Obsessão: Uma boa distração com cara de tela quente

A arte sempre se interessou em explorar a temática da obsessão. Seja no cinema, na música, na literatura, nas séries ou qualquer que seja o objeto artístico, esse assunto sempre esteve em voga. E se é algo que tornou-se tão comum é porque, com certeza, gera interesse nas pessoas, causa tensão, provoca e até mesmo, pode criar empatia com o público.

Afinal, obsessão é uma palavra tão ampla que pode ser usada para caracterizar um sentimento de foco extremo, a ponto de ser visto como algo doentio, por inúmeras coisas e, não necessariamente só por pessoas ou relações, como costuma ser mais visto na mídia e na arte em geral.

Dessa forma, é um tema que muita gente se identifica, em menor ou maior grau. Até porque, tem variados níveis de obsessão. É claro que nenhum deles é saudável, porém nem todos extrapolam os limites da sanidade, como é visto no filme estrelado por chloe Grace Moretz e Isabelle Hupert.

Alguns tipos de obsessão podem ser controlados, amenizados e outros não. E esses segundos acabam se transformando em algo muito perigoso tanto pra quem sente quanto pra quem está ao redor.

No longa Obsessão, lançado esse ano, com direção de Neil Jordan (o mesmo de Entrevista com o Vampiro, longa de 1994), vemos o que acontece com Frances (Chloe Grace Moretz) ao encontrar por acaso, uma bolsa com endereço e telefone, perdida no metrô. Ao ver as informações sobre a dona, a garota vai na casa dela entregar pessoalmente, conhecendo, assim, Greta (Isabelle Hupert), uma viúva solitária.

Como ambas se sentiam sozinhas— já que Frances perdeu a mãe recentemente e não possuía muito contato com o pai, enquanto Greta perdeu o marido e sua única filha morava em outro país— elas acabam se aproximando muito rápido, de maneira que até causa estranheza para Erica (Maika Monroe), amiga de Frances.

Mas se fosse só esse fato isolado não teria problema, já que faz total sentido. Frances buscava uma mãe e Greta procurava uma filha, então é normal que uma tenha enxergado o que precisava na outra. Até aí tudo bem. Só que em relação a Greta, era muito mais do que isso.

O filme poderia ter sido melhor desenvolvido se ao invés da loucura da viúva ser descoberta logo no início pela garota, ela tivesse demorado um pouco mais a descobrir a verdade sobre a “amiga”— ou ao menos ter perdoado-a depois da justificativa dada por ela— e com isso, ser manipulada por ela, ainda que todos tentassem fazê-la enxergar a verdade.

Talvez assim, o roteiro pudesse ficar mais interessante e com menos cara daqueles filmes que passam na tela quente da globo, que até podem ser capazes de prender nossa atenção e nos distrair por algumas horas, mas em contrapartida, repetem um clichê atrás do outro, sem trazer nenhum elemento surpresa.

Uma boa maneira de ter evitado isso além de deixar para a protagonista enxergar a realidade só perto do final do longa, seria também, ter humanizado pelo menos um pouco a personagem de Hupert. Nem todo filme que tem a obsessão como temática central precisa ter um psicopata como antagonista, não é uma obrigação apesar de ser uma ideia tão enraizada.

Afinal, obsessão é algo humano. É um sentimento pesado, mas que pode ser tratado com auxílio de ajuda especializada e disposição do obsessivo em querer melhorar, independente do objeto que causa tal obsessão. As pessoas podem ser obcecadas por algo ou alguém e serem ao mesmo tempo bastante empáticas, uma coisa não anula a outra como a arte na maioria das vezes, parece querer propagar.

Se a justificativa que Greta dá para Frances sobre as bolsas encontradas no armário fosse totalmente verídica (Porque em partes é) e se a relação dela com a filha fosse diferente, o público poderia até se compadecer de seu sofrimento. Porque a princípio parecia que era apenas uma mulher solitária usando de meios incomuns a fim de encontrar uma companhia para preencher um vazio.

Se fosse só esse seu objetivo,[INÍCIO DE SPOILER] espalhar bolsas com seu endereço e telefone pelos vagões do metrô [FIM DE SPOILER], seria até compreensível dadas as circunstâncias. Não caberia a ninguém julgá-la, apenas entendê-la.

Entretanto, infelizmente, não é por esse caminho que o roteiro desejou seguir. Preferiu seguir a fórmula tradicional ao invés de correr o risco de investir no novo. O que também é compreensível, se levarmos em conta que o propósito era ser um filme sobre perseguição e por isso, praticamente sua uma hora e quarenta minutos de duração giram em torno disso, afinal o foco é esse.

Se demorasse um pouco mais para as intenções de Greta serem reveladas para a protagonista, seria um filme sobre manipulação e não sobre assédio. O resultado poderia ficar mais interessante e instigante? Poderia. Mas o objetivo do roteiro, ao que parece, era ser da forma que foi feito mesmo. Portanto, por outro lado, não dá pra dizer que não cumpriu com o que foi proposto.

O ponto alto do longa é a atuação das duas atrizes que não deixa a desejar em nenhum momento, muito pelo contrário. Se não fosse por elas (principalmente Isabelle Hupert com sua loucura exacerbada — O que parece ter sido proposital para destacar a insanidade de Greta mesmo e, não um exagero, tendo em vista todo o contexto e desenvolvimento da personagem que foi construído ali —), Obsessão passaria batido, seria apenas mais um thriller que se propõe a ser psicológico, com repetições já saturadas do gênero.

Nota: 7

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