Live-action de ‘A Pequena Sereia’ chegou ao Disney+

Filme não acertou em tudo, mas é lindíssimo.

Depois de quase quatro meses de espera, o aclamado remake em live-action de A Pequena Sereia (The Little Mermaid) chegou ao Disney+ no último dia 6. Com direção de Rob Marshall, o filme é inspirado na animação da Walt Disney Pictures de 1989, que por sua vez tem como base o conto de Hans Christian Andersen, e propôs mais diversidade.

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O roteiro escrito por Jane Goldman e David Magee não foge muito daquele tão amado por gerações de crianças há pouco mais de três décadas. Porém, a busca por representatividade e correção de conceitos machistas são capazes de conquistar mesmo aqueles que não eram muito fãs da animação original. O fato é que mesmo que o longa de 1989 mostre uma princesa que não tem medo de lutar por seus sonhos, ela ainda é dependente demais das figuras masculinas.

Saber que houve tanta indignação com a escalação de Halle Bailey como Ariel é ainda mais revoltante depois que você assiste. Acredito até que sua escalação tenha precedido a opção dos produtores em trazer mais representatividade para a história, e não o contrário. É que Halle Bailey é Ariel em todos os aspectos. Sua voz, expressão, postura, leveza e força são a mais pura essência da Ariel. Principalmente de uma Ariel que está pronta para encontrar sua voz.

Halle Bailley encanta como a nova Ariel. Sim, A Pequena Sereia é ela e quem pode discordar?
Halle Bailley encanta como a nova Ariel, tanto nos cinemas quanto streaming. Sim, A Pequena Sereia é ela e quem pode discordar?

Outras escalações grandiosas foram de Javier Bardem como Rei Tritão e Noma Dumezweni como Rainha Selina, mãe do Príncipe Eric (Jonah Hauer-King). Mesmo com pouco tempo de tela, ambos trouxeram performances marcantes. Melissa McCarthy mereceria até um texto exclusivo sobre sua interpretação de Úrsula, tão sádica e hipnotizante sua versão de Poor Unfortunate Souls.

Como em live-actions anteriores, A Pequena Sereia trouxe tropos que acabaram cortados das animações originais. Assistindo aos extras contidos no Disney+ (ou em DVD) descobre-se que Úrsula e o Rei Tritão são irmãos, e essa informação foi externada no novo filme com a intenção de trazer mais profundidade à trama. E embora pouco explorada, tornou mais compreensível a obsessão de Úrsula por Ariel.

Para garantir mais tempo de tela, além do ganho com músicas novas, os roteiristas decidiram dar um pano de fundo para Eric. Porém, nada que realmente enriquecesse a história e nem mesmo ganhou algum aprofundamento. Mas como já se cogita uma sequência, é possível que no futuro Ariel ajude seu amado a descobrir suas origens.

Como já muito comentado, a trilha sonora foi adaptada para os tempos atuais. Convenhamos que a trilha original era gostosa de se ouvir, mas as letras contêm versos bem desconstrutivos. Para essa tarefa Lin-Manuel Miranda foi chamado para auxiliar Alan Menken, o compositor original. As novas canções são boas, mas não chegam a serem extraordinárias. Já as adaptações das letras originais realmente valeram a pena, e ganharam um toque latino no ritmo que combinou com a ambientação caribenha.

Mas nem tudo são flores. Um problema desses remakes em live-action é que a procura por realismo acaba tirando a expressividade dos personagens animais. Esse fato já ficou evidente em filmes como Mogli e O Rei Leão, só que mamíferos ainda tem mais expressão que peixes, crustáceos e aves. Tanto é que em A Pequena Sereia o cachorro Max (sem um pingo de CGI) tem mais expressividade que Sebastião (Daveed Diggs), Linguado (Jacob Tremblay) e Sabidão (Awkwafina). Isso fez com que o carisma desses personagens dependesse totalmente do trabalho de voz dos atores. Embora esse realismo tenha deixado o clipe de Under the Sea fascinante.

E apesar de curtir muito a busca por representatividade no filme, transformar Sabidão numa personagem feminina não me pareceu uma ideia bem-sucedida. Digo isso porque além de continuar com a personalidade bobona da animação, em dado momento Sebastião a chama de “idiota”. Mesmo se tratando de animais, não me parece certo que um filme que busca retração por conceitos machistas mostre um personagem masculino xingando uma personagem feminina.

Enfim, A Pequena Sereia é um filme para encher olhos, ouvidos e coração. Que, mesmo com falhas, merece ser apreciado e amado.

Nota: 8,5

Confira o trailer:

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