‘O Livro dos Cinco Anéis’ é uma lição de artes marciais

Tratado de Myamoto Musashi não é um livro de empreendedorismo como CEOs gostam de afirmar

No nosso Desafio Literário do mês de abril, O Livro dos Cinco Anéis entra por ter sido escrito por um autor asiático. A publicação acabou adotada por CEOs, empreendedores e coaches do mundo inteiro que abusam de suas lições sobre estratégia para seu mundo. Mas é muito mais do que isso. Quando Myamoto Musashi escreveu seu tratado, pensava em um mundo onde samurais deixavam de existir mas seus serviços ainda poderiam ser requisitados e queria ensinar-lhes como vencerem todas as batalhas individuais que lutariam. Como ele fez.

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Muitos empreendedores assimilaram e leram só o que quiseram e esqueceram do resto, tornando a sabedoria oriental do maior samurai de todos os tempos algo pedante e sacral. Vale a pena ler O Livro dos Cinco Anéis e formar sua própria opinião. Aliás, um dos trechos bastante instrutivo de Musashi é o seguinte:

“Se olharmos para o mundo, veremos artes à venda. O homem usa equipamentos para vender seu próprio eu. Como se, pondo-se lado a lado a noz e a flor, a noz fosse menos importante que a flor. Nesse tipo de Caminho da Estratégia, tanto os que ensinam quanto os que aprendem o Caminho se preocupam em colorir e exibir sua técnica, tentando apressar o florescimento. Eles falam “Deste Dojo” e “Daquele Dojo”. Eles buscam o lucro. Alguém já disse que “A estratégia imatura é causa de dor”; o ditado é verdadeiro”.

O Livro dos Cinco Anéis é uma jornada de auto-conhecimento que você pode assimilar o melhor se quiser. Troque “lança” ou “alabarda” por “guitarra” e “bongô” e faça as adaptações necessárias e, talvez, as lições ainda estejam lá. Esteja preparado para os desafios em ambientes fechados ou abertos e não tenha uma arma (ou seria instrumento?) favorita porque isso limita sua versatilidade.

São lições que você pode usar na vida pessoa, profissional e artística se quiser. Porém, entender como metáfora tem um limite. No capítulo “Os Cinco Enfoques”, por exemplo, Musashi explica porque o domínio da espada longa é o primeiro objetivo de um samurai e que sequência de golpes você deve buscar para derrubar qualquer adversário. Não é algo que funcione nos negócios ou nas artes. Apenas com espadas.

O último texto de Myamoto Musashi não é um tratado neoliberal ou de empreendedores porque é uma jornada para que você aprenda como lutar, numa visão ora muito particular e ora muito confuncionista. Faz tanto sentido tratar esse livro como essencial aos empreendedores quanto encarar o Tao do Jet Kune Doo, de Bruce Lee como um livro sobre startups, por exemplo.

Nota: 10

Todo mês, o POPOCA movimenta o site e a crítica literária com o Desafio Literário, que analisa livros por tema. Este mês o tema são livros de autores asiáticos. Se você quiser participar com seu site ou enviar um texto, entre em contato com site[arroba]popoca.com.br. Clique aqui para conferir os nossos textos mais recentes.

 

 

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