The Handmaid’s Tale: 7 semelhanças entre Gilead e o Brasil de Bolsonaro

Um mundo de fanatismo religioso, misoginia e de agressões às mulheres

Margaret Atwood escreveu The Handmaid’s Tale ou O Conto de Aia (publicado no Brasil pela Editora Rocco) em 1985, inspirada pela eleição de Ronald Reagan e a ascensão do conservadorismo da direita cristã. Mas provavelmente ela não pensava que mais de trinta anos depois seu livro inspiraria uma série de sucesso. E que os medos que a levaram a escrevê-lo voltariam a assombrar milhões de pessoas, nos Estados Unidos e no Brasil.

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A trama se passa num mundo distópico onde as taxas de natalidade caíram vertiginosamente, pois apenas 1% das mulheres é fértil. Os EUA passam por um golpe militar tornando-se a República de Gilead. A Constituição deixou de existir e igrejas são proibidas. A Bíblia é a lei, o Governo é a religião. As mulheres férteis são arrancadas de suas famílias para gerarem filhos para os casais poderosos. O que isso tem a ver com o Brasil? Mais do que você imagina. Mas vamos por partes.

Fim do Estado Laico

A proibição de igrejas em Gilead representa apenas a ausência de líderes religiosos, inclusive eles são perseguidos e executados. Pois passagens bíblicas são usadas como pretexto para toda e qualquer barbárie, e os Comandantes não querem sua interpretação sendo questionada. O paralelo com o Brasil é fácil de enxergar: Temos um Presidente que usa um versículo bíblico como lema, tem uma forte base religiosa e usa a Bíblia para disseminar seu ódio. E mesmo com grande apoio das igrejas, qualquer religioso que se oponha ou simplesmente exerça obras de caridade é perseguido e difamado por seus apoiadores.

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Desinformação

Na série as mulheres são proibidas de ler. A população em geral não tem acesso às mídias. Apenas Comandantes e Guardiões (uma mistura de polícia com Agência de Inteligencia) podem saber das notícias do exterior. E o próprio golpe foi armado com base em falsos ataques terroristas. Mas apesar de em nosso país ainda termos uma imprensa livre e direito a informação, o Governo constantemente tenta nos privar disso. Agredindo jornalistas, difamando veículos de imprensa, e até mesmo punindo funcionários pela divulgação de dados. Negando fatos e incentivando a divulgação de informações falsas.

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Opressão Feminina


Primeiro as mulheres tiveram suas contas congeladas, em seguida foram dispensadas das empresas onde trabalhavam. Para serem sequestradas e virarem Aias, Marthas, Jezebéis ou serem mandadas para as Colônias foi uma questão de tempo. E mulher oprime mulher: tanto pelas Senhoras que seguram as Aias enquanto os Comandantes as estupram, quanto pelas Tias que agridem e torturam as Aias até que se “tornem mansas”. Tudo para a mulher não precisar se preocupar com nada além do dever biológico de procriar. É ficção, mas não estamos longe disso na realidade. As mulheres vem perdendo direitos conquistados há décadas e são questionadas por continuarem trabalhando fora após serem mães. Sem falar das que são estupradas e chamadas de “assassinas” por quererem um aborto garantido por lei.

Fato: como uma ministra usou sua autoridade para tentar impedir uma criança estuprada de abortar e como o presidente tentou coagir mulheres estupradas a não abortarem.

“Menino veste azul e menina veste rosa”

A infeliz frase da Ministra Damares Alves define Gilead nos sentidos literal e figurado. As crianças realmente vestem estas cores, apenas estas. E têm uma educação dirigida para seu gênero: Os meninos seguem a escola formal enquanto as meninas aprendem artes manuais e a cuidar do lar. Isso reflete ainda mais a ideologia do Governo brasileiro de que só existem dois gêneros e cada um tem seu papel. E nada deve dissuadir as crianças disso.

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Perseguição a LGBTQ+

The Handmaid's Tale

Apenas mencionar a sigla ou palavras como “homossexualidade” e “gay” já é um crime grave. LGBTQ+ são considerados “traidores de gênero”, condenados a forca. A não ser que sejam mulheres férteis, nesse caso são obrigadas a serem Aias. Embora ativistas e congressistas brasileiros tenham conquistado direitos a comunidade LGBTQ+, poucas coisas garantem mais votos a um candidato do que perseguir gays. E quando um chefe de Estado afirma que “ter filho gay é falta de porrada”, a população se vê no direito de fazê-lo.

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Violência Policial

Uma pessoa acusada é apreendida pelos Guardiões no meio da rua ou dentro de casa. Um julgamento dificilmente resulta em algo diferente de mutilação ou execução, o último sempre feito a vista de todos. Apesar dessas duas penas não estarem previstas em nosso Código Penal, vemos cada vez mais as forças policiais assumirem para si os papéis de júri, juiz e carrasco. Fazendo as pessoas terem medo daqueles que deveriam protegê-las.

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Apatia

Uma das coisas mais perturbadoras da série é vista nos flashbacks: a apatia da população quando tudo começou. Todos acreditaram que a queda da Constituição e dissolução do Congresso eram temporárias. As manifestações só começaram quando já era tarde demais. É só lembrar que aqui no Brasil a população ficou quieta, quase apática, diante das reformas trabalhista e da previdência. Protesto e manifestações contra o Governo vem sendo feitos vez outra, apesar da pandemia, mas são sempre rechaçadas e ridicularizadas. A apatia pode ser grande, mas ainda temos tempo de fazer algo.

Análise: Indignação com política tem gerado apatia

The Handmaid’s Tale possui três temporadas e pode ser assistida no Globoplay. A série foi renovada para a 4ª temporada já em gravação, mas sem previsão de estreia.

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