Bridgerton: Rainha Charlotte e a diversidade na série

A realidade influenciando a ficção

Todos sabemos que o mais recente sucesso da Netflix, Bridgerton, é delicioso de se assistir. A série que mistura fantasia e história reimagina com louvor a era da Regência Britânica. E trouxe surpresas até para os fãs dos livros de Julia Quinn, que inspiraram a série. Como a Rainha Charlotte (Golda Rosheuvel), que existiu de verdade. Mas quem era ela?

Um pouco de História

Sophie Charlotte de Mecklenburg-Strelitz (1744-1818) foi a rainha consorte do Rei George III (1738-1820), com quem teve quinze filhos. Treze deles chegaram a idade adulta. Filha de Carlos Luís Frederico de Mecklemburgo-Strelitz (1708-1752), Príncipe de Mirow e da princesa Isabel Albertina de Saxe-Hildburghausen (1713-1761). Também era descendente da Família Real Portuguesa, da linhagem de Margarita de Castro e Sousa. Que alguns historiadores afirmam ser um ramo negro da Coroa Portuguesa.

Sim, ainda em 1996 o historiador Mario de Valdes y Cocom levantou indícios de que a Rainha Charlotte seria o primeiro membro da Coroa Britânica com ascendência africana. Sua árvore genealógica leva até a africana Madragana Ben Aloandro (1230-?), amante do Rei Afonso III de Portugal (1210-1279). Com quinze gerações entre elas. Todavia, esses fatos provocam divergências entre os pesquisadores.

Retrato da Rainha Charlotte feito por Allan Ramsay. Segundo Valdes y Cocom, era o pintor que mais evidenciava as feições africanas da monarca.

É bem verdade que o cronista do século XVI Duarte Nunes de Leão (1530-1608) descrevesse Madragana como moura. Como eram chamados os povos vindos do norte da África. Porém, estudos recentes mostram Madragana como Moçárabe ou judia. E enquanto Valdes y Cocom defende que muitas pinturas da Rainha Charlotte apresentam traços negroides, outros apontam que ela seria muito distante de Madragana para herdar seus traços. De todo modo, Charlotte teve uma ascendência miscigenada. E foi esse o ponto de partida para o universo que vemos em Bridgerton.

Reimaginando a Era da Regência Britânica

Quando Shonda Rhimes apresentou os livros de Julia Quinn para Chris Van Dusen, ele se apaixonou. Adorou o fato de serem leves, divertidos e sexys. Mas queria adaptá-los de uma forma que representasse o mundo em que vivemos hoje. E as evidências de que Charlotte teria sido a primeira rainha mestiça da Inglaterra o fez pensar que seria uma boa ideia inseri-la na trama:

Talvez a Rainha Charlotte pudesse ter elevado outras pessoas de cor na sociedade; ela poderia ter dado a eles títulos, terras e ducados. Essa é realmente a ideia de que o Simon da série nasceu, e acho que podemos explorá-la de uma forma realmente fascinante.”

Não abriu portas apenas para Simon (Regé-Jean Page), o duque de Hastings. Mas também sua amiga e guardiã da infância, Lady Danburry (Adjoa Andoh). A estilista Madame Delacroix (Kathryn Drysdale). A jovem debutante Marina Thompson (Ruby Barker). E o casal de trabalhadores Will (Martins Imhangbe) e Alice (Emma Naomi). Colocar personagens negros em diferentes patamares da sociedade mostra os verdadeiros significados de diversidade e inclusão. E apesar de ser um mundo reimaginado, não é tão diferente do real.

Mesmo distante da igualdade de oportunidades mostrada em Bridgerton, estudos mostram que a Europa sempre foi um continente multirracial. Diferente do que gostam de afirmar os supremacistas brancos. E os negros nem sempre estavam na posição de escravos. Estima-se que na Lisboa do século XVI um décimo da população era formada por negros. Que ocupavam diversos papéis na sociedade. E depois disso houve pessoas negras em altas posições das cortes europeias. Como o escritor russo Alexandre Pushkin (1799-1837) – descendente de Abram Petrovich Gannibal, um negro da corte do czar Pedro, o Grande. O escritor Alexandre Dumas (1802-1870) e o naturalista John James Audubon (1785-1851).

Lady Danburry (Adjoa Andoh) e Simon (Regé-Jean Page), dois integrantes negros da alta sociedade de Bridgerton.

Ainda que ignoremos esses fatos e olhemos apenas para a fantasia da série, é inegável o valor de um elenco heterogêneo. Como isso nos ajuda a questionar os passos da humanidade ao longo dos séculos. Mas algumas pessoas preferem apenas criticar.

Ataques racistas

Muitos assinantes da Netflix e fãs do material original tem feito ataques ferrenhos a produção. Especialmente pelo fato do protagonista ser negro, uma vez que nos livros Simon é descrito como um homem robusto, de cabelos castanhos e sedosos e olhos azuis.

Essas pessoas ficaram tão indignadas com a série mostrando pessoas negras na alta sociedade que têm dado notas baixas para Bridgerton no IMDb e pedindo seu boicote. O que também reflete algo que vêm acontecendo com a atual Família Real britânica. Não faltam ataques à atriz Meghan Markle desde que foi anunciado o noivado com o Príncipe Harry, e piorou depois que se casaram em 2018. Porém, como a série vem quebrando recordes de visualizações na plataforma podemos perceber que essas pessoas são minoria. E é extremamente valioso que o público venha comprando a ideia.

Se Julia Quinn aprovou as alterações, quem somos nós na fila do pão para criticar? É importante lembrar que os livros praticamente não possuem descrições de cor de pele. Então imaginar todos os personagens como brancos, diz mais sobre os preconceitos enraizados em nós que qualquer outra coisa. Atores brancos têm a oportunidade de interpretar de reis a mendigos, por que atores negros também não deveriam tê-la?

Estamos vivendo em um mundo onde pessoas se deixam dominar por um ódio irracional. Que as impede de apreciar uma série de TV. Quando é tão mais fácil se deixar levar pela trama e refletir sobre o que ela propõe. Mas como mencionado acima, o número de pessoas que comprou a ideia é muito maior. Validando a frase de Lady Danburry para Simon: O amor, Vossa Graça, conquista a todos.”

Fontes: BBC Brasil 1 2

Wikipedia

Screenrant

Mix de Séries

Arquivos

Leia Mais
Retrô nerd: Superman IV