Snyder Cut: Entretenimento, visão e autoindulgências

'Liga da Justiça' e a longa história de um filme muito longo

Quatro horas de filme! Acho que essa é a reação de quem não acompanhou o processo. E para quem também não sabe do contexto completo, ainda vem a pergunta: “Como assim, uma versão do diretor do mesmo filme que já saiu com um diretor diferente?”

++ Snydercut é o filme que deveríamos ter visto

Se você está confuso, vamos aqui explicar tudo que você precisa saber sobre a história desse épico cinematografico. Com sorte, em menos de 4 horas.

Snyderverse, uma “nova” esperança

Depois do estrondoso sucesso do Universo Cinematográfico da Marvel (MCU para os iniciados), A Warner Media, detentora de todos os direitos da editora DC Comics no cinema, resolveu entrar no jogo bilionario. Para isso, chamaram o visionário diretor Zack Snyder. Uma escolha interessante, afinal vinha de filmes interessantes como 300 e Watchmen, ambos de relativo sucesso, visualmente cativantes e com muito slooooooooooowwwwww mmmmooooooootttttiiiiiioooooonnnnnnn.

Assim, Snyder começa sua visão para o Universo DC nos cinemas com Homem de Aço, considerado um bom filme porém uma adaptação do Super-Homem um pouco… sombria, especialmente para um personagem que se diz (no proprio filme) um símbolo de esperança.

Por que? Spoilers: Um pai adotivo que o ensina que deixar um onibus cheio de crianças morrer poder ser uma boa ideia para proteger a identidade, e quebrar o pescoço de um vilão, não me parece muito… esperançoso.

Em seguida ele lança Batman v Superman. Os maiores heróis da DC juntos? Não podia dar errado, certo? Errado! Os criticos destruíram o filme e os fãs tentaram de tudo pra tentar subir a nota no rotten tomatoes(no momento deste texto, se encontra com 26% na opinião dos críticos e 63% na opinião do público).  Em termos financeiros, mal se pagou no mercado nacional. Quem diria que colocar o Batman marcando criminosos, explodindo pessoas e arrumando um desculpinha esfarrapada para matar o Superman poderia não ser bem recebido? Isso sem falar no momento Martha…

Enfim, as coisas não pareciam muito boas para o filme seguinte da franquia.

O estúdio contra-ataca

A pressão sobre o filme da Liga da Justiça cresce e a Warner começa a pressionar Zack Snyder para um filme menos sombrio. Para “ajudar” contratam Joss Wheadon, o diretor de Vingadores e Vingadores: A Era de Ultron. A mensagem era clara:  Queriam um filme mais leve e mais colorido. Junta-se a isso uma tragédia familiar na vida de Zack Snyder. O visionário diretor sai de cena, e Joss Wheadon assume o cargo. Chama de volta todo o elenco para uma série de refilmagens para dar a sua cara com apoio total do estúdio.

Uma pequena lista de problemas nesse processo:
– Atrasos na produção levam a atrasos no lançamento. Mas por questões fiscais e de dividendos para os acionistas, o filme precisava se manter no mesmo ano, forçando um lançamento precoce de um filme que claramente não estava terminado.

  • Henry Cavill, ator que faz o Super-Homem, estava filmando Missão: Impossível – Efeito Fallout, e seu personagem possuía um vistoso bigode. Cavill, POR CONTRATO, não podia raspar o bigode. Isso levou a produção a ter que apagar digitalmente o bigode da cara do Super-Homem:

Fantástico.

  • E pra completar, Ray Fischer, o ator que faz o Ciborgue, começa uma investigação acusando Joss Wheadon e outro produtores do filme de assédio moral e racismo.

O retorno de Snyder (aka: release the #snydercut)

Não é preciso ser um especialista em cinema para ver que o filme da Liga da Justiça foi uma bomba. Momentos que pareciam não se encaixar, tons bem diferentes e cenas novas mal acabadas tornaram a experiência estranha. Os fans foram rapidos em culpar Joss Wheadon pela tragédia (não sem razão, mas tudo que ele fez foi sob a batuta do estúdio) e começa a viralizar a ideia que havia todo um filme genial da Liga largado na mesa de edição. A campanha para o lançamento do #Snydercut ganha força nas redes.

Coincidência ou não, ano passado vimos a história do Ray Fischer ganhar força e outros atores que trabalharam com Joss Wheadon fizeram declarações similares de abuso. Houve também o lançamento da plataforma de streaming da Warner, a HBO MAX, que ainda engatinhava para ganhar assinaturas. Numa busca por novos assinantes e desesperados para mudar a imagem do estúdio, Zack Snyder é chamado de volta para completar a sua visão do universo DC nos cinemas (ou plataforma de streamings… em tempos de pandemia, dá quase no mesmo).

E aí, essa nova versão presta?

