The Handmaid’s Tale: A luz começa a aparecer

O ciclo de sofrimento começa a se partir.

Se passaram dois anos desde que a 3ª temporada de The Handmaid’s Tale foi ao ar. Mas agora, com três episódios a menos por causa da pandemia de Covid-19 e apenas mais uma temporada pela frente, uma luz começa a surgir no caminho de June (Elizabeth Moss). Pálida e instável, mas, ainda assim, uma luz.

Alerta de spoiler: Só continue lendo se já concluiu a 4ª temporada de The Handmaid’s Tale.

++ Leia também: The Handmaid’s Tale: 7 semelhanças entre Gilead e o Brasil

A temporada anterior terminou nos mostrando que as crianças, Rita (Amanda Brugel) e as outras Marthas chegaram bem ao Canadá. Mas precisamos esperar até agora para saber aonde as outras aias levariam June para ser socorrida. E assim que nossa heroína se recuperou, vislumbramos mais um horror de Gilead. Sabíamos dos casamentos infantis, até vimos Nick (Max Minghella) ter que se casar com uma adolescente. Porém, os horrores narrados por Esther (Mckenna Grace) extrapolam qualquer coisa que já tinha sido apresentada na série. Mesmo que a atitude de June de incentivar a garota a se vingar usando as próprias mãos tenha parecido extrema, foi compreensível.

Mas se de início pareceu que o ciclo de sofrimento continuaria, com fugas frustradas e capturas violentas, felizmente isso não durou muito. Ao menos para June, uma vez que Janine (Madeline Brewer) voltou aos “cuidados” de Tia Lydia (Ann Dowd) e o restante do grupo de aias teve uma morte trágica. No entanto, desde o reencontro com Moira (Samira Wiley) ficou claro que sair de Gilead não significava que as coisas ficariam mais fáceis para June. Ela saiu de lá clandestinamente e quase foi entregue para não comprometer a ONG. E depois de reunida a Luke (O-T Fagbenle) e a bebê Nichole, ficou ainda mais visível o estrago que Gilead fez em sua mente e alma.

June (Elizabeth Moss) e Moira (Samira Wiley) se reencontram

Não é para menos. E de tudo, parece que o fato de Hannah (Jordana Blake) não reconhecê-la mais e temê-la foi o que mais a machucou. Mas a questão é que June apenas deixou transparecer sua raiva com mais facilidade. Pois conforme dava as deixas para outras participantes do grupo de apoio, ficou claro que todas partilhavam de seus sentimentos. Inclusive Emily (Alexis Bledel), que até então apresentava uma atitude um tanto esquiva. Talvez por temer a reação de outrem caso deixasse revelar a raiva que sentia. Afinal, já a tínhamos visto matar uma Esposa quando esteve na colônia, durante a 2ª temporada. E a escolha dos roteiristas de fazer Moira se sentir assustada conforme ouvia as declarações de raiva e desejos de vingança do grupo foi bem pensada. Por mais que ela tenha visto e sofrido com os males de Gilead, ela nunca foi uma aia. E quando sua perspectiva de buscar a cura confronta com a de June de usar sua raiva de alguma forma, percebemos como sempre se espera que uma mulher saia bem de qualquer situação. Ou ao menos dê a entender que está bem.

Enquanto isso, em Gilead, vimos que Joseph (Bradley Whitford) acabou não sendo punido por ajudar no êxodo das crianças. Graças a Nick, que, como já desconfiávamos, aceitou a promoção para Comandante para ser um infiltrado do Mayday. Embora lá dentro tenha que jogar o jogo. Assim como Joseph. E o que foi aquele show de atuação na cena que Tia Lydia propôs um quid pro quo a ele? Sensacional. Começamos a ver rachaduras em Tia Lydia, principalmente quando está com Janine. Me pergunto por quê essa relação tão forte com a moça.

Falando em Janine, nessa temporada vimos que ela não é tão frágil no fim das contas. Depois do sermão que deu em June durante a fuga (merecido, diga-se de passagem), foi ela quem conseguiu convencer Esther no Centro Vermelho de que primeiro ela deve se preocupar em sobreviver. Bem, nós vimos logo no início da trama o que resistir fez com Janine. Mas mesmo que esteja mental e emocionalmente quebrada, a personagem ainda consegue usar a força que tinha quando era livre.

Serena (Yvonne Strahoviski) volta a se posicionar ao lado de Fred (Joseph Fiennes)

Voltando ao Canadá, Serena (Yvonne Strahoviski) é uma personagem que nunca conseguirei entender. Depois de tudo que passou, e por ter entregado Fred (Joseph Fiennes), imaginei que ela quereria seguir sua vida longe dos preceitos de Gilead. Mas, quando ao descobrir que estava grávida, chamou Rita para dizer que contava com ela para “ajudar a cuidar do bebê” (sabemos bem o que “ajudar” significa nesse caso), ficou claro o quanto Serena é mesquinha. Além de todo o sexismo que já demostrou, ainda mantém atitudes de privilégio branco. E o pior, depois que Fred soube da gravidez e principalmente após o depoimento de June, Serena simplesmente voltou para o lado dele. A cena do casal Waterford sendo ovacionado por uma horda de fãs foi revoltante, e assustadoramente real.

Outra questão inicialmente revoltante era a de que Fred aparentemente sairia impune ao aceitar entregar informações de Gilead. Mas não com June livre! E no que provavelmente foi o melhor plot twist da história, Mark Tuello (Sam Jaeger) aceitou a proposta de June e Joseph de trocar Fred por vinte e duas agentes canadenses perdidas. E o mais brilhante dessa reviravolta, é que em vez de ser levado ao tribunal de Gilead, June, Emily e as outras ex-aias puderam fazer sua justiça. Uma justiça que ele defendia quando era ele quem estava no poder. Violência nunca é a saída, mas estamos falando de uma obra de ficção onde mulheres foram subjugadas da forma mais cruel e bárbara possível. Vendo pelo aspecto da trama, as atitudes das personagens condizem com tudo o que passaram.

O fato é que nessa 4ª temporada os roteiristas tomaram ótimas decisões para levar a trama da série de encontro aos acontecimentos narrados em Os Testamentos, livro lançado por Margaret Atwood em 2019. Pra quem não sabe, o livro se passa quinze anos após os acontecimentos da 3ª temporada. Em entrevistas, Atwood revelou que a escolha de escrever uma sequência que se passa tanto tempo depois de sua obra original veio de desafiar os roteiristas da série. Não direi o que acontece no livro em respeito aqueles que ainda não o leram, mas posso dizer que o desafio foi aceito e fez bem à série. Se puder, leia logo o livro.

June (Elizabeth Moss) instigando as outras participantes do grupo de apoio a usarem sua raiva

The Handmaid’s Tale já tem a 5ª temporada garantida, que provavelmente será a última. Não sabemos ainda se ela contará com flashforwards para incluir a narrativa de Os Testamentos, mas imagino que seja possível. Até lá, você pode conferir as novidades sobre a série aqui no Popoca.

A 4ª temporada de The Handmaid’s Tale pode ser assistida no Amazon Prime Video com assinatura do canal Paramount+. E em breve no Globoplay. Assine a Paramount+ com desconto pela Amazon.

Nota: 9

Confira o trailer da temporada:

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