‘A League of Their Own’ é manifesto pela liberdade feminina

Mais que uma série sobre esportes, uma série sobre mulheres.

Em 1992 o filme Uma Equipe Muito Especial (A League of Their Own), de Penny Marshall, contava a história de um time da liga feminina de beisebol, a All-American Girls Professional Baseball League. Algo que ocorreu em 1943, durante a 2ª Guerra Mundial. Mas apesar de ter o mesmo título, o mesmo pano de fundo e até focar no mesmo time (o Rockford Peaches), a série criada por Abbi Jacobson (que também estrela a produção) e Will Graham que chegou ao Amazon Prime Video no último dia 12 não é exatamente um reboot. Ela vai além para contar as histórias que o filme de 30 anos atrás não pode mostrar.

Com uma atmosfera de comédia que sabe botar o dedo na ferida e adotar um tom mais solene quando a trama pede, A League of Their Own cativa facilmente. A pesquisa por trás da produção gerou frutos esplendidos, e não só no que diz respeito aos figurinos e cenários. Abbi e Will descobriram um número significativo de mulheres gays na liga. E ao mesmo tempo que era importante mostrar como era perigoso ser LGBTQ+ na década de 1940, queriam mostrar a alegria de se encontrar em uma comunidade. Também era importante mostrar o racismo e a segregação, que não permitia que mulheres negras jogassem na AAGPBL.

Mas apesar de mostrar um time e dramas reais, as personagens não representam pessoas reais. Apenas possuem personalidades inspiradas em jogadoras reais. Isso deu liberdade para que os roteiristas contassem histórias que respeitassem o contexto histórico ao mesmo tempo em que pudessem fazer o espectador (especialmente espectadorAS) se enxergar. Seja em Carson (Abbi), uma mulher casada que pela primeira vez tem a oportunidade de descobrir quem realmente é; Greta (D’Arcy Carden), uma mulher segura de sua sexualidade mas também ciente dos cuidados que precisa tomar; Max (Chanté Adams), uma mulher negra que a despeito do que dizem só quer realizar seus sonhos, e tantas outras.

Como nerd que sou admito ter me identificado com Clance (Gbemisola Ikumelo), a melhor amiga de Max que adora gibis e vive fazendo analogias que ninguém entende. Porque assim como hoje, e ainda mais, histórias em quadrinhos não eram consideradas coisas de pessoas adultas. Especialmente mulheres adultas.

Em suma, mesmo conquistando novos direitos, como trabalhar fora e serem jogadoras profissionais, as mulheres ainda estavam sujeitas às regras impostas pelos homens. Você podia receber um salário, mas não podia abrir uma conta no banco sem a assinatura de um homem da família. Podia praticar esportes, desde que estivesse maquiada e usando saia. E quando você vê aquelas personagens tão envolventes subjugadas por tantos absurdos, só tem vontade de gritar “deixa ela jogar, c*aralho!”. E então se dá conta que suas avós, bisavós e tantas outras passaram por isso de verdade. Assim como em alguns países essa ainda é uma – triste – realidade.

Enfim, apesar de uma pequena queda no ritmo da narrativa lá pela metade dos episódios, A League of Their Own é uma série praticamente perfeita. Uma trama que entretêm e instiga ao mesmo tempo, que nos faz pensar no quanto conquistamos e quanto ainda precisamos lutar. E por, mais do que tudo, mostrar que lugar de mulher é onde ela quiser que esperamos que a série seja renovada.

Nota: 9,5

Confira o trailer:

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