Gavião Arqueiro: Marvel e o voo de novos personagens

Um retrospecto do Marvelverso

Depois de seis episódios, em meados de dezembro de 2021 foi concluída a primeira (e por enquanto, única) temporada da série Gavião Arqueiro, exibido pelo streaming Disney+. Colocando em cena Clint Barton (Jeremy Renner) e a jovem arqueira Kate Bishop (Hailee Steinfeld), a série cumpriu seus dois principais objetivos, e ainda extrapola outros tantos.

O primeiro foi justamente a introdução de Kate, que, marcada direta e pessoalmente pela Batalha de Nova York, mostrada em Vingadores, procura seguir os passos de sua principal referência como herói, o Gavião Arqueiro. Os anos de preparação incluíram não apenas o desenvolvimento de técnicas de luta e o uso do arco e flecha, mas também o uso de outras armas, como a espada.

O acaso faz Kate cruzar com Barton, ao qual acaba recaindo a responsabilidade de concluir o treinamento da jovem arqueira. Essa conclusão do treinamento passa principalmente por fazê-la compreender qual o papel do herói, mais um símbolo de esperança do que um ser cheio de habilidades e poderes, e os sacrifícios que se vê obrigado a fazer. Ao final da temporada, inclusive é mostrado do pesado sacrifício que Kate deve fazer.

O outro objetivo da séria passava por apresentar uma história leve que, em certa medida, encarnasse o espírito de das festas de final de ano, em especial o clima natalino. Com raras exceções, as histórias do universo Marvel sempre se caracterizam pelo tom leve e cheio de esperanças. Em meio à tragédia mundial da pandemia e lançada no final do ano, a série parecia querer passar uma mensagem de esperança.

Esse objetivo foi cumprido. Kate, mesmo diante dos problemas familiares apresentados ao longo da temporada, ao final encontra uma novo lugar para ser acolhida. Por sua vez, Barton, depois de ter sido um solitário espião e de ter perdido sua parceira, a Viúva Negra, encontra não apenas uma pupila, mas talvez até mesmo alguém para formar uma equipe em futuras aventuras.

Gavião Arqueiro e Kate Bishop em ação na série do Disney+
Gavião Arqueiro e Kate Bishop em ação na série do Disney+

Mas, além de cumprir com êxito esses dois objetivos, a série alcança outros. Primeiro, por introduzir Yelena (Florence Pugh), irmã de Natasha (Scarlett Johansson), no universo Marvel. Se ao final do filme Viúva Negra ficou em aberto qual caminho ela seguiria, agora está claro que se pretende utilizá-la nos futuros projetos da Marvel. Além disso, ao mostrar uma excelente dinâmica com Kate, pode-se pensar em futuras aventuras retomando os herdeiros da dupla Gavião Arqueiro e Viúva Negra, encarnados por Yelena e Kate.

O outro êxito da série passa por aproximar o universo Marvel das séries desenvolvidas nos anos anteriores pela Netflix, conhecido como “Universo Defensores”, que apresentou personagens como Jéssica Jones, Demolidor, Luke Cage, entre outros. Isso se deu no novo filme do Homem Aranha, que contou com a participação de Matt Murdock, protagonista da série Demolidor. No caso de Gavião Arqueiro, foi possível rever o arquirrival de Matt, Wilson Fisk, conhecido como Rei do Crime. Embora se tenha deixado mais perguntas do que respostas, principalmente a de como serão desenvolvidos os personagens de Matt e Fisk no universo Marvel, o resgate desses dois personagens abre possibilidades para histórias extremamente interessantes.

Esse último aspecto, inclusive, mostra que o universo Marvel também pode ter histórias mais “pé no chão”. Isso se mostra não apenas por introduzir novos heróis que não contam como superpoderes, como é o caso de Kate, mas também por inserir suas aventuras no ambiente urbano. Com exceção do primeiro Homem Aranha e sua disposição em ser o “amigo da vizinhança”, nenhum dos heróis mostrados nas produções anteriores relacionados aos Vingadores teve suas aventuras centradas na dinâmica cotidiana da cidade. Esse tipo de narrativa estava quase que restrito às séries em parceria com a Netflix, onde a cidade de Nova York era uma personagem importante como qualquer um dos heróis.

Sobre Gavião Arqueiro, também há a introdução da personagem Maya. Não há um grande desenvolvimento sobre a história dessa personagem, a não ser a referência à morte de seu pai e como isso a arrastou a se tornar aliada do Rei do Crime. Promete-se uma série específica para a personagem, que inclusive foi mais um exemplo da inclusão de personagens surdos ou com outras deficiências, como já havia ocorrido no filme Eternos.

Sem o uso de grandes efeitos especiais, a série Gavião Arqueiro pode parecer menor dentro do universo Marvel. Contudo, ao colocar no centro a vida e até mesmo o cotidiano dos protagonistas, mostra que o universo Marvel também é capaz de contar boas histórias sem apelar para explosões, superpoderes e criaturas fantásticas vindas de outras dimensões ou planetas. O principal exemplo disso é o término do prazo cronológico que tinham Kate e Clint para encerrar sua missão, que não era o fim iminente do mundo, mas a promessa feita pelo Gavião Arqueiro de que estaria em casa para as comemorações natalinas.

Mesmo tão singelo, esse objetivo tão subjetivo certamente cabe no universo Marvel, como também a necessidade de concluir as missões para poder levar o cachorro – finalmente batizado de Lucky – para passear…

Arquivos

Leia Mais
‘Duna’ é outra oportunidade perdida