‘Hollywood’ é uma série e um manifesto

Ao longo dos anos, o showrunner e roteirista Ryan Murphy consolidou um estilo ágil, quase apressado, e pop, mas sem ser popularesco de sua narrativa. Já teve erros e acertos com temporadas de Glee sendo exemplos das duas coisas. Seu novo trabalho, Hollywood, tem mais acertos do que erros e parece indicar a maturidade do criador.

No início da era de ouro do cinema norte-americano, personagens fictícios que existiram e que são inventados se unem com um objetivo em comum: vencer em Hollywood sem abrir mão de sua própria história e de quem são. Parece brega, mas as escolhas dos nomes deixam claro o objetivo.

Um bom exemplo é Rock Hudson (interpretado por Jacke Picking), ator que realmente existiu e fez enome sucesso à época. Entre as diferenças, Hudson omitiu sua homossexualidade a até mesmo ter sido vítima da AIDS, até próximo de sua morte em 1985. Na vida real, ele chegou a ensaiar um casamento com a secretária de seu agente mas neste mundo de ficção seu personagem é mais persistente com sua própria identidade.

Hollywood mistura personagens que existiram e inventados em um misto de série e manifesto

Hollywood tem seus problemas. Como uma série “lacradora” algumas vezes se esquece do enredo em detrimento de defender diversidade e sororidade, mas é quando a série foca em sua história que ganha ares poderosos de manifesto. E empolga.

Por que não poderia ter sido assim? Como será que o nosso mundo seria se tivesse sido? São perguntas inerentes ao final da primeira (e única?) temporada desta jornada.

Se em Glee, Murphy descobriu como usar músicas no imaginário coletivo como motor de uma história, em Hollywood ele usa histórias que sempre existiram como motivo para um enredo razoável se tornar empolgante. Em um mundo tão repleto de ódio, desigualdade e “nãos” talvez precisemos mesmo de um enorme “sim” em letras garrafais no catálogo da Netflix.

Entre as interpretações de Hollywood, chama a atenção Queen Latifah como Hattie (primeira atriz negra a vencer um Oscar por seu papel em Mammy, no clássico E O Vento Levou…) e Mira Sorvino como Jeanne Crandall. Em que se pese o talento das duas atrizes é impossível não ver como a trajetória de suas personagens é uma referências aos desafios que ambas enfrentaram. Queen desbravou caminhos como uma atriz negra e sem o peso que TV e cinema costumam impor. Isso não a impediu de se destacar em filmes como Chicago. Já Mira foi vítima dos assédios de Harvey Weinstein, que lhe impediu de fazer teste para Senhor dos Anéis e interrompeu a ascensão da vencedora do Oscar em 1995.

A despeito dessa justiça social, Hollywood entretém. E se posiciona. Que seja sob aplausos.

Nota: 8

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