Estranho é não gostar de ‘Mundo Estranho’

Animação traz história maravilhosa, mas vem sendo massacrada sem motivos reais.

De vez em quando um filme Disney parece surgir do nada, sem muito marketing. Você navega pela internet e de repente se depara com trailer e ingressos de cinema a venda. Foi mais ou menos o caso de Mundo Estranho (Strange World), que entrou em cartaz no Brasil em 24 de novembro e chegou ao Disney+ em 23 de dezembro. E o triste é ver que o filme está tendo baixa audiência e público pelos motivos errados.

Com direção de Don Hall e Qui Nguyen, o último também responsável pelo roteiro, o filme tem uma vibe meio Júlio Verne. E era realmente a intenção homenagear a literatura pulp, segundo o produtor Roy Conly. Mas o ponto alto da produção é trazer uma história que alia preservação do meio ambiente com conflito de gerações. Sendo que o equilíbrio de um está ligado ao equilíbrio do outro.

No centro de tudo temos três gerações da família Clade: o avô e grande explorador Jaeger (Dennis Quaid), o pai fazendeiro Searcher (Jake Gyllenhaal), e o filho que ainda tenta descobrir seu lugar no mundo Ethan (Jaboukie Young-White). Grande parte dos conflitos entre os três se origina na procura pela salvação de Avalônia, lugar onde vivem. O que acaba sendo um pretexto para dizerem que sabem melhor como o outro deve levar a vida.

Conflitos entre pais e filhos devem existir desde que o ser humano desenvolveu uma linguagem. O mais comum deles provavelmente diz respeito aos pais acharem que sempre sabem o que é melhor para os filhos, mesmo quando estes estão na hora de seguirem seus próprios caminhos. E Mundo Estranho acertou em cheio ao mostrar esses homens que se desentendem por acharem que seus descendentes devem ser também seus sucessores.

Não que sejam maus pais, pelo contrário. Bom, ao menos Searcher é um ótimo pai. E é onde o filme acerta outra vez, pois o personagem mostra que o papel do pai não é apenas prover e/ou proteger. Mas de fato criar o filho. Não de forma maior ou menor que a mãe, mas igual. Á propósito, a mãe de Ethan, Meridian (Gabrielle Union), é mais um acerto do filme por mostrar que uma mulher pode ser uma excelente profissional sem afetar a maternidade, diferente do que muitos vem alegando.
Todo esse contexto e dilema familiar abordados com honestidade e sensibilidade se somam brilhantemente ao fato de Mundo Estranho ter uma das poucas famílias inter-raciais e o primeiro personagem abertamente LGBT+ da Disney. Ambas as características sendo apenas isso, características. E mesmo assim, há quem se atenha a esses fatores para massacrar o filme. Como se fossem pontos negativos. É coisa de gente de mente pequena e sem amor no coração? Sim. Mas infelizmente vem rendendo avaliações baixíssimas e prejuízos. O que é uma pena, pois o filme não merecia isso.

Voltando aos aspectos positivos, há uma mensagem ecológica bonita e oportuna. Ainda melhor por realmente se integrar à trama, sem soar piegas ou didática. Porque é algo que realmente devemos pensar, da mesma forma que os personagens. E falando em personagens, prestem atenção no cão Legend (“Lenda”, em português) e na criatura Splat, são diversões a parte.

Em suma, Mundo Estranho pode não ser a grande inovação que a Disney precisa, mas certamente merecia uma recepção melhor. Pois pessoas antiquadas preferem viver no passado, e criticar um filme pelos motivos errados. Motivos que, pra início de conversa, nem são ruins. Mas se você não é uma dessas pessoas, assista e seja feliz.

P.S.: Mundo Estranho traz a estreia da vinheta comemorativa dos 100 anos dos Estúdios Disney.

Nota: 9

Confira o trailer:

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