Se os três primeiros episódios da última temporada de Game of Thrones estiveram centrados em sua quase totalidade na preparação e na batalha dos vivos contra os mortos, esta noite foi retomada com força a disputa direta pelo Trono de Ferro. Passada a duríssima batalha contra o Rei da Noite e seu gigantesco exército, Jon Snow e Daenerys Targaryen tiveram que encarar os problemas deixados pelo combate por eles vencido ao final do terceiro episódio.
Saiba tudo sobre a última temporada de Game of Thrones
O episódio guarda bastante semelhanças com o primeiro da atual temporada, afinal em sua quase totalidade esteve centrado em mostrar as preparações políticas para o enfrentamento com Cersei. Contudo, essa aproximação também se dá por contraste, afinal, se no começo da temporada as forças subversivas contavam com dezenas de milhares de soldados, agora seu contingente estava reduzido a cerca de metade. Outra diferença se dá igualmente no fato de que não se tratava de mostrar as dificuldades da ampla aliança para derrotar o Rei da Noite, como mostrado no começo da temporada, mas do fato de que essa aliança, vencida a batalha contra os mortos, perdia muito do seu sentido.
(spoilers a partir da daqui)
O começo do episódio é dedicado a homenagear os mortos da batalha. Jorad, Lyana, Edd, entre outros, são destacados por sua bravura e, em um belíssimo discurso, Jon Snow dedica a vitória a esses soldados que garantiram com sua vida a vitória do exército dos vivos. Depois disso, em meio a bebedeira, é talvez esse discurso o símbolo que resume todos os principais problemas que logo se apresentam. Quem desde muitas temporadas enfrenta o Rei da Noite e seu exército e se preparou para a batalha foi Jon Snow. Ainda que a presença do exército da Rainha dos Dragões tenha sido fundamental para a vitória, foi a convivência com a Patrulha da Noite e com os Selvagens, as batalhas contra o Rei da Noite, enfim, toda a trajetória de Jon Snow, inclusive sua ressurreição, foi o principal elemento que a vitória àquela batalha.
Nesse tempo, Daenerys estava fazendo suas próprias batalhas em outra parte dos Sete Reinos, em busca de sua aspiração pessoal. Com isso, é óbvio que ao final da batalha contra o Rei da Noite seja Jon a ser lembrado a exaltado, menos pela sua contribuição direta, mas por ter sido decisivo na preparação para a vitória. Estava claro para todos que um exército normal não teria chance, e que todas as marcas deixadas na vida e até mesmo no corpo de Jon foram o fator decisivo para aquela batalha. Claro que essa exaltação do herói de guerra poderia ser encarada como somente uma alegria momentânea, que logo se dissiparia, se não fosse o fato de Jon ser o legítimo herdeiro do trono. Ou seja, além de ter levado seu povo a vitória contra o Rei da Noite, Jon possui também o direito sobre o trono. Daenerys olha para isso e pensa somente em como seus planos e tudo o que construiu podem estar ruindo.
No episódio Jon deixa claro, textualmente, que não deseja o trono, que quer ficar com Daenerys e que apoiará seu reinado, possivelmente na posição de Protetor do Norte. No entanto, a própria Daenerys aponta uma questão fundamental: mesmo que escondam de todos a verdadeira origem de Jon, ele é um líder respeitado e admirado. O povo do Norte não se importou em elegê-lo como Rei do Norte mesmo quando supostamente era um bastardo. O fato é que, e isso fica claro mais para a frente do episódio, quem conhece Jon e Daenerys enxerga nele um rei melhor, justamente por não ter a sede de poder que possui Daenerys.
Os problemas com Daenerys avançam com sua postura afobada em atacar Cersei. Seu exército ainda está cansado, com muitos soldados feridos, e bastante reduzido. Mesmo assim, ela decide atacar o quanto antes, redundando na quase destruição do pequeno exército que a cerca. Quando Cersei se cerca da população como uma espécie de escudo contra os ataques que poderia vir, Daenerys mostra se importar pouco com a vida daquelas pessoas, desde que conquiste o trono. Entra em jogo algo que sempre foi marcante na personalidade de Daenerys, ou seja, sua vontade absoluta de conquistar o trono, custe o que custar. Em função disso, mesmo desaconselhada pelas pessoas mais próximas, em nenhum momento tomou a postura de preservar seus inimigos. Fossem os senhores de uma das cidades que ocupou ou um exército derrotado, o fato de não se ajoelharem perante ela sempre foi motivo para executar seus inimigos.
Diante disso, a questão central de todo o episódio foi a de se Daenerys merece estar no trono. Essas suas posturas cruéis não a aproximariam dos atos de Cersei? E, não sendo a legítima herdeira, ela merece ocupar no torno? O episódio não responde a nenhuma dessas questões. Pelo contrário, termina quando Daenerys perde mais uma de suas pessoas: Missandei. A reação de Daenerys diante disso é o que vai responder as indagações deixadas. Por agora, o principal ponto a favor de Daenerys certamente é a confiança que Jon, desde muito tempo uma espécie de balança moral da série, mais de uma vez demonstrou confiança em relação à Rainha dos dragões.
(fim dos spoilers)
Nesta reta final, Game of Thrones entrega um episódio que retoma muito do clima de conspirações políticas do começo da série. O acirramento da luta e a variedade de perspectivas políticas do grupo dos subversivos mostra que não se trata de uma narrativa simples, em que se digladiam mecanicamente Bem e Mal. Pelo contrário, Daenerys está no principal momento de sua trajetória, em que pode mostrar se é igual ao Rei Louco ou se pode trilhar uma estrada diferente daquela vivida por seu irmão. Os próximos episódios mostrarão isso, ainda que esteja claro para todos que, pelo empenho e pelas batalhas enfrentadas, não fará sentido Daenerys ser igual ou pior do que tem sido o reinado de Cersei.
Nota: 8