizada pelo fato de Elmer não ter pai. Vejam, não é um pai que morreu. Não existem lamentações por sua falta. Ele simplesmente não está ali. É apenas um garoto e sua mãe, como tantos pelo mundo. E contrariando aqueles que dizem que famílias chefiadas por mulheres são “fábricas de desajustados”, fica subentendido pela narração carinhosa de sua filha que Elmer quis ser o pai que não teve. Um bom homem e bom pai.

Enfim, O Dragão do Meu Pai traz uma das simbologias mais bonitas que vi esse ano em uma produção. De que o adulto que uma criança irá se tornar só depende da infância que levará. Não de bens materiais, conforto ou mesmo o tamanho da família, mas simplesmente ser criança enquanto aprende o que é importante.

Nota: 9

Confira o trailer:

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