Filme ‘O Acidente’ é um chamado para reflexão

Trama esboça necessidade de empatia e afeto

No dia 24 de agosto entrou em cartaz em alguns cinemas selecionados O Acidente, filme que marca a estreia de Bruno Carboni na direção de longas. A produção já participou de competições prestigiadas, levando o prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Pequim. E mais recentemente venceu os de Melhor Atriz, Melhor Roteiro e Direção de Arte na mostra de longas gaúchos no 51º Festival de Cinema de Gramado. Reconhecimentos merecidos.

Ao ser cortada em uma via movimentada, a ciclista Joana (Carol Martins) acaba confrontando a motorista Elaine (Gabriela Greco). Esta, por sua vez, decide não ceder e arrasta a moça por alguns metros no capô do carro. Joana tenta esconder o ocorrido de sua companheira Cecília (Carina Sehn), sem imaginar que o filho de Elaine, Maicon (Luis Felipe Xavier), filmou tudo e publicou na internet. Esse acidente acaba aproximando as duas famílias de forma inimaginável.

Me interessei pela premissa, mas principalmente por saber que Carboni se inspirou em um vídeo real. Uma motorista realmente carregou uma ciclista em seu capô, e, assim como no filme, ninguém se machucou. “Talvez aquele vídeo fosse menos chocante do que se vê nos noticiários, entretanto, aquele pequeno incidente me parecia representar um certo sentimento de inimizade no ar, fruto da polarização política que dividia a sociedade brasileira e impossibilitava qualquer tentativa de diálogo”, disse ele. O filme foi gravado em Porto Alegre em 2019, um ano após as eleições presidenciais.

Ao assistir O Acidente é perceptível o retrato de um mundo onde ninguém mais se importa com o outro. As pessoas que se aproximam de Joana após cair do capô perguntam se “está tudo bem” mais por obrigação do que para de fato ajudá-la. Cléber (Marcello Crawshawn), ex-marido de Elaine, procura Joana para que ela deponha a favor dele no processo de guarda de Maicon. E Elaine se obriga a pedir desculpas por medo do acidente prejudicá-la no tribunal, não por arrependimento.

No entanto, a amizade que surge entre Joana e Maicon representa a necessidade de empatia e afeto que vivemos. Ela, grávida, se põe no lugar do menino sensível e solitário que virou instrumento de barganha no divórcio dos pais. E ele encontrou nela alguém que consegue compreender e que o compreende. Uma das relações de amizade mais bonitas que vi em um filme recentemente.

Trama de O Acidente esboça necessidade de empatia e afeto em sua história
Trama de O Acidente esboça necessidade de empatia e afeto em sua história com personagens intimistas e reflexivos

É interessante como percebemos intimamente o que Caborni quis dizer. O sentimento de inimizade e polarização se enraizaram também dentro das famílias. Elaine e Cléber se tornam incapazes de pensar juntos no melhor para o filho, colocando a disputa deles acima do bem-estar do garoto. E Cecilia mesmo amando Joana acaba sufocando-a com sua superproteção devido a gravidez. Desse modo, Joana e Maicon representam aqueles que se sentem sós mesmo entre pessoas que os amam. Que se sentem isolados em um mundo sem empatia.

Intimista e reflexivo, O Acidente traz personagens verossímeis em uma trama sensível e envolvente. O final agridoce e aberto nos faz pensar no rumo que nossa sociedade pode tomar e que só depende de nossas ações.

O roteiro foi escrito por Carboni e Marcela Ilha Bordin. Atualmente, O Acidente pode ser assistido em cinemas nas cidades de Belo Horizonte e Curitiba.

Nota: 8,5

Confira o trailer:

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