‘Onde Está Meu Coração’: falhas, mas aborda assunto importante

Debater o abuso de drogas é o trunfo da minissérie

É engraçado pensar como em pleno 2021 alguns assuntos continuam sendo tabus. O vício em drogas e em álcool é um deles, sempre visto como um problema particular. “Um problema dos outros”, e não da sociedade ou de saúde pública. Onde Está Meu Coração dá um passo em direção a tentar mudar essa perspectiva.

Amanda (Letícia Colin) é uma médica residente em emergência de um hospital de São Paulo que se vicia em crack. Ser de família rica, ter um bom casamento, ser bem-sucedida na profissão e morar em um bom apartamento não a impedem de se viciar na droga. E durante os altos e baixos da batalha contra o vício, vemos o quanto família e amores sofrem até que Amanda se recupere.

O drama de médicos que se viciam em drogas não é novo na TV. Dois exemplos são o Dr. Gregory House (Hugh Laurie) de House M.D., e o Dr. Evandro (Júlio Andrade) de Sob Pressão. Mas enquanto os dois se viciam remédios para suportar a dor ou o stress do trabalho (o que de certa forma os tornam mais “aceitáveis” para o grande publico), a Dra. Amanda se vicia numa droga ilegal e cheia de estigmas. O que foi um grande acerto dos criadores George Moura e Sérgio Goldenberg. Pois ao trazer o crack para dentro de uma família de classe alta, se mostra que esse é um problema de todos.

Onde Está Meu Coração: Amanda e os pais em sua primeira internação

É preciso dizer que Letícia Colin é uma das jovens atrizes mais talentosas da TV brasileira. Ela entrega uma atuação impecável, se doando à personagem completamente. A abstinência, paranoia, a gangorra de depressão e euforia… Nada disso passou batido pela atriz, que além de excelente profissional deu provas de empatia. Letícia foi junto com Fábio Assunção (que interpreta seu pai, David) a uma reunião dos Narcóticos Anônimos e visitou a Cracolândia. Em entrevista ao site Notícias da TV ela disse:

Eu não estive lá como quem vai a um zoológico. Eu conheci as pessoas, fui pra ouvir, escutar. Respeito profundamente cada pessoa que me deu um minuto de atenção. Vejo como meus filhos, meninos e meninas na rua pedindo dinheiro, tentando conseguir alguma coisa ou fumando. Acho que o mundo seria um lugar melhor se a gente entendesse que eles são nossos filhos, são filhos do Brasil, cidadãos. Isso me dói muito. Nós deveríamos cuidar uns dos outros. A Cracolândia me ensinou isso.

Além de Fábio Assunção, Letícia divide tela com outros grandes atores como Daniel de Oliveira (o marido, Miguel), Mariana Lima (a mãe, Sofia) e Manu Morelli (a irmã, Júlia). Os cinco atores, junto com um bom elenco de apoio, demostram todas as dificuldades e angústias pelas quais a família de alguém que faz abuso de drogas passam. Desde ficar procurando culpados até não saber sequer se a pessoa está viva.

Mas Onde Está Meu Coração está longe de ser perfeita. Além de parecer ter episódios de mais ao mesmo tempo em que passa a sensação de que o problema de Amanda se resolve muito rápido (o que gera certo paradoxo), a série cai em certos clichês novelescos. Como o fato de David ter um caso com assistente, e Miguel se envolver com uma femme fatale obsessiva. Porém, o que mais incomoda é a falta de aproveitamento da subtrama envolvendo Júlia. Em certo momento parece insinuar-se que a personagem possui um transtorno de personalidade, mas não o deixa claro. Inclusive no último episódio teve uma cena que não ficou claro se realmente aconteceu ou se foi criação da mente da moça. Negligenciando também as consequências que o fato teria, de uma forma ou de outra, para os envolvidos.

Contudo, a série se torna bastante válida pelo simples motivo de trazer a tona um assunto tão crítico. É debatendo e entendendo as raízes de um problema que podemos realmente combatê-lo. Onde Está Meu Coração tem dez episódios, disponíveis no Globoplay desde 4 de maio.

Nota: 7,5

Confira o trailer:

 

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