O insosso fim de ‘Carnival Row’

Uma despedida que deixa apenas a saudade do que não foi.

Depois de um intervalo de 42 meses (!), o Prime Video lançou a 2ª e última temporada de Carnival Row. Com dez episódios lançados de dois em dois entre 17 de fevereiro e 17 de março, a série que possuía uma mitologia rica e interessante acabou tendo um final apressado e incoerente.

Apesar das críticas bastante diversas, a 1ª temporada tinha seus méritos. Afinal, era uma ótima história que usava da fantasia como analogia ao preconceito e desigualdade em uma sociedade hipócrita. Contendo personagens com quem você se importava e uma ambientação maravilhosa. Era promissora, e a Amazon chegou a anunciar a renovação antes mesmo da estreia da série. E havia conteúdo para algumas temporadas.

Mas aí veio a pandemia de Covid-19, adicionando muito mais tempo que o esperado para uma produção repleta de efeitos. Os próprios produtores perceberam que não era mais possível manter tantos atores e sets. Erik Oleson relata que quando a Amazon decidiu que seria o fim, providenciaram os recursos para uma conclusão satisfatória. O que me faz questionar o que esse pessoal entende por “conclusão satisfatória”.

Assistindo à temporada final de Carnival Row, é visível o quanto esse desfecho foi apressado. O contexto político, antes um rico pano de fundo, tomou conta da situação e a história ficou em segundo plano. Um pecado mortal em uma narrativa. Porque aqueles personagens por quem você sentia empatia ou desprezo viraram peões em um tabuleiro. Tornando irrelevante quem vivia e quem morria.

Isso ocorreu porque existiam muitos personagens em muitos núcleos. Pode funcionar em uma história longa, mas quando é preciso encerrar essa trama complexa em 10 episódios é impossível encaixar tudo de forma coerente. Até o protagonismo de Vignette (Cara Delevingne) e Philo (Orlando Bloom) se perdeu. Não só por deixarem de serem um casal em dois episódios, mas por simplesmente “se deixarem levar”.

Tourmaline (Karla Crome), outrora tão forte, se tornou refém de estranhas visões. Imogen (Tamzin Merchant) e Agreus (David Gyasi) até conseguiram manter um pouco do brilho, mas apesar de terem o tropo mais interessante também já não estavam mais no comando dele. Do resto nem vale a pena falar.

A ambientação bonita e frases de efeito não bastaram. Tiraram a alma dos personagens, que basicamente encenaram um desfecho pobre e mal ajambrado. Se é que dá pra chamar de desfecho, já que muita coisa ficou mal resolvida. E o pior é que parece ser apenas um pedaço de um problema maior.

A verdade é que a Amazon parece não saber mais o que fazer com seus estúdios. O número de produções caiu, e a qualidade também. Séries milionárias são lançadas, e, sem a publicidade adequada, logo são canceladas com a desculpa de não terem audiência. Sempre se atribui culpa à pandemia, que, embora tenha mesmo afetado tudo que é referente à cultura e ao entretenimento, não explica o descaso dos estúdios Amazon. E teremos que lidar com isso até que parem de brincar de fazer séries e filmes para realmente fazê-los.

Nota: 6

Confira o trailer:

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