Primeiro musical do Globoplay, ‘Vicky e a Musa’ é um respiro

Comédia musical traz enredo alegre e delicioso.

Nos últimos anos Rosane Svartman tem escrito novelas de sucesso para o horário das 19h da TV Globo, além de ter seu nome envolvido em filmes premiados. O fato de tê-la como criadora foi o que primeiro me motivou a conferir Vicky e a Musa, série de comédia musical que estreou no Globoplay em 19 de julho. E o que eu vi é um manifesto de amor à arte.

Vicky (Cecília Chancez) é uma adolescente que deseja ser cantora, apesar da contrariedade da mãe. E o afastamento de sua melhor amiga Luara (Tábatha Almeida) a desanima ainda mais. Mas é depois de uma aula de História sobre as musas da mitologia grega que as coisas começam a mudar: Vicky pede à Euterpe, musa da música, que a inspire. Eis que a filha de Zeus (interpretada por Bel Lima) resolve aparecer em carne e osso no bairro de Canto Belo para atender o pedido, e mudar tudo com o poder da música.

Por ter sido uma jovem que adorava releituras mitológicas, principalmente a série literária Percy Jackson e os Olimpianos de Rick Riordan, confesso que fiquei muito curiosa pra ver como seria a abordagem brasileira dos deuses gregos. E me surpreendi positivamente. Ver Euterpe e Dionísio (Tulio Starling), o deus do teatro que veio de gaiato com a irmã, convivendo com humanos no subúrbio carioca é hilário. Especialmente vendo-os aprender gírias e a usar redes sociais.

Porém, o mais impactante é vê-los mudando toda a dinâmica social do bairro através da arte. É que para ajudar Vicky, Euterpe passa a dar aulas gratuitas em um teatro abandonado que fechou durante a pandemia. De início a garota vai sozinha, mas com o tempo mais e mais amigos passam a frequentar as aulas. E o passatempo vira um aprendizado de expressão e amor-próprio. “Arte começa com ‘ar’. A gente não vive sem ar, sem arte também não” diz Euterpe em dois momentos. A afirmação da musa é verdadeira para os personagens e para o telespectador. Pois se ora a arte serve de escapismo, ora serve como grito de reivindicação. Ambos essenciais.

O fato é que apesar de ser voltado para o público jovem adulto, Vicky e a Musa tem potencial para agradar a todos. Os personagens são complexos, possuem conflitos interessantes e trazem temas relevantes como luto, amizade, relacionamentos mal resolvidos e autoaceitação. A abordagem desse mundo pós-pandemia também ajuda a nos envolver na trama, pois assim como os moradores de Canto Belo sofremos com a perda de entes queridos, muitos perderam emprego e precisaram se reinventar, e estabelecimentos culturais foram fechados. O bairro ficou sem graça, bem como o mundo. A arte é a magia que trouxe a vida de volta.

O clima e a estética não podiam ser mais adequados. Drama e leveza se equilibram bem, alternando os conflitos com alívio cômico. A escolha dos figurinos também foi certeira, com os jovens usando tendências da moda enquanto Euterpe e Dionísio usam roupas coloridas de aspecto teatral para se misturar com os humanos. Os efeitos usados nos momentos em que ambos usam seus poderes divinos são simples mas eficazes, o que foi uma escolha certa.

E a música… Ah, a música embala tudo com perfeição. A trilha original composta por Cassiano Andrade e Daniel Musy é linda, e os covers de músicas populares brasileiras não deixam por menos. Com um repertório bem eclético, que vai de Gilberto Gil a Giulia Be, passando por Roberto Carlos e Iza e incluindo As Bachianas nº5 de Heitor Villa-Lobos, a série nos lembra de como nossa música é rica. Todas com interpretações esplêndidas. Nem todos ótimos atores, mas todos excelentes cantores.

Mas eu falei que a série é voltada para o público jovem adulto? Bem, essa versão do Globoplay é. Acontece que Vicky e a Musa foi concebida vislumbrando mídias diferentes, e haverá uma versão para o canal por assinatura Gloob voltada para o público infantil. Ainda não foi divulgada uma data para o lançamento dessa versão, mas deve chegar apenas em 2024. O que se sabe até agora é que os conflitos serão suprimidos, terá uma forte trilha infantil, clipes exclusivos e animação. Seria curioso assistir as duas versões e comparar. Mas eu não tenho Gloob.

Vicky e a Musa é uma criação de Svartman, que escreve com Bia Corrêa do Lago, Juliana Lins, Rafael Souza Ribeiro e Sabrina Rosa. Com direção de Ana Paula Guimarães e direção artística de Marcus Figueiredo. A 1ª temporada possui 13 episódios, dos quais 7 foram disponibilizados no Globoplay em 19 de julho e no mesmo dia os 3 primeiros foram exibidos na Sessão da Tarde. Os 6 episódios restantes foram liberados na plataforma no dia 26, concluindo ganchos importantes e deixando outros para a 2ª temporada que já tem data de estreia: 20 de dezembro de 2023. No mesmo esquema, em que 7 episódios serão disponibilizados neste dia e mais 6 uma semana depois, no dia 27. É um entretenimento leve e divertido que não esquece a reflexão, e que recomendo muito que assista.

Nota: 8,5

Confira o trailer:

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