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Wonder Woman 84: Resenha com spoilers!

(a.k.a. – um roteiro com muitas falhas)

Wonder Woman 84 foi lançado ao mesmo tempo em streaming pela HBO Max e nos cinemas. O 2º filme da Mulher-Maravilha divide opiniões, mas já é considerado um sucesso e o 3º filme já está encaminhado, segundo a Warner Bros. Mas afinal, o que é bom ou não no filme, o que podia ser melhor? Segue uma análise mais detalhada, com spoilers! Você foi avisado!

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Vamos começar com o que NÃO é um problema no filme. Não é a mensagem feminista (ou a falta dela, dependendo de para quem você pergunta). Não são as piscadinhas para as crianças, segundo outras resenhas. Muito menos a trilha sonora, que ganhou um excelente upgrade com Hans Zimmer. Também não é a falta de qualidade de atuação da Gal Gadot. Afinal, Daniel Radcliffe teve 8 filmes para poder aprender a atuar, e poucos questionam a cara de quem tá cheirando o próprio peido que o Henry Cavill faz nos filmes do Super-Homem.

O filme é muito mais inspiracional do que qualquer outro no universo cinematográfico da D.C. (com exceção do primeiro WW) e tem cenas de ação muito divertidas, mesmo que tenham defeitos similares a outros filmes do gênero (mais detalhes sobre esses defeitos mais à frente).

Wonder Woman 84: filme decepciona e tem muitos erros
Wonder Woman 84: filme decepciona e tem muitos erros. O que você achou?

Então vamos aos problemas. Primeiramente, filmes de heróis não costumam ser experiencias ultra-filosóficas. Os filmes do gênero mais bem sucedidos costumam ter uma mensagem clara sobre quem é o vilão e o herói, a motivação de cada um, e o que o herói tem a aprender no filme. Fugir disso é possível, mas bem difícil. Por debaixo dessas linhas é que vem o que diferencia um filme excelente de um mediano e a real mensagem que o diretor quer mostrar para o público. Por isso que Homem de Aço é um filme que funciona (tem as linhas principais claras) mas é vazio, pois não diz mais nada além disso (qual é o propósito de colocar um herói como o Super-Homem quebrando o pescoço do vilão no fim do filme?).

Problema número 1: Qual a mensagem do filme?

Wonder Woman 84 é o oposto de Homem de Aço: tem uma mensagem interessante, mas as motivações principais não são claras, ou são ignoradas. Vamos começar com a cena inicial em Themyscira. Qual é o objetivo da cena? Eu entendo a importância de mostrar um monte de mulher foda sendo foda durante boa parte do filme. Mas como essa cena se encaixa no resto? O filme me diz que é uma lição sobre a verdade, mas nem a Diana e nem ninguém mais, mentiu. Ela pegou um atalho e achou que tinha o direito de ganhar (e nem foi um atalho tão grande, porque o cavalo fez todo o circuito, mas enfim, não sou árbitro de competições entre amazonas). A frase sobre “a verdade” é extremamente forçada aqui e continua forçada no final do filme. É como se algum roteirista tivesse pensado: “A Mulher-Maravilha tem o laço da verdade! Vamos fazer isso ser a mensagem do filme. Olha como sou esperto!” e acaba tentando encaixar um cubo no espaço de um círculo, como aqueles brinquedos de criança.

Problema de roteiro número 2: Quem é Diana?

No primeiro filme, acompanhamos a saga de Diana que se compara a uma jovem recém saída do ensino-médio e indo para uma faculdade longe de casa: “não preciso de vocês, tenho um problema maior pra resolver”. Comete os erros dos jovens, mas descobre que estava certa (Ares realmente estava influenciando a guerra) e suas experiências longe de casa a forjam como heroína, assim como o trauma com a morte de Steve (Trevor, não Rogers, esse era outro filme…).

Em Wonder Woman 84, a apresentação da personagem já deixa o público confuso: Afinal, se ela está cometendo atos heróicos abertamente (e aparentemente de bem com a vida), como engolir que ela também está deprê e reclusa? O filme nos diz que é sobre Steve Rogers, ops,  Trevor, que morreu mais de 60 anos antes de 84. MAIS DE 60 ANOS! Ela ainda sentir falta dele, tudo bem. Foi o primeiro grande amor e a experiência foi traumática. Mas montar toda uma personalidade em cima disso é fraco. Não convence. E mesmo que seja apenas isso, o que acontece de fato no filme para o crescimento de Diana nesse aspecto? Ela ganha mais alguns dias com ele e aprende a voar… mas só ganha o trauma de vê-lo partir novamente sem nenhuma real evolução da personagem.

Reclamar é fácil. Quero ver solução…

Na minha humilde opinião, as seguintes mudanças poderiam ter sido feitas/pensadas:

1- Tema do filme

Trocar a frase do início do filme para: Atalhos não resolvem os problemas. Trocando a temática para: Problemas tem que ser trabalhados e resolvidos direito, não existem soluções mágicas, ou “atalhos”. Isso se relaciona diretamente com a história de Max Lord e Minerva (que querem atalhos para resolverem seus problemas).

