‘Pinóquio, por Guillermo del Toro’ é sombrio, emocionante e encantador

Filme leva personagem clássico a período sombrio da humanidade.

Depois de 15 anos de planejamento e trabalho o cineasta Guillermo del Toro pode, enfim, lançar sua versão de Pinóquio. Filme que chegou ao Netflix em 9 de dezembro depois de um mês em cartaz em cinemas selecionados. A dificuldade em encontrar um estúdio que bancasse o projeto, o tempo requerido por uma produção em stop motion e, por fim, a pandemia explicam a demora entre idealização e lançamento. Mas o resultado é esplêndido.

O fato do filme se chamar Pinóquio por Guillermo del Toro (Guillermo del Toro’s Pinocchio) não poderia ser mais apropriado. Acontece que a produção não se resigna em ser apenas uma adaptação do livro de Carlo Collodi. E não só uma releitura com sua perspectiva, mas ter a marca visual e emocional de del Toro justificam isso.

A questão é que transportar a história para a década de 1930, durante o governo de Mussolini, lhe deu um novo significado. Como del Toro disse à AFP no AFI Fest:

Queria um momento em que se comportar como uma marionete fosse algo bom. Queria que Pinóquio fosse desobediente. Queria que Pinóquio, que era a única marionete, não agisse como uma marionete. Pensei que tematicamente isso era perfeito.”

Por esse aspecto, o filme se torna bastante oportuno ao momento em que vivemos. Mas o período de ambientação sempre esteve lá, desde a concepção do projeto. “É algo que me preocupa porque é algo ao qual a humanidade parece voltar”, o cineasta explicou na mesma entrevista. “Sempre vi isso. O fascismo está sempre vivo no fundo ou em primeiro plano.”

Para além disso, levar o personagem a um período de guerra contribuiu para manter o clima sombrio do conto original e serviu de entrada para a abordagem do luto. Geppetto (David Bradley) deixa de ser o artesão bondoso que nos acostumamos a ver em tantas adaptações para se tornar um homem consumido pela dor da perda. Que não constrói Pinóquio (Gregory Mann) com cuidado e esmero, mas em um ato de fúria desesperada para preencher o vazio deixado pela morte de um filho.

A gentil Fada Azul deu lugar ao Espírito da Floresta e à Morte (ambos com voz de Tilda Swinton). Personagens que não só parecem fazer mais o estilo de del Toro como se encaixaram melhor no conceito do filme, também ajudando a ressignificar a história. E o Grilo Falante (Ewan McGregor) deixou de ser a eterna voz da consciência, tornando-se uma síntese do “ninguém é tão inteligente que não tenha nada a aprender”.

Em suma, o filme poderia ser só uma bela adaptação em stop motion. Porém, o roteiro de Guillermo del Toro e Patrick McHale trouxeram uma profundidade e significado próprios para a história. A bela trilha sonora de Alexandre Desplat ajuda a dar o tom e exacerba as emoções. A direção de del Toro e Mark Gustafson é assertiva. Então, seja por motivos filosóficos ou artísticos, motivos para assistir Pinóquio por Guillermo del Toro não faltam.

Nota: 10

Confira o trailer:

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