O mês de outubro, que termina com o Dia das Bruxas, normalmente está associado ao horror, em suas diversas manifestações artísticas. Na literatura há uma longa trajetória de muitos séculos, de grande diversidade de produções e de medo.
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Em toda a sua história, a literatura de horror se baseia fundamentalmente na construção do medo, ou seja, na narrativa de acontecimentos que provocam medo no leitor. No cotidiano, o sentimento de medo representa uma garantia contra os perigos, permitindo ao ser humano escapar dos riscos à sua vida.
Entendendo o horror em sentido amplo, pode-se identificar seus precursores em diferentes momentos históricos, como nas epopeias e nas tragédias clássicas gregas, bem como na obra medieval Divina Comédia, de Dante.
Na obra de Willian Shakespeare o medo e o sobrenatural são elementos que aparecem em diferentes narrativas, sendo possivelmente os mais emblemáticos as bruxas em Macbeth e a aparição do fantasma do pai de Hamlet.
Os contos de fadas, que proliferaram nos séculos XVII e XVIII, mantém relação com a produção de horror, na medida em que mostravam seres bizarros que representavam o mal.
O gótico
O medo e o sobrenatural deixam de ser apenas elementos narrativos eventuais e passam a ser o centro das obras somente no final do século XVIII, por meio de obras associadas ao gótico. Essas obras representaram uma volta ao passado feudal, provocada pela desilusão com os ideais racionalistas que ganharam força no contexto das Revoluções Burguesas.
Normalmente se apresenta como obra precursora do horror moderno o romance O Castelo do Otranto (1764), de Horace Walpole. Nessa obra são apresentados elementos estéticos que viriam a ser utilizados em obras posteriores, como a imagem do gótico, alas desertas e arruinadas, corredores misteriosos e outros aspectos apavorantes que ajudam a criar um clima de suspense. Nessas obras também são delineadas as características de alguns dos principais personagens, podendo-se destacar, entre outros, o nobre perverso como vilão e a heroína santa
O romance gótico ganhou uma rápida difusão, destacando nomes como Ann Radcliffe e Matthew Gregory Lewis. Em meio ao grande sucesso de público, a ficção gótica levou a uma produção enorme, em sua maioria direcionada para a venda. Essas produções, incorporando elementos mais complexos, como a influência do desenvolvimento da ciência ou a presença de monstros sobrenaturais, não demoraram a ganhar alguns dos seus mais conhecidos clássicos posteriormente.
Em 1818, Mary Shelley publicou o romance Frankenstein, uma obra que viria exercer enorme influência tanto na literatura de horror como na ficção científica. No ano seguinte, John Polidori pulicou o romance O Vampiro, considerado um marco na literatura de vampiros, pois estabeleceu elementos que foram aproveitados ou modificados produções posteriores
Nos Estados Unidos não demora a surgir nomes influenciados pelo gótico europeu, dos quais se destaca Edgar Allan Poe. O poeta e contista estadunidense trabalhou um conjunto de temas que viriam a ser comuns na literatura posterior de terror, como a loucura, e definiu muitas das características estéticas da literatura de horror, como o suspense.
Os monstros
O romantismo na literatura europeia aos poucos foi perdendo espaço para o realismo e, posteriormente, para o naturalismo. Com isso, ainda que parte das principais obras do período em certa medida não tenham se valido do sobrenatural, não se deixou de lado o medo na literatura. Foram produzidas algumas obras que colocavam em cena a crueldade manifesta pelos seres humanos, tendo no próprio homem uma manifestação de monstro. Uma das obras mais lembradas desse período é A besta humana (1890), de Emile Zola.
No final do século XIX se encontram alguns dos maiores clássicos europeus da literatura de terror. Em 1872, o escritor irlandês Joseph Sheridan Le Fanu deu vida a Carmilla, uma vampira lésbica, que personificava alguns dos maiores medos das famílias burguesas e aristocráticas do período.
O vampiro ganharia sua personificação definitiva com a obra Drácula (1897), de Bram Stoker, com o qual que viria a influenciar toda a produção posterior sobre vampiros. O romance Drácula colocava em cena uma criatura sobrenatural que atacava as estruturas e o futuro das famílias tradicionais.
Contemporâneas aos dois grandes clássicos vampíricos, são as obras O Médico e o Monstro (1886), do escritor escocês Robert Louis Stevenson, e O retrato de Dorian Gray (1890), do irlandês Oscar Wilde. No primeiro, um experimento científico faz com que o médico se transforme em um perigoso monstro. No segundo, um belo jovem troca sua alma pela possibilidade de não envelhecer.
Século XX
Durante todo o século XX, o horror e o sobrenatural aparecem em numerosas obras literárias. Possivelmente um de seus maiores nomes é H. P. Lovecraft, que construiu uma mitologia própria de monstros, tendo escrito suas principais obras nas décadas de 1920 e 1930. Essas obras inspiraram muito da literatura e do cinema produzido nas décadas seguintes.
Por outro lado, no século XX, essas diversas produções culturais ampliam o uso da figura do monstro como principais ameaças à humanidade. Com o fim da II Guerra Mundial, coloca-se um cenário apocalíptico para a humanidade, onde monstros assombram o mundo diante da possibilidade de um holocausto nuclear.
Nesse contexto se produz a figura do zumbi, uma metáfora para as perigosas massas que cercam a burguesia e ameaçam a propriedade privada, especialmente em grandes centros urbanos. Diferente de seus antecessores, o zumbi é um monstro coletivo. Embora possam atacar sozinhos, se tornam mais perigosos quando atuam em horda, cercando grupos de pessoas vivas, com vistas a comer partes de seus corpos. São seres cujas ações não apresentam uma intencionalidade.
Os zumbis são o monstro típico de uma sociedade de massas, com grandes concentrações em espaços urbanos, onde podem se locomover e encurralar suas vítimas.
O horror no presente: medo na literatura
Nas últimas três décadas do século XX, alguns escritores do gênero se tornarem best sellers, com destaque para o estadunidense Stephen King, criador de obras de sucesso como Carrie, O iluminado, Cemitério maldito, entre outras. Outro nome que se tornou bastante notável foi o britânico Clive Barker, autor da obra que deu origem à franquia Hellraiser, sucesso na literatura e garantia de medo.
Outros nomes também se destacaram nessas últimas décadas, como Peter Straub, autor de Ghost Story (1979), e William Peter Blatty, autor de O Exorcista (1971). Em muitas dessas obras, se percebe um horror voltado ao cotidiano, assumindo metáforas para os horrores encontrados no cotidiano.
O horror se tornou uma marcante expressão artística contemporânea, se popularizando e, com isso, popularizando os mais diversos tipos de monstros. Contudo, persiste ainda certa compreensão de que se trata de um gênero menor, como a literatura policial ou a erótica, ainda que alguns escritores considerados canônicos tenham escrito obras do gênero e, inclusive, seja recorrente a citação de obras de horror em listas de obras literárias clássicas.