A importância de séries como Lupin para a literatura

Porque a televisão não precisa te deixar burro

A Netflix começou 2021 lançando um sucesso atrás do outro. Um deles é a francesa Lupin, que venceu fronteiras e estrela o Top 10 de diversos países. Inclusive no Brasil. Parte desse sucesso provavelmente se deve a temas abordados na trama, como racismo estrutural e corrupção. Além disso, a série possui um enredo envolvente e atuações fantásticas.

A história gira em torno de Assane Diop (Omar Sy) buscando vingança pelo pai, que há vinte e cinco anos fora preso injustamente e encontrado morto em sua cela. Para isso ele usa da filosofia e artimanhas de Arsène Lupin, o personagem literário criado por Maurice Leblanc no início do século XX. Deixando a polícia desesperada, mas sem nenhuma intenção de parar enquanto não descobrir o que realmente aconteceu com seu pai.

Mas os pontos positivos de Lupin vão além do que se refere a uma grande obra audiovisual. Penso que um grande mérito da série seja usar a obra de Maurice Leblanc como ponto de apoio sem ser uma adaptação. Acredito que séries e filmes com esse formato tendem muito mais a atrair as pessoas, especialmente jovens, à leitura dos clássicos do que se apenas os reproduzissem na tela.

Lupin debate temas importantes ao mesmo tempo em que desperta o amor pelos livros

Primeiramente porque acabam com a desculpa do “não preciso ler o livro pois vi o filme/série e já conheço a história”. Claro que muitas pessoas aproveitam o lançamento de uma adaptação para ler o livro antes de vê-la. Mas num país como o nosso, em que a média de leitura é baixíssima, geralmente as pessoas preferem ficar apenas com a dramatização. Porém, se a série ou filme gira em torno do livro sem realmente revelar sua história a desculpa não pode ser usada. Além do mais, quando os protagonistas se mostram apaixonados pelo livro, desperta curiosidade por ele nas pessoas que ainda não o leram.

O contexto já foi usado em filmes e séries antes. Bons exemplos são os filmes Viagem ao Centro da Terra (2008) e Viagem 2: A Ilha Misteriosa (2012), que podem não ser grandes obras cinematográficas mas são divertidos. E mais importante: Despertam nos jovens o interesse pelos livros de Jules Verne, um pioneiro da ficção científica. Acredito que fazer o contemporâneo mostrar que um livro escrito há mais de cem ou duzentos anos continua relevante, é o melhor dos dois mundos.

Para os metidos a cultos que torcem o nariz para novelas, saibam que elas também podem exercer essa função. Aqui no Brasil a novela Bom Sucesso (2019) aumentou em cerca de 15% a venda de livros. Na trama, a protagonista vivida por Grazi Massafera se reaproxima dos livros após ir trabalhar na casa do personagem de Antônio Fagundes. Que era dono de uma editora. Os dois conversavam sobre livros, e ela se imaginava dentro das histórias que lia. Quer meio melhor de incentivar a leitura?

Existem ainda aquelas releituras contemporâneas, como a famigerada Sherlock (2010). A série britânica estrelada por Benedict Cumberbatch e Martin Freeman trouxe a dupla de investigadores criada por Sir Arthur Conan Doyle para o século XXI. Atualizando alguns contextos, mas mantendo a perspicácia e humor, o sucesso da série fez com que várias editoras lançassem novas edições de Sherlock Holmes e lotassem as prateleiras das livrarias com elas. Sim, Hollywood também fez sua releitura moderna em Elementary (2012), trazendo Jonny Lee Miller e Lucy Liu como protagonistas. Mas é inegável que a série da BBC fez um sucesso muito maior.

Watson (Martin Freeman) e Sherlock (Benedict Cumberbatch) na icônica série da BBC

É provável que esse tipo de releitura, assim como obras no formato de Lupin, atraiam um grande público por tratar de assuntos pertinentes. Assuntos que na época em que os livros foram lançados não podiam ser abordados. Ao menos não tão abertamente. Como o racismo estrutural, já citado acima. Também o sexismo, direitos dos refugiados, justiça social, violência policial, entre outros. Porém, mesmo que os autores dos clássicos não possuíssem a liberdade necessária para abordar tais temas geralmente já faziam alguma crítica social que continua válida.

Por isso é bom estarmos abertos para todos os tipos de mídias, de todos os tempos. Literatura, cinema, TV, música e games sempre podem ter algo a nos acrescentar. Não importa quem somos ou quantos anos temos. Leia, assista, ouça. Todo formato tem algo de bom. E não menos importante, divirta-se!

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