‘Meu Amigo Lutcha’ é fofo, e nada mais

Filme acerta na ideia, mas só na ideia mesmo.

Como alguém que gosta de releituras de mitos e lendas, fiquei um tanto ansiosa pela estreia de Meu Amigo Lutcha (Chupa). Lançado na Netflix em 7 de abril, o filme traz o mito do chupa-cabra e o sensacionalismo que se fez cima de supostas aparições nas décadas de 1990 e 2000 para trazer uma história familiar. O resultado é bonitinho, mas fica só nisso.

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Alex (Evan Whitten) é um garoto que sofre com a morte prematura do pai e é vítima de bullying por causa de suas raízes mexicanas, chegando a ter vergonha delas. A mãe então resolve mandá-lo para o México passar uns dias com o avô Chava (Demián Bichir) e os primos Memo (Nickolas Verdugo) e Luna (Ashley Ciarra) durante o recesso de primavera. E Alex, que não queria viajar, acaba vivendo uma grande experiência ao encontrar um filhote de chupa-cabra.

A premissa traz a sensação de uma história cheia de aventura e autoafirmação. Até tem alguns momentos disso, mas são poucos e mal aproveitados. O enredo joga vários plots interessantes na tela sem aprofundar nenhum. O avô conversando com o neto sobre luto e não ficar escondendo a dor atrás de um videogame? Só uma conversa mesmo, com resultados quase milagrosos. (Quem dera fosse fácil assim!) A perda de memória do avô? Um problema pra depois. Os vilões que querem capturar o chupa-cabra? Uma piada.

Talvez a maior decepção sejam mesmo os vilões, que não são bem explorados e com isso não parecem uma verdadeira ameaça. Só se sabe que o grande vilão Quinn (Christian Slater) quer capturar um espécime pois “traria a cura de doenças”. Mas que doenças? E como ele sabe disso? Uma lenda? Uma profecia? Viu um chupa-cabra curar alguém quando era criança? Isso fica tão abstrato que nem pra instigar um debate sobre ética em pesquisas científicas serve.

Quanto ao pequeno chupa-cabra, ele é fofo e apaixonante sim. E acredito que se o filme pertencesse a certos estúdios veríamos brinquedos dele invadindo todas as lojas. (Sim, Disney e Warner, estou olhando pra vocês.) Não dá para negar que as melhores cenas do filme envolvem o pequeno Lutcha interagindo com as crianças. É engraçado vê-lo agindo como um pet, inclusive “presenteando” Alex. Porém, por mais interessante que seja um ser mitológico conhecido por uma aparência asquerosa e sede insaciável de sangue ser retratado como um animal selvagem e belo que deve ser protegido, faltou profundidade. O que até poderia levar a uma discussão de medo x conhecimento, mas não aconteceu.

É preciso dizer que os tradutores acertaram muito na adaptação do título e do nome que as crianças dão ao filhote. Aproveitando o background de luta livre (Chava foi um famoso lutador), no Brasil o bichinho se livrou de ter um nome com conotação sexual para homenagear o esporte. Embora o correto em espanhol seja “lucha”, mas tudo bem. É de admirar que outros países não tenham feito o mesmo.

Enfim, mesmo acreditando que às vezes menos é mais, Meu Amigo Lutcha peca justamente por não usar mais e melhor o que tem. Se você quiser um filme bonitinho e sem pretensão para passar o tempo, fique à vontade. Mas não espere mais do que isso.

Meu Amigo Lutcha foi dirigido por Jonás Cuarón. Os roteiros são de Sean Kennedy Moore, Joe Barnathan e Marcus Rinehart, que também cocriaram a história com Brendan Bellomo.

Nota: 6

Confira o trailer:

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