A não-resenha de “O Livro de Boba Fett”

Neste artigo não darei nota nem farei uma resenha completa sobre a série O Livro de Boba Fett. O principal motivo disso é que a série simplesmente… Não acabou! E acredito que uma obra só pode ser avaliada em sua totalidade. Mas algumas coisas já me chamaram atenção e, especialmente após o capitulo 5, onde há uma aparição especial, já é possivel perceber alguns problemas crônicos.

Quem é Boba Fett?

A mística em volta do personagem é a maior razão de seu sucesso. Boba Fett apareceu pela primeira vez no anuncio de novos bonecos da linha Star Wars. Em seguida, uma breve aparição no especial de natal. Seu visual foi o chamariz principal para que os fãs especulassem sobre que seria essa figura misteriosa. George Lucas, que raramente dá ponto sem nó, tratou de colocar a personagem em O Império Contra-Ataca sem dar nenhuma pista sobre seu passado e/ou personalidade. Assim, os fãs puderam continuar a especulação desenfreada.

++ Leia também: Afinal, quem é Ahsoka Tano?

A especulação foi tanta que, mesmo após a aparente morte da personagem em O Retorno de Jedi (perdão por spoilers de um filme que saiu há quase 40 anos), os fãs que agora escreviam livros e quadrinhos do unverso expandido de Star Wars (um nome mais oficial para Fanfic) trataram de ressucitar a personagem e preencher as páginas brancas que eram seu desenvolvimento até então.

Aproximadamente 20 anos após O Retorno de Jedi e praticamente ignorando tudo que foi explorado nas fanfics no universo expandido, George Lucas finalmente oficializou a origem de Boba Fett em Ataque dos Clones. E ainda assim deixou em aberto todo o desenvolvimento da personagem até o período em que aparece na trilogia original.

Porque a série existe?

O sucesso das séries animadas de Clone Wars e Rebels (a primeira tendo participação direta de George Lucas) permitiu que os Mandalorianos (povo de onde vem Boba Fett), puderam ser melhor explorados e ganhar cada vez mais notoriedade. Tanto que o principal responsável criativo dessas séries animadas, Dave Filoni, foi um dos principais responsáveis pelas histórias de The Mandalorian . Usando o visual de grande sucesso inaugurado por Boba Fett, a série The Mandalorian  conseguiu trazer para primeiro plano novamente as possibilidades narrativas desta parte do universo de Star Wars, sem lidar diretamente com a família Skywalker (principal assunto de 9 filmes).

O sucesso foi tanto, que foi apenas uma questão de tempo para que Boba Fett fizesse uma aparição e reacendesse a chama especulativa dos fãs de longa data. Saca só o trailer da série e continue lendo depois do vídeo:

Portanto, nada menos surpreendente que a Disney explorasse esta bola quicando na pequena área e finalmente apresentasse para o fãs o que eles semrpe esperavam… ou não?

Onde O livro de Boba Fett está falhando?

Como já foi mencionado no inicio, este artigo ainda não é uma resenha. Afinal, um fim de temporada pode justificar e elevar tudo aquilo que estamos acompanhando até o momento. Porém, duvido.

Em geral, numa narrativa hollywoodiana, nos acostumamos a acompanhar histórias porque nos importamos com as personagens apresentadas. Torcemos por seu sucesso ou até por sua morte dolorosa e gráfica (estou olhando para você, Rei Joffrey). Em “O Mandaloriano” por exemplo, ao final do primeiro episódio passamos a imediatamente nos importar com o que vai acontecer ao apresentarem o Baby Yoda.

Na série Boba Fett, a unica motivação para assistirmos é por ser uma série do Boba Fett. Suas motivações para tomar o lugar de Jabba são vagas, ele não é especialmente brilhante em suas estrategias, sua moral varia conforme a motivação do roteiro e o fato de ser uma série da Disney dificulta explorar o lado mais complexo de não ser exatamente um herói. Pessoalmente, não há nada me prendendo a nenhuma personagem apresentada.

Com exceção, talvez, de Fennec Shand (Ming-Na Wen). O episodio que finalmente mostra onde ela e Fett se conheceram, me deixou mais interessado na história dela do que dele.

Outra dificuldade que a série tem até o momento é que é a unica produção de Star Wars que não lida com a força. É um elemento mistico que conecta todo o universo (heh), e é necessária uma história extremamente interessante para que a força seja deixada de lado e ainda assim pareça que estamos assistindo algo no universo de Star Wars. Até em Rogue I temos o templo Jedi, cristais kyber, os guardiões dos Whills e a aparição de Darth Vader.

Alguma solução?

Como fã ávido de Star Wars, me parece que teria sido mais interessante ter contado a história de forma mais linear, a partir do momento que ele “ressucita”. E de certa forma ela poderia ir  informando a evolução da personagem até o ponto onde o encontramos em “O Mandaloriano” e finalmente a tomada do castelo de Jabba.

Suas indas e vindas como “chefe do crime” sinceramente não me interessam, pelo menos não antes de ver suas aventuras de fato. É uma personagem que, no pouco que aparece, sempre foi mais voltada para a ação. Temuera Morrison é um ator muito simpático, mas vem mostrando dificuldades em lidar com as nuances de negociador. Ao contrario de The Mandalorian onde Pedro Pascal raramente tira o capacete, Bobba Fett resolveu quebrar o maior chamariz que a personagem já teve e passa a maior parte do tempo “dando a cara a tapa”. A lição que tiramos agora é a lição que George Lucas já havia dado: menos é mais.

Acredito que mesmo sem lidar com a força, é possivel se envolver com as personagens e espero que a temporada termine bem. Mas, até o momento, a série ainda não me deu motivos para me importar com Fett. Sua motivação me parece… Boba.