Zorro existiu mesmo? Conheça quem o inspirou

Você conhece a história de Joaquin Murrieta?

Sempre que alguém pergunta: Zorro existiu mesmo? A resposta correta deveria ser: sim, mas seu nome não era Zorro e sim Joaquin Murrieta. A história real do personagem também conhecido como Robin Hood do Oeste ou Robin Hood de El Dorado inspirou o escritor Johnston McCulley a escrever o conto A Maldição de Capistrano que viria a ser publicado tempos depois com o nome de A Marca de Zorro (saiba como ler todos os livros citados neste artigo ao fim do texto), publicado pela primeira vez em 1919, em que um certo espadachim mascarado levava justiça aos mexicanos que lutavam contra a colonização.

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O então minerador esperava encontrar riqueza na Califórnia, mas ao invés disso só viu racismo e discriminação, inclusive sendo obrigado a pagar altas taxas para poder minerar. Assim como a história que você conhece, Murrietta começa sua luta após sentir a injustiça na própria pele. Ele e o irmão teriam sido injustamente acusado de roubo. Nosso herói foi chicoteado e viu seu irmão ser enforcado e, segundo versões, ainda viu sua esposa ser morta e estuprada. Uma atrocidade dura, mas bem comum em autoridades que veem o povo como algo sub-humano e sem direitos. Nenhum desses fatos foi comprovado com documentos, mas era comum que as pessoas pobres fossem tratadas dessa forma.

Ele então cria um grupo: Los Cinco Joaquines (Os Cinco Joaquins) com os companheiros: Joaquín Botellier, Joaquín Carrillo, Joaquín Ocomoreña e Joaquín Valenzuela. Juntos, teriam roubado mais de US$ 100.000 em ouro e mais de cem cavalos. Nada mal para um pequeno bando que lutava contra um estado autoritário.

Zorro
Zorro: personagem de mais de cem anos foi inspirado em um homem de carne, osso e espírito de luta.

Murietta passou a perseguir cada um de seus algozes e os puniu à sua maneira, transformando-se em um símbolo da resistência mexicana aos colonizadores. Se tudo começou por volta de 1850, teria acabado rápido: em 1853. O Estado da Califórnia ofereceu uma alta recompensa que levou a sua morte ou captura, culminando em seu fim naquele ano.

Porém, como todas as lendas ele jamais morreu. Sua resistênca passou a ser contada e recontada com muitos acreditando que ele jamais conhecera seu fim. Mesmo a cidade onde nasceu, viveu, lutou e morreu já não existe mais: Sal Rafael de El Alamito. Inclusive, há controvérsias sobre sua origem com muitos historiadores afirmando que ele era chileno e não mexicano.

Mas afinal, o “verdadeiro Zorro” morrera mesmo?

Provavelmente, sim. Seus assassinos cortaram sua cabeça, a preservaram numa garrafa e apresentaram para testesmunhas que a reconheceram exceto uma irmã de Murietta, que apontou a ausência de uma cicatriz no cadáver. Os caça-recompensa chegaram a exibir a garrafa a quem quisesse ver cobrando um dólar, em uma exploração bizarra da vida e luta do fora da lei, como você pode ver no cartaz abaixo..

Em 1906, a lenda ganhou mais um fato: a cabeça desapareceu durante um terremoto. Mas antes disso, John Collins Ridge, um jornalista de origem Cherokee (um povo nativo também explorado e subjulgado contra colonizadores), escreveu o livro Vida e Aventuras de Joaquín Murrietta o celebrado bandido da Califórnia e garantiu que sua história fosse conhecida. Seu estilo tornou Murietta um símbolo da Guerra da Invasão do México, em 1847, que terminou com o país perdendo metade de seu território para os Estados Unidos. Ainda é comum que pelas terras onde lutou, seus admiradores façam a cavalgada de Joaquín Murrietta, uma peregrinação que visa comemorar a vida de Murrietta. Embora sua inspiração mais notória seja o justiceiro mascarado que viria a inspirar o Batman, Murieta está longe de ser um personagem quase esquecido. Além de livros sobre sua história, ele conta até com uma peça de teatro ao seu respeito: Fulgor y muerte de Joaquín Murrietta, publicado em 1968 por um certo Pablo Neruda. Isabel Allende também cita o renegado em seu romance Filha da Fortuna. Bandit’s Moon é uma fábula infantil de Sid Fleischman sobre o justiceiro.

Sua luta, vida e história podem se confundir com ficção, mas isso não é demérito. Tornou-se uma forma de revivê-lo.

Ilustração de Joaquin Murieta, história marcante de injustiça, sofrimento e luta inspirou o herói Zorro
Ilustração de Joaquin Murieta, história marcante de injustiça, sofrimento e luta inspirou o herói Zorro

Ficção e realidade chegaram a se encontrar no filme A Máscara de Zorro, que a rede Globo exibe na Sessão da Tarde desta quinta-feira (12). Na história, o espanhol Antonio Banderas é o mexicano Alejando Murieta e torna-se Zorro após ver seu irmão, Joaquin, ser assassinado pelo maligno Capitão Love. E passa a ser treinado por Diego de La Vega (Anthony Hopkins), nome usado pelo Zorro de séries de TV. Apesar da homenagem, nenhum dos atores envolvidos com os dois personagens nasceu no México de fato.

Jamais saberemos exatamente como foi a história de Murieta e o quanto que mito e verdade se confundem. Mas o mais importante é que cada vez que você ver um filme de Zorro ou até mesmo uma história em quadrinhos do Batman, lembre-se como estes personagens foram inspirados: por alguém que existiu, sonhou e lutou.

Para ler e saber mais sobre Zorro:

Fulgor e Morte de Joaquín Murieta, peça de Pablo Neruda

Joaquin Murieta, The Celebrated California Bandit (edição em inglês), de John Rollin Ridge

Joaquin Murieta Was My Friend, de Gary McCarthy

A Marca de Zorro, de Johnston Mcculley

Zorro, começa a lenda, de Isabell Allende

Filha da Fortuna, de Isabel Allende

Bandit’s Moon, de Sid Fleischman

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