2-Conectar Wonder Woman 84 com o primeiro filme

Acredito que seria válido mudar a motivação da reclusão da Diana para, além de sentir saudades de Steve, uma decepção geral com o “Mundo dos Homens”. Afinal, no primeiro WW, a primeira Guerra Mundial era “a guerra para acabar com as guerras” e Ares estava envolvido. Ela derrota Ares e, na cabeça dela, todo o sacrifício de ter sido banida de sua terra Natal e perdido Steve teria valido a pena, certo? Mas o que acontece em 1939? Segunda guerra mundial. Sem Ares para desculpar a humanidade, não só é uma guerra muito pior, como os “bonzinhos” (segundo Hollywood) vencem a guerra jogando duas bombas nucleares no Japão. E em seguida começa a Guerra Fria e seus inúmeros conflitos. É mais do que motivo suficiente para Diana querer que o mundo se f%d@. Mas nada disso é mencionado no filme, e poderia ter sido.

2b. Para ilustrar o estado mental de Diana de forma mais clara a cena de ação inicial de ação com a Mulher-Maravilha poderia ocorrer de forma mais discreta, ajudando algumas pessoas e atrapalhando os bandidos, mas sem atrair atenção para si. Sem inspirar ninguém, já que no início do filme, ela não está se sentindo muito inspiradora.

3- A Mulher-Leopardo é realmente necessária?

O que fizeram com a Mulher-Leopardo? Os efeitos no final do filme ficaram péssimos (problemas comum em diversos filmes de super-herois: uma grande cena de ação com tanto CG que eles têm que deixar o ambiente mais escuro para disfarçar. Isso acontece no primeiro Mulher-Maravilha, Homem Aranha De Volta ao Lar, Vingadores Ultimato etc.,), e ela querer se tornar um Leopardo é completamente gratuito. É novamente querer forçar uma referência aos quadrinhos sem o roteiro ter mostrado NADA para que isso aconteça (além de uma vez a Minerva ter elogiado a estampa de oncinha na roupa da Diana).

Isso além de que o conflito com a Diana, no filme, é também gratuito. Tanto ela, quanto a Mulher-Maravilha querem capturar Max Lord para encontrar uma maneira de impedir que ele acabe destruindo o mundo sem que abram mão do que haviam conseguido. Steve sugere que talvez não tenha outro jeito, mas até ali, nada havia ocorrido para que ela falasse “não vou deixar vocês fazerem isso” e sair correndo.

Por mim, a solução mais óbvia seria: o desejo da Minerva foi: “Quero ser MAIS como a Diana”. Ou seja, ela ganhar poderes poderia estar diretamente relacionado com a Diana perdê-los. Ela não perde completamente, e todas as cenas se justificam (assim com a antagonização da Minerva). A luta final não precisava ser ela como mulher-leopardo, apenas ela superpoderosa (e dando uma motivação para a MM usar aquela fantasia de escola de samba). O bônus com isso seria no fim do filme porque a Minerva teve a experiencia de ter poder e ter perdido. Isso faria com que ela procurasse ganhar poderes e acabasse se tornando a Mulher-Leopardo num 3º filme. (Patty Jenkins, meliga!)

4-Steve Trevor

Me incomoda demais não ter sido mencionado em nenhum momento do filme, o fato de que manter Steve vivo implica diretamente em matar um cara aleatório. Isso é muito errado. Steve poderia ter voltado de forma incorpórea. Assim ele serviria como uma ponte para Diana recuperar sua conexão com a humanidade sem oferecer um segundo trauma e dando um fechamento melhor para história deles.

Aí sim, no final do filme, poderia rolar a cena do shopping. Diana “full” Mulher-Maravilha dando show.

Aleatoriedades:

– Mas que armadurinha feia e sem sentido no final, hein? E para algo que foi feito para aguentar uma multidão, foi destruída meio rápido, não?

– Pelo amor de Zeus, vamos acabar com essa idiotice de mulher de óculos = feia, sem óculos (e com vestido de festa) = bonita? Alguém acredita que a Kristen Wiig passaria desapercebida em qualquer lugar, com ou sem óculos?

– Alguém entendeu por que o filme se passa na década de 80 além de “para dar um visual legal”? Me parece que essas decisões com MM partem de algum escritório da Warner assim: “A Marvel fez um filme de sucesso na segunda Guerra Mundial. Vamos fazer igual só que na PRIMEIRA!” (todo mundo se parabeniza). “Marvel fez um filme com uma HEROÍNA na década de 90! Vamos fazer igual, mas na década e 80! Somos geniais!” (todo mundo injeta heroína e se parabeniza).

– Eu sinceramente adoro os efeitos especiais do laço da verdade. O contraste e o brilho dele, assim como toda a animação de movimento e a maneira que ele é usado nas lutas. Ele praticamente vale o ingresso.

– Acho válido tentar colocar o jato invisível na história. O lance de “ah eu tenho esse poder aqui que nunca mais vai ser mencionado em momento algum” é bem ruim, mas ainda assim: jato invisível! Só faltou ela perder ele no estacionamento.

E que fique claro: Essa análise só foi feita porque eu gostaria muito que o filme tivesse sido melhor. Mas acontece. Pelo menos não foi a tragédia de Batman Vs Superman, Esquadrão Suicida ou Liga da Justiça, que nem merecem uma análise mais detalhada de tão ruim que foram.

Nota 6.

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