Por ter gostado tanto de A Magia do Inverno engatei logo a leitura de seu predecessor. E só posso antecipar que com Além da Magia (Furthermore) cheguei a inevitável conclusão de que Tahereh Mafi possui uma escrita mágica.
Alice vive em Ferenwood, uma terra onde tudo e todos possuem magia. E magia significa cor, só que, pra infelicidade da menina, ela nasceu sem cor. O que leva muitos a acreditarem que ela também não possui magia, e a menosprezam por isso. A vida de Alice piorou aos 9 anos, quando seu pai desapareceu e sua mãe passou a tratá-la mal. Agora com 12 anos ela tem oportunidade de mostrar seu talento na Entrega, cerimônia onde as crianças apresentam seu dom mágico e recebem uma missão. E também de resgatar seu pai em Furthermore, uma terra que achava ser lenda. Só que terá que acompanhar Oliver, um garoto que ela odeia. É impossível não sentir uma vibe de Alice no País das Maravilhas, uma vez que as duas protagonistas têm o mesmo nome e embarcam em uma aventura por uma terra que beira o bizarro. Mas diferente da personagem de Lewis Carroll, a Alice de Tahereh Mafi possui um objetivo. E as pessoas com quem ela se depara são muito mais perigosas do que a Rainha de Copas.
Também não está sozinha, embora inicialmente ela não goste e nem confie em seu companheiro de viagem. E pra falar a verdade, como li A Magia do Inverno antes achei interessante a forma como Mafi construiu a amizade de Alice e Oliver do zero. Já que o livro seguinte já mostra os dois como grandes amigos. Enfim, é bom ver uma personagem que além de uma jornada de aceitação e amadurecimento aprende a ter uma nova perspectiva sobre os outros.
Mas uma das coisas que mais gostei nesses livros é que Mafi não é daquelas pessoas que ao escreverem um infantojuvenil parecem duvidar da capacidade de seus leitores. Tendo a concordar com C.S. Lewis quando disse que “uma história infantil que só pode ser apreciada por crianças não é uma boa história infantil”, e tenho preguiça de autores que relativizam a capacidade das crianças. Claro que conforme a idade a escolha de palavras e frases precisa ser cuidadosa, mas penso que o estímulo intelectual amplia a compreensão. E Mafi faz isso na escrita e na construção da narrativa, inserindo mensagens pertinentes de forma inteligente. O que mais uma vez me fez achar a capa original mais condizente com a trama.
Infelizmente, mais uma vez achei o desfecho apressado. O que é uma pena, já que o livro é quase todo impecável. Fico com vontade de ler os livros adultos e young adult de Tahereh Mafi para ver se só acontece nos infantojuvenis. De qualquer, Além da Magia é muito bom.
Nota: 8,8
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