Pânico 6: entre erros e acertos

Novo filme é o segundo depois da retomada da franquia

Recentemente chegou às lojas de venda digital o novo filme da franquia Pânico. Embora seja o sexto filme, é o segundo da retomada da franquia, ocorrida a partir de 2022. Esses dois elementos – ser a continuação de um filme recente e, ao mesmo tempo, o novo capítulo de uma longeva franquia – acabam se mostrando bastante contraditórios.

++ Leia também: Pânico 5 entre homenagens e novos personagens

Por ser uma continuação, o filme coloca em destaque os sobreviventes do anterior, especialmente as irmãs Sam e Tara. Elas tentam reconstruir sua vida em Nova York, depois do terror vivenciado no ano anterior em Woodsboro. Contudo, enquanto Tara tenta seguir sua vida na universidade, Sam permanece presa no trauma, chegando a sufocar a irmã com sua paranoia. O fato de ser filha de Billy Loomis continua a perseguir Sam, desta vez por meio de bullying virtual. Em meio a isso, uma nova onda de assassinatos começa a ocorrer, colocando em cena um novo Ghostface.

Essa é a base do filme e que poderia ser mais uma outra produção qualquer de suspense a ser exibido nos cinemas e depois chegar ao streaming. Contudo, ao carregar o nome da franquia Pânico, o mais recente filme precisa prestar contas com o legado construído nesses quase trinta anos. Em função disso, o filme deveria trazer uma reflexão cinematográfica que fizesse parte orgânica da narrativa. E nesse ponto o filme falha. Se na continuação de 1997, ainda dirigida por Wes Craven, o próprio criador coloca a si mesmo o desafio de superar o primeiro filme, lançado no ano anterior, essa nova continuação da franquia (ou um novo segundo filme, por assim dizer) comete um grave erro. 

A cena sobre a explicação do tema cinematográfico a ser problematizado é protocolar, como se fosse inserida no filme apenas para justificar a relação com o resto da franquia. Além disso, apesar do longo monólogo de Mindy, a explicação não diz muita coisa a não a de que o “filme” que o novo assassino tenta contar é parte de uma franquia. E essa reflexão simplória é repetida insistentemente, sem aprofundamento ou sem fazer as tradicionais relações metalinguísticas com o roteiro que marcaram todos os filmes da franquia.

No caso da metalinguagem – e talvez aí esteja a única ideia criativa do filme -, ela se resume a apresentar o “museu” com peças relacionadas aos crimes anteriores – facas, roupas dos assassinatos, a televisão que matou Stuy no primeiro filme e outros tantos objetos. Essa ideia do museu, ainda que não seja exatamente original, realmente foi bastante criativa.

Spoilers: Pânico 6

Contudo, é aí que entra o outro problema grave do filme, que é a obviedade da identidade dos assassinos e sua relação com o que veio antes. Todas as falas e ações do detetive Detetive Bailey, responsável pela investigação dos assassinatos, desde o começo deixam claro que ele tem algum envolvimento. Quinn é apresentada como suspeita e em nenhum momento essa informação é efetivamente negada, além do que a cena de sua morte forjada é, no mínimo, muito forçada. E, por fim, Ethan, é o tempo todo chamado de “suspeito” ou de “assassino”, especialmente por Mindy, sem que se faça qualquer contraponto para negar isso. Não custa lembrar que no primeiro filme Craven colocou em cena diversos elementos que levavam a Billy e, de imediato, outros tantos que o inocentavam. O novo filme fica só no primeiro movimento – lançar a suspeita -, sem levantar qualquer dúvida de que o assassino pode ser mesmo Ethan.

O grande “mistério” acaba sendo identificar a relação que existe entre essas três pessoas, mas até isso é entregue de bandeja, ao se falar do filho morto de Bailey, supostamente num acidente. Para quem conhece a franquia, fica óbvio que se está imitando a explicação do segundo filme, em que a mãe de Billy Loomis procura vingar o filho. Nesse filme mais recente, sequer se faz alguma alusão ao fato de que a vingança planejada por Bailey repete aquela tentada pela avó paterna de Sam contra Sidney Prescott.

Nesse cenário pouco criativo, não fica difícil deduzir que o centro dos assassinatos cometidos por Bailey e por seus dois filhos ainda vivos passa por tentar vingar a morte de Richie, um dos psicopatas do filme de 2022.

Sem Spoilers

O filme, de forma geral, tem boas cenas de suspense. Contudo, ao mesmo tempo, a relação com a franquia é muito mais de nome do que efetiva, afinal se abandona a lógica narrativa que guiou a criação dos demais filmes ao longo dos anos. Essa relação com a franquia é forçada, superficial e nada convincente. Por outro lado, a sequência final do filme mais recente, com a revelação da identidade do assassino e as perseguições e reviravoltas, se mostra boa em termos de suspense e direção.

Melissa Barrera e Jenna Ortega continuam a entregar boas interpretações como as irmãs Sam e Tara. Barrera, em especial, caso haja um novo filme, possivelmente terá que encarar uma Sam que talvez assuma o legado de seu pai (e avó) psicopata, afinal está mais evidente seu prazer em assassinar aqueles que vêm tentando machucar sua irmã. Com isso, talvez um eventual sétimo filme seja obrigado a definitivamente romper com a tradição construída pela franquia e se assumir como uma obra original.

Arquivos

Leia Mais
‘What If…?’ conecta episódios em final ‘massa, véio’