A terceira temporada da série The Umbrella Academy tem muitos bons momentos. Mas cai em um problema comum em outras produções dentro e fora da Netflix de se tornar excessivamente auto-referente e apostar na mesma estrutura de história novamente. Depois de apostar na viagem no tempo na primeira e (na excelente ) segunda temporada e suas consequências, o enredo volta a apostar na mesma estrutura e até com um final de cliffhanger para a próxima edição. Supondo que aconteça.
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Entre os destaques está a delicadeza na transição de Ellen Page para Elliot Page ou, simplesmente, de Vanya para Victor. O roteiro enfrentou a mudança sem peso fazendo da(o) personagem uma metáfora do que o ator viveu na vida real além de não fazer de Victor uma vítima ou um mártir da causa, conseguiu trazer cenas que não só geram empatia mas servem de exemplo para pessoas cis de como lidar com transformações, que serão cada vez mais comuns e frequentes na nossa sociedade.
Desde a sua primeira temporada, a série extrapola o drama de uma família disfuncional ao acrescentar superpoderes. Conforme já explicamos, na segunda temporada a viagem no tempo é o grande ingrediente deste caldeirão cheio de problemas. Com tantas expectativas e novos personagens se esperava que a terceira elevasse o nível. Apesar de explicar situações expostas em outras temporadas e de trazer de volta personagens que os fãs aprenderam a amar como Pogo (Adam Godley), os episódios acabam apostando em um enredo muito parecido com a temporada anterior. A diferença é que ao invés da misteriosa Comissão do Tempo temos o próprio Hargreeves e a Sparrow Academy como antagonistas, mas mais uma vez com um apocalipse de todo o espaço-tempo a caminho e os super-heróis indecisos entre interferir ou não.
“Puxa vida, o que será que eles vão fazer dessa vez, não é mesmo?” O mesmo que das outras.
Fica mais difícil a vida de atrizes e atores em dar verossimilhança e novos contornos a um roteiro tão parecido com outras edições. Dessa forma, claro que sobra para novos personagens carregarem a trama na qual se destacam Sloane Hargreeves (Genesis Rodriguez) e um Ben (Justin H. Min) mais cínico e em nada parecido com o espírito gentil e preocupado das edições anteriores. É um grande presente para o ator. Mas mesmo com essas novidades fica difícil levar a sério momentos em que os personagens ignoram mortes ou conflitos porque facilita o trabalho do roteirista. “Ei, se é pra considerar a contagem de corpos”, diz um personagem da série. Se mortes são tão banais para os heróis, com o que o espectador tem que se preocupar então?
Apesar de tantos erros no roteiro, o maior problema da terceira temporada de The Umbrella Academy ainda reside em outro elemento. É imperdoável que os efeitos de computação gráfica sejam tão ruins deixando um ar de falta de capricho na finalização e pós-produção da série. Em alguns momentos parecemos estar diante de um video-game, o que talvez já tivesse acontecido em O Legado de Júpiter que foi cancelada rapidamente. Talvez seja hora da Netflix diagnosticar que seus planos de ter seu próprio universo de super-heróis depois de perder as séries Marvel falhou. É o primeiro passo para uma possível quarta temporada da série acontecer.
Até lá, podemos reconhecer que com tantos problemas nos seus episódios a série consegue dar ao espectador um final que entretenha e sobe o ritmo na reta final. Mas ainda é pouco. Muito pouco.
Nota: 6
Fique com o trailer desta temporada:
https://www.youtube.com/watch?v=hs6alRuY1UU