A Guerra dos Rohirrim era uma produção muito esperada por todo mundo que gostou da trilogia de filmes O Senhor dos Anéis. Se dividir a história de O Hobbit em três partes chamuscou um pouco a reputação de Peter Jackson, os filmes que adaptaram os grandes clássicos de JRR Tolkien ainda constituem um marco irreparável de sua reputação. Tudo o que o diretor se envolve, chama a atenção. Não seria diferente com esta animação.
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Com os direitos autorais de Tolkien ainda valendo muito dinheiro parece que a indústria resolveu explorar tudo e não tem quem exija um pouco de respeito ao que ele realmente escreveu. A Guerra dos Rohirrim é um dos maiores conflitos dos acontecimentos descritos em apendices de O Senhor dos Anéis e no livro As Duas Torres, mas a animação homônima é uma espécie de fanfic que inventa detalhes que o escritor não criou. Se isso é correto ou não, vale um longo debate mas não é Tolkien. E até que ponto precisamos que esse tipo de história seja feita?
Este questionamento talvez explique a sensação de que falta história em A Guerra dos Rohirrim (e isso talvez nem seja o maior problema). No enredo, um ataque repentino de Wulf, um vingativo lorde Dunlending, força Helm Mão-De-Martelo e seu povo a fazer uma última e ousada resistência na antiga fortaleza de Hornburg. Encontrando-se em uma situação cada vez mais desesperadora, a filha de Helm, Héra, deve liderar a resistência contra seu antigo amigo de infância, que não parece disposto a ter qualquer misericórdia.
As mais de duas horas do longa-metragem talvez tenham uns vinte minutos realmente memoráveis. De resto, além de um enredo raso o anime dirigido por Kenji Kamiyama (Ghost in the Shell: SAC_2045 e Blade Runner: Black Lotus) decepciona mesmo nos aspectos técnicos com um desenho pouco animado e uma heroína excessivamente sexualizada. Apesar disso, A Guerra dos Rohirrