‘Stranger Things’ perde fôlego e aumenta terror em volume 1

Primeira parte da penúltima temporada abusa de auto-referências, verborragia e refaz o próprio passado

Os fãs dos X-Men lembram bem: quantas vezes a origem de Wolverine não foi reinventada em flashbacks que contradiziam a si mesmos sempre deixando o leitor tão confuso quanto o próprio Logan? Em algum momento, o mistério virou bagunça e ninguém mais ligou muito para afinal de contas de onde tinha vindo o mutante com tantos retcons, palavra que define um elemento do passado que é incluído na narrativa para explicar um conflito que não estava na trama. Foi com um imenso retcon sobre o passado de Eleven (Millie Bobby Brown) que o volume 1 da quarta e penúltima temporada de Stranger Things chegou ao ar.

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Sem superpoderes, Jane/Eleven precisa esclarecer lembranças do seu próprio passado para tentar recuperar sua força e defender a pequena cidade de Hawkins, mais ameaçada do que nunca por um misterioso mal que se abriga no Mundo Invertido e tem assassinado adolescentes. No meio de tantos flashbacks, ela lembra a amizade com Henry (Jamie Campbell Bower), um enfermeiro do laboratório que assumiu ares de mentor para a jovem paranormal embora ela jamais lembrasse disso.

É claro que a série dos irmãos Duffer se preocupa em explicar porque Eleven não se recordava de seu primeiro mestre. Mas também é óbvio que essa explicação surge agora apenas porque a série continuou para uma quarta temporada, que não dá a menor pinta de que era o plano original e nem que era tão necessária. O sinistro Vecna é um inimigo respeitável, mas tirado da cartola e Stranger Things passa a abusar da verborragia para explicar como os conflitos são resolvidos, um recurso de rádio e não TV com direito a diálogos loooongos e pseudocientíficos. Até aí, tudo bem. É uma produção de ficção científica. Mas a história poderia buscar ir além da repetitiva jornada de Eleven e seus poderes com seus amigos tentando salva-la.

Aliás, quem está tentando salvar quem? Afinal, ao fim do episódio são três tramas paralelas. De um lado, quem ficou em Hawkins se divide entre os que buscam salvar Eleven, os que buscam descobrir como matar Vecna e… O trio que tenta salvar Hop, na União Soviética. Esta última trama parece ser a única realmente animada e que faz jus a série.

Mesmo os novos personagens como o próprio Henry e Eddie (numa maravilhosa atuação de Joseph Quinn) acabam apagados diante de tanta repetição. A solução? Intensificar as cenas de horror, que sempre aconteceram. Mas Stranger Things acaba virando um pastiche de si mesmo e assustando apenas quem vai ao cinema dar gritos. Em alguns momentos, parece inspirada pela trilogia Rua do Medo.

Os fãs podem adorar a quarta e última temporada. E, afinal de contas, todo esforço deve prioriza-los. Mas uma série que coleciona tantas premiações e indicações, deveria se preocupar em respeitar mais… Sua própria história. Se você não for fã, pode dispensar este volume 1 ao menos até que o volume 2 faça tudo isso valer a pena. Quem sabe?

Nota: 6

Confira o trailer da última temporada de Stranger Things:

 

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