‘Os Filhos dos Outros’ traz novo olhar sobre figura familiar

Longa francês explora perspectiva pouco usada: a da madrasta

Nesta quinta-feira (5) chega aos cinemas brasileiros o filme Os Filhos dos Outros (Le Enfants des Autres), da cineasta francesa Rebecca Zlotowski. O longa já foi selecionado para vários festivais internacionais, incluindo o Festival de Veneza de 2022 onde foi indicado ao prêmio de Melhor Filme. E agora chegou nossa vez de conferir.

Rachel (Virginie Efira) é uma professora zelosa que começa um relacionamento com o recém-divorciado Ali (Roschdy Zem). Ela sabe que ele tem uma filha pequena, Leila (Callie Ferreira-Gonçalves), e como o relacionamento logo fica sério pede para conhecê-la. Rapidamente Rachel se afeiçoa a Leila, o que acaba por despertar nela a vontade de ser mãe.

Os Filhos dos Outros traz uma história íntima, sensível, e que também representa o nosso tempo. Se outrora a madrasta era uma figura temida em histórias infantis, isso diz muito sobre o contexto histórico do tempo em que foram escritas. É verdade que até um passado não muito distante as mulheres eram educadas para ver outras mulheres e tudo que viesse delas como ameaça – incluindo os filhos delas. E qualquer criança que não tivesse seu sangue não era digna de atenção. Felizmente, os tempos são outros.

Outro aspecto notável do longa é trazer essa personagem normalmente secundária, quando não antagonista, para o centro da trama. Foi justamente isso que atraiu Efira a aceitar essa personagem em um ponto de vista raramente visto no cinema. “Rebecca decidiu trazê-la para o primeiro plano e examinar o vínculo entre um personagem periférico e uma família ‘adotada’. Ao mesmo tempo que aborda também a questão da feminilidade”, comentou a atriz, que levou o prêmio de Melhor Atriz com essa personagem no Lumière Awards 2023.

Os Filhos dos Outros já foi selecionado para vários festivais internacionais, incluindo o Festival de Veneza de 2022 onde foi indicado ao prêmio de Melhor Filme
Os Filhos dos Outros foi selecionado para o Festival de Veneza de 2022 onde foi indicado ao prêmio de Melhor Filme

Certamente a parceria entre atriz e cineasta foi fundamental para um resultado honesto verossímil, pois a proximidade e empatia de Efira com a personagem permitiu que Rebecca escrevesse um roteiro franco. E também inspirado em suas vivências. “Comecei adaptando o romance ‘Além Deste Limite Seu Bilhete Não Vale Mais’, de Romain Gary, que escancara a impotência de um homem. Mas algo não parecia certo. Não porque eu não conseguisse me projetar nele, mas talvez porque eu conseguisse me identificar demais. Aos poucos fui reconhecendo a minha própria impotência, a de uma mulher de 40 anos, sem filhos, que quer um, e, em partes, cria os de outra mulher. Uma madrasta sem ser mãe. Esta situação foi o ponto de partida de uma história digna de ser contada” disse Rebecca.

Em complemento, o longa acerta ao não gerar rivalidades imaginárias entre as mulheres, nem mesmo entre Rachel e Alice (Chiara Mastroianni), ex-esposa de Ali. Em certo momento Rachel chega a dizer para Alice que “precisamos parar de nos desculpar pelos homens”, o que mostra sororidade. Rachel tampouco antagoniza com Leila, apenas se recente por constantemente ser colocada como coadjuvante numa família da qual quer fazer parte. O que não é nada fácil.

Os Filhos dos Outros é o quinto longa da carreira de Rebecca Zlotowski, que, segundo muitos, traz o roteiro mais intimista que escreveu até o momento. A cineasta revelou que descobriu a gravidez durante as gravações do filme, e o dedica a todas aquelas que vivem situações parecidas com as que viveu.
O filme chega ao Brasil com distribuição da Synapse Distribution, e está disponível em cinemas de Belo Horizonte, Niterói, Recife e São Paulo. Se você mora em uma dessas cidades, já tem um bom programa para inserir na agenda.

Nota: 9,5

Confira o trailer:

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