Cancelamento de ‘Batgirl’ expõe desorganização da warner?

Empresa quer alcançar o sucesso do Marvelverso, mas não tem paciência, empatia e competência para chegar lá

Responsáveis por Batgirl, os diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah souberam do cancelamento do filme pela Warner Bros. pela imprensa. A situação constrangedora mostra o tamanho da desorganização da empresa que desistiu de um filme US$ 100 milhões mais barato que The Batman para economizar US$ 90 milhões em impostos, segundo o The Hollywood Reporter.

“Estamos entristecidos e chocados com a notícia”, escreveram os cineastas em um comunicado na quarta-feira. “Como diretores, é fundamental que nosso trabalho seja mostrado ao público e, embora o filme esteja longe de terminar, desejamos que os fãs de todo o mundo tenham a oportunidade de ver e abraçar o filme final. Talvez um dia eles insha’Allah.”

Por que Batgirl foi cancelado?

A produção acabou sendo mais uma vítima de David Zaslav, CEO da Warner Bros. Discovery e responsável pela nova estratégia corporativa da empresa. Em maio, o executivo já havia engavetado Supergêmeos, filme que adaptaria os simpáticos personagens da animação Superamigos. Estratégia?

Batgirl foi orçado em US$ 80 milhões, mas viu o custo aumentar para US$ 90 milhões devido aos protocolos COVID-19 e carregava bastante expectativa. Afinal, a dupla Adil & Bilall tinha convencido Hollywood após Bad Boys for Life e episódios de Ms. Marvel da Disney +, lançados este ano. Seria a primeira vez da personagem nos cinemas ou no streaming em um filme solo e com diretores interessantes. Tudo isso com uma atriz latina=negra além de Ivory Aquino, primeira atriz transgênero. E tudo isso com um certo Michael Keaton de volta como Batman, ocupando um papel semelhante ao de Samuel L. Jackson como Nick Fury no Marvelverso.

Vale lembrar que o ator também estaria em The Flash, com Ezra Miller, que já corre sério risco de cancelamento devido aos problemas do ator em sua vida pessoal. Ou seja, após um anúncio midiático de seu retorno, talvez não tenhamos a chance de ver Keaton de volta ao papel de homem-morcego, que viveu pela última vez nos anos 90. Imagina só a frustração de muitos decenautas?

Nada disso parece comover Zaslav, que também cancelou Scoob!: Holiday Haunt que, assim como Batgirl, já estava em pós-produção. Ou seja, já com cenas filmadas e na sala de edição. Alguns fãs levantaram a hipótese dos filmes serem tão ruins que não poderia ser lançado, mas não é como se a Warner não lançasse filmes ruins regularmente. Alguns até duas vezes. Além disso, o filme com Leslie Grace chegou a passar por um teste de audiência sem sua finalização no qual recebeu a mesma nota positiva de It, terror que chegou a gerar uma continuação depois de seu sucesso e de uma bilheteria de mais de US$ 700 milhões.

Falta empatia? Ou sobra outra coisa?

Um filme com “bat” no título e o retorno de Keaton dificilmente seria um fracasso comercial. Além disso, com uma latina e uma pessoa trans garantiria uma prova real de comprometimento da Warner com a diversidade, algo que seus acionistas já mostraram dar valor. O The Hollywood Reporter levanta a possibilidade de Batgirl ser mais uma vítima do velho mito que filmes com pessoas negras ou mulheres não geram lucro suficiente. Pantera Negra e Capitã Marvel levaram muito tempo para serem feitos e vimos o resultado final.

Aparentemente, a Warner quer que o DCverso nos cinemas repita o sucesso da Marvel, mas sem pavimentar o caminho até lá. Quer chegar ao US$ 1 bilhão de Pantera Negra e Capitã Marvel, mas lançar um Blade ou Homem de Ferro antes. Lá se vão dez anos desde que Christopher Nolan entregou uma trilogia do Homem-Morcego e com ideias para um universo compartilhado e nada foi aproveitado. Um ciclo que a empresa repete desde os anos 70, quando se tornou dona dos direitos das propriedades da DC. Desde então, vemos a Warner garantir que vai trazer uma nova era que nunca chega.

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