Novo filme de Tico e Teco é um milagre paradoxal

Filme é uma deliciosa surpresa em meio a tantos “mais do mesmo”.

Quando assisti ao trailer de Tico e Teco: Defensores da Lei (Chip ‘n Dale: Rescue Rangers), logo pensei que o filme seria muito bom ou muito ruim. Tratei de assistir logo na estreia, dia 20, no Disney+. E embora não seja excelente, com certeza é refrescante.

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Após o repentino fim da série de TV, Tico (John Mulaney) e Teco (Andy Samberg) passaram trinta anos sem se verem. Mas quando o antigo colega de elenco Monty (Eric Bana) desaparece, vítima da gangue responsável pelo desaparecimento de vários outros desenhos, os amigos precisam se unir para resolver esse mistério.

Se andamos criticando a falta de criatividade de Hollywood que cada vez mais vem apostando na indústria da nostalgia, priorizando fórmulas batidas em prol da inovação e qualidade, esse não é o caso aqui. O que chega a ser irônico, já que o público-alvo de Tico e Teco: Defensores da Lei são os nostálgicos fãs dos esquilinhos criados em 1943. (Que são muito melhores que aqueles outros três esquilos cujos nomes não serão mencionados.) Mais especificamente aqueles que cresceram entre as décadas de 1980 e 1990, assistindo a série animada da qual o filme leva o nome. E critica justamente essa infindável onda de sequências, derivados e reboots.

A verdade é que acertaram em não fazer um simples sequel da série, mas criar uma história onde Tico e Teco (e todos os outros personagens animados) são atores. Ao mesmo tempo em que contracenam com atores (e até alguns animais) de carne e osso. Isso abriu muitas portas para satirizar o que há de errado com Hollywood, sobrando até pra própria Disney. Todo mundo está questionando como o estúdio deixou esse filme passar.

E se alguns apontam Tico e Teco: Defensores da Lei como uma espécie de “sucessor espiritual” de Uma Cilada para Roger Rabbit (Who Framed Roger Rabbit), o elogio não é exagero. Claro que os enredos são bastante distintos, compartilhando apenas o fato de mesclarem conhecidos personagens animados e humanos em uma bizarra trama investigativa. E o coelho azarado do filme de 1988 chega a fazer uma participação aqui. A linha narrativa não chega a ter o mesmo nível de excelência, mas herdou a sagacidade das sátiras.

Entre os acertos também está o fato de trazer o Sonic Feio (Tim Robinson). Sim, aquele rejeitado pelo público. (Aqueles dentes… Brrr!) O ouriço azul de dentes humanos rouba a cena quando aparece. Trazer um velho e barrigudo Peter Pan como o vilão Sweet Pete (Will Arnett) foi além de criativo uma sábia crítica tanto à indústria do cinema quanto ao público, já que ambos rejeitam tudo aquilo que envelhece. Dentro dessa crítica dupla também está a “cirurgia CGI” de Teco, pois “é isso que o mercado exige”.

Já que o filme mistura animação com live action, é impossível não falar de Ellie (KiKi Layne). A policial humana que ajuda Tico e Teco extraoficialmente mistura em harmonia uma forte personagem feminina com alguém que fica com os olhos brilhando ao ver os ídolos da infância. Me fazendo lembrar da criança que um dia eu fui, que assistia Roger Rabbit e Space Jam imaginando se existiria um mundo onde seres de carne e osso e desenhos animados pudessem coexistir.

Tico e Teco: Defensores da Lei tem roteiros de Dan Gregor e Doug Mand com direção de Akiva Schaffer. É um filme inteligente por ironizar aquilo que permitiu sua existência, e refrescante por ser criativo com personagens e contextos reciclados.

Nota: 8,5

Confira o trailer:

 

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