Maus – um cânone das Graphic Novels

Censurada em uma escola dos Estados Unidos, trabalho de Art Spiegelman segue eterno

Art Spiegelman criou a série Maus entre os anos 80 e 90 talvez sem muita pretensão, mas isso importa pouco no século 21. Em tempos de fake news, ódio generalizado e debates do óbvio, a Graphic Novel se eleva como um marco dos quadrinhos de importância eterna. A história se inicia em 78, época, aparentemente, distante do holocausto, mas muito próxima de suas consequências. Como a tensão entre Art e seu pai, Vladek, um polonês sobrevivente do nazismo.

A quem interessaria censurar Maus? Ora, apenas quem defende o nazismo de qualquer forma e sob qualquer ponto de vista tem a preocupação com eventual violência ou nudez em um livro que tanto ensina.

O então presente é o ponto de partida de uma história que volta no tempo para trazer os desmandos do regime Nazista. A derrota da Alemanha Nazista encerra também uma parte de sua história e encaminha o final agridoce, com um Vladek destruído pelos horrores que viveu e passando para seu filho esse medo. A narrativa sensível de Spiegelman traz ângulos e uso da nona arte de forma inovadora, que aumenta o impacto do que já seria assustador o bastante. Um misto de jornalismo, documentário e romance gráfico.

Maus (a pronúncia aproxima a palavra de “mouse”, rato, em inglês assim como a versão alemã também significa um camundongo, como judeus eram vistos pelo regime nazista) é também um reencontro. Vladek e Art,  pai e filho, não se falavam mais desde o suicídio de Anja, mãe de Art. Recontar sua trajetória e seu trauma é uma expiação e punição: Vladek deve contar ao filho a história que Anja escreveu sobre Auchwitz, em diários que  ele queimou. No desfecho final, ele se diz “cansado” e pede para interromper a gravação na entrevista, trocando o nome de Art pelo de Richieu, seu irmão que morreu no Holocausto. O quadro seguinte é o túmulo de Vladek, que não chegou a ver a Graphic Novel finalizada.

A história termina então com pai e filho desencontrados e separados, mas ao mesmo tempo unidos numa história e pelas consequências da própria história. Art deixa claro na história que sente que jamais estaria a altura de seu irmão.

Maus não promete um final feliz, mas necessário. Não é uma história que você deva gostar de ler, mas uma história que você precisa – e deve – ler. Seja pela qualidade gráfica incomparável, seja pela importância de se relembrar como a humanidade já se rebaixou tanto.

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