‘Passaporte para Liberdade’ é sobre coragem em tempos difíceis

Aracy de Carvalho arriscou a vida para fazer o certo.

Aracy de Carvalho Guimarães Rosa é um dos poucos nomes brasileiros (além de Luiz Martins de Souza Dantas) a integrar a lista de Justos Entre as Nações. Pra quem não sabe, Justos Entre as Nações são os não-judeus reconhecidos por ajudarem a salvar a vida de judeus durante a II Guerra Mundial. E é a luta de Aracy para salvar vidas que vemos em Passaporte para Liberdade, minissérie exibida pela TV Globo no finzinho de 2021.

Aracy de Carvalho (Sophie Charlotte) se mudou com o filho para Hamburgo em 1935, onde trabalhava no Consulado brasileiro. E desde que Hitler assumiu o poder e começou seu programa de “higienização” da Alemanha que Aracy facilitou a retirada de vistos por judeus. Não sem burlar algumas regras, uma vez que Getúlio Vargas (Presidente do Brasil na época) era simpatizante de governos autoritários. Mas também foi lá que ela conheceu João Guimarães Rosa (Rodrigo Lombardi), cônsul adjunto e escritor que se tornaria seu marido.

Misturando fatos reais com ficção, Passaporte para Liberdade é uma joia da televisão nacional. Primeira produção brasileira rodada totalmente em inglês, por conta da parceria entre Globo e Sony Pictures que visou o mercado internacional. Contando também com elenco de diversos países como Peter Ketnath, Stefan Winert e Tomas Sinclair Spencer da Alemanha, Jacopo Garfagnolli da Itália, Izabela Gwidzak da Polônia, Sivan Mast de Israel e Brian Townes dos Estados Unidos. Mas por mais que todas as atuações tenham sido primorosas, vale destacar o trabalho de Sophie Charlotte que saiu de sua zona de conforto para ser Aracy.

Mesmo com gravações interrompidas e outros desafios decorrentes da pandemia, a minissérie é um show de minucias. Cenários, figurinos, efeitos, tudo muito bem planejado e executado para conferir realismo. Impossível assistir a representação da Noite dos Cristais (Kristallnacht) e as cenas de bombardeios sem sentir o coração apertar.

Mas além da pandemia houve polêmica. Quando a produção já estava em andamento foi lançado o estudo Judeus no Brasil: História e Historiografia, dos historiadores Fábio Koifman e Rui Afonso. Tal estudo questiona a alcunha de Anjo de Hamburgo dada à Aracy, alegando que ela não teria feito nada de anormal para salvar os judeus. Pode ser por isso que cada episódio é encerrado com depoimentos de descendentes de imigrantes que tiveram seus vistos facilitados por Aracy. Histórias emocionantes que nos fazem acreditar na coragem que alguém precisa ter para fazer a coisa certa.

Passaporte para Liberdade teve oito episódios exibidos entre 20 e 30 de dezembro com ótima audiência. Livremente baseada no livro Justa – Aracy de Carvalho e o Resgate de Judeus: Trocando a Alemanha Nazista pelo Brasil da historiadora Mônica Raisa Schpun, a minissérie tem autoria de Mário Teixeira com colaboração de Rachel Antony. A direção é de Seani Soares e direção-geral e artística de Jayme Monjardim. Já a produção-executiva ficou por conta de Silvio de Abreu, Monica Albuquerque e Elizabetta Zenatti com a produtora Floresta.

É uma pena que uma produção tão rica tenha sido relegada a um horário pouco acessível, talvez seja a hora dos canais abertos reverem suas grades. Mas a minissérie completa já está disponível no Globoplay para ser assistida a qualquer hora e em qualquer lugar.
Nota: 9

Confira o trailer:

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