Black Mirror: quinta temporada é doce demais?

Black Mirror sempre foi um furacão para os amantes do sci-fi. Com histórias curtas, mas densas como um filme e a construção de um universo repleto de easter-eggs, a série sempre apostou bonito no melhor para os espectadores. Efeitos especiais nunca foram essenciais, mas imaginar o que a tecnologia pode fazer de pior com nossa humanidade, sim.

Sempre tive a impressão que a escolha do primeiro episódio da primeira temporada, aquele que dá início a série, fosse sombrio demais. Imagine um Primeiro Ministro transando com um porco? Uma piada zoófila de mau gosto sobre política parece ser ótima para afastar os espectadores dos episódios seguintes. Mas pelo contrário, fez Black Mirror ter uma identidade clara. Há pouca ou nenhuma esperança no futuro que mostra.

E, é por isso, que a quinta temporada parece faltar alguma coisa além de algum novo conceito tecnológico (o seriado repete ideias que foram usadas em temporadas passadas). Se San Junipero é criticada por alguns fãs pelo seu final feliz, os três episódios esperados por Black Mirror podem deixar um gosto bem mais amargo. Ou excessivamente doce.

Confira nossa análise por episódios:

Striking Vipers: repete o contexto da tecnologia virtual de games explorado no episódio USS Callister. Neste cenário, os amigos Danny (Anthony Mackie, o Falcão de Vingadores) e Karl (Yahya Abdul-Mateen II, de Get Down) voltam a se encontrar e resolvem ressuscitar uma antiga paixão: se enfrentarem em games de luta.

Só que o cenário virtual abre a possibilidade de ambos viverem um relacionamento sexual através de seus arquétipos virtuais, numa mistura de second life e sexo virtual. Talvez seja o melhor episódio para inaugurar a nova temporada, mas é um desfecho absolutamente feliz e sem a cara de outras temporadas mais sombrias. Vale a pena pela reflexão que impacta especialmente a evolução irrefreável da indústria de games.

Smithereens: Sem dúvida, o ponto alto do episódio é a atuação soberba de Andrew Scott (o Moriarty, da série Sherlock) como um motorista de táxi que quer chamar a atenção para o excesso de informação que aplicativos nos trazem. Decepciona um pouco a subutilização de Topher Grace, como uma espécie de Mark Zuckeberg zen.

Mas o que talvez seja mais amargo é o desfecho. Na dúvida entre ser alegre demais ou repetir o clima sombrio anteriores, o roteiro de Charlie Brooker, criador de Black Mirror, optou por um final ambíguo. Delegando ao espectador a tarefa de criar seu próprio sinal, mas também evitando assumir uma posição. Curiosamente, talvez por isso seja o final mais próximo do bordão “isso é muito Black Mirror” da temporada.

Rachel, Jack and Ashley Too:  É até possível que Britney Spears ou outro ídolo teen fosse uma escolha mais midiática para o papel. Mas Miley Cirus se sai bem demais neste episódio, comprovando seu talento como atriz. O papel de uma ex-cantora teen, que segue tentando encontrar um rumo para sua carreira pop torna tudo mais palatável e faz do episódio imperdível para qualquer fã de Hannah Montana. Rachel, Jack and Ashley Too talvez seja o episódio com as melhores atuações. Angourie Rice interpreta uma ótima fã dedicada de Rachel enquanto Madison Davenport é a excelente Jack.

Essas boas atuações tornam mais frustrante o caminho que a história segue. Em um clima no melhor estilo Sessão da Tarde, o episódio (e a temporada) terminam de um jeito bizarro misturando humor e muitas confusões. Não ficou legal.

Nota: 6

 

 

 

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