“O Massacre na Festa do Pijama”: de 1982 visto agora

Embora menos popular que outros precursores de franquias slasher, O Massacre na Festa do Pijama (1982) apresenta tanto elementos comuns a essa cinematografia como alguns aspectos diferenciados. Um dos elementos menos ordinários está no fato de ser dirigido por uma mulher: Amy Holden Jones (o roteiro também foi realizado por uma mulher, Rita Mae Brown). Esse fato sempre acaba gerando um certo debate, considerando que essa cinematografia é centrada em grande medida na violência contra o corpo de jovens mulheres.

O roteiro é o básico dos slashers: um perigoso assassino persegue e mata um grupo de jovens. Os crimes ocorrem em uma pequena cidade, em torno um grupo de colegas de uma escola, e as mortes estão associadas a uma “festa do pijama”. A maior parte das mortes ocorre justamente durante a festa, representando uma forma de punição ao comportamento das jovens, que, embora sem estar de forma direta associado a sexo, liga-se ao consumo de drogas.

Como era de se esperar, Valerie, a final girl, não está envolvida diretamente com a festa, sendo apenas uma vizinha que a maior parte do tempo observa de longe. Sua irmã mais nova permanece durante parte do filme instigando Valerie a “invadir” a festa. Contudo, a representação construída sobre Valerie é a de uma jovem retraída. Isso é construído, entre outros momentos, na sequência inicial do filme, mostrando que Valerie evita interagir com as demais garotas no vestiário, durante e após o banho.

O Massacre na Festa do Pijama é um filme que merece ser revisto e debatido

O filme não escapa do conservadorismo presente na cinematografia slasher. Em primeiro lugar, pela forma como exibe de forma gratuita o corpo nu das jovens atrizes, em especial na cena inicial, do chuveiro do vestiário. Os diálogos apresentados nessa sequência poderiam ter sido feitos das mais variadas formas, sem que as atrizes precisassem estar nuas. Em segundo lugar, por associar as mortes das jovens a um certo comportamento condenado pelo conservadorismo da sociedade, como a querer passar um tipo de recado moralista.

Uma questão que sobressai é a metáfora em torno à arma utilizada pelo assassino: uma furadeira, que é visivelmente uma referência fálica. Nessa metáfora, bastante explícita, o uso da arma contra o corpo das garotas pode ser interpretado como um estupro. No final do filme, quando Valerie corta a ponta da arma, é claramente simbolizada a castração do assassino, tirando dele sua virilidade.

O filme se mostra bem dirigido e com interpretações razoáveis, ainda que não sejam nomes que tenham conquistado grande fama posterior. Embora barato, como outras produções slasher de baixo orçamento da época, conseguiu arrecadar uma bilheteria superior aos custos, o que garantiu duas sequências, ambas também dirigidas por mulheres. O filme, apesar de seus limites, certamente merece estar entre os principais clássicos do cinema slasher.

Nota: 7

Como assistir: o filme foi lançado em DVD pela Versátil no box Slashers Vol 2.

Este texto faz parte de uma série de reflexões que serão publicadas sobre filmes de horror dirigido por mulheres.

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