Bom, acredito que gostar ou não da versão, depende muito se você gosta da visão do Zack Snyder para esses heróis. É definitivamente um filme melhor do que o lançado em 2017, pura e simplesmente porque uma ideia (mesmo que equivocada) coesa é melhor do que uma colcha de retalhos mal-acabada. Ao ter toda a liberdade para fazer o que quisesse sem se procupar com sessões de cinema ou bilheteria, Snyder pôde encher o filme de slooooowwww mooooottttiiiooon (Lois Lane bebe um café em camera lenta! UM CAFÉ!); colocar uma cantoria em islandês e uma doida cheirando a camisa do Aquaman; O Caçador de Marte pode fazer uma aparição completamente inútil, etc. Com tantas histórias para contar, a maior qualidade do filme (ter tempo para desenvolver personagens e dar um arco melhor para Flash e Ciborgue) é também seu maior defeito: a quantidade de autoindulgência.

Se esse filme fosse lançado nos cinemas, poderia ter 3 horas de duração com tranquilidade. Darkseid, as cenas de pesadelo do Batman, o Caçador de Marte e toda batalha flashback poderiam ser ou reduzidas ou cortadas. Mas, como é em Streaming, que mostrem TODOS OS FRAMES POSSÍVEIS!!! Mughuahuahauhaahahaah

O roteiro é o mesmo de 2017. Há três joias do infinito Marthaboxes Caixas Maternas na Terra. O que é uma Caixa Materna? Só vai saber se for leitor assíduo de quadrinhos da DC, porque o filme não explica. Digo, explica sim: um troço que faz o que o roteiro quiser que faça, levando o tempo que puder e tendo o máximo de impacto possível na narrativa. Com a morte do Super-Homem, aparece o Lobo da Estepe (um ser alienígena poderoso cuja história não tem a menor importância no filme) querendo juntar as caixas para matar metade do universo destruir a Terra. Depois de todo o trabalho de juntar mais 4 gatos pingados para impedí-lo, Batman percebe que todo mundo é um bando de inútil e só ressucitar o Super resolve a parada. A idéia dá certo e tudo se resolve em tiro porrada e bomba.

Dá pra ver que conteúdo não é o forte. Mas as cenas são boas. Flash é um personagem bem melhor do que o covardão de 2017. Ciborgue tem história e Batman não vira alívio cômico chegando atrasado no conflito porque estava subindo escada. As cenas de ação são genuinamente bonitas e mesmo com as cenas inúteis extras, as 4 horas passam com relativa facilidade.

Deu para sentir falta de algo da Liga da Josstiça?

Com todos os seus defeitos, Joss Wheadon é um roteirista melhor que o Snyder, e um diretor competente, mesmo que não seja inovador. É possivel entender, ao ver a versão “pura” do Snyder, o que Wheadon quis fazer: Transformou a história em um filme sobre o Super-Homem, o que ele simboliza e a importãncia de seu retorno (o retorno da esperança, e não apenas de algum poderoso pronto pra sair dando porrada por aí).

Contudo, todo o mundo perdeu espaço para que essa história fosse contada. O excesso de piadinhas, o Flash caindo nos peitos da Mulher Maravilha, a total destruição do arco do Ciborgue e aquela família russa que não tem nada a ver com a história deixam nenhuma saudade. A ÚNICA coisa que poderia ser mantida é que na versão do Joss, Lois Lane é chamada pelo Batman para aparecer na ressurreição do Super. É um detalhe que mostra que o Morcego está sempre pensando dois passos a frente. Na versão do Snyder ela está lá simplesmente porque leva café (em câmera lenta) para o guarda. Mas é só. De resto, vai de f**er Joss Whedon.

Conclusão

A liga da Justiça de Zack Snyder merece nota 7,5. Os defeitos ainda estão lá, mas é um filme bastante assistível.

Aleatoriedades:

  • Se o Aquaman tira a camisa para nadar, da onde vem as roupas que ele larga no chão quando volta pro mar?
  • Ainda no clima do figurino”Supes estava definitivamente de terno e sapato quando entrou na laminha com o cubo mágico. O que aconteceu com eles e por que só a calça ficou intacta?” Perguntado por uma amiga…
  • Se Darkseid sabe que foi derrotado no planeta onde tinha a equação anti-vida e largou as caixas no planeta em que foi derrotado, por que ele ficou surpreso ao descobrir que o planeta onde as caixas estão é o mesmo planeto onde ele foi derrotado?
  • Acho maneiro retratar a Diana como uma guerreira que, no meio da luta em alta velocidade, acaba estraçalhando os terroristas na parede com direito a sangue e tudo mais. Mas ela ter pulverizado o último maluco destruindo metade do banco e colocando em risco os policiais do lado de fora foi bem esquisito.
  • Fiquei com menos raiva do Lex Luthor e do Jared Leto nesse filme. Vai entender.
  • Odeio quando não sabem o que fazer com um personagem poderoso. “Flash, a gente precisa que você gere eletricidade, fica lá girando que nem um Zé Mané mesmo que nesse MESMO FILME você já tenha feito isso numa navezinha de no máximo 500m de comprimento, ok?”
  • O Caçador de Marte bateu na porta do Bruce Wayne só pra deixar o currículo, foi isso mesmo?
  • Ainda com o Caçador de Marte: Sério que a Lois Lane não estar indo pro trabalho é a sua maior preocupação no momento? Sério mesmo? Nada mais importante está rolando? Seu stalker!
  • Impressão minha ou Lois Lane está grávida no filme? Quanto tempo o Supes ficou morto?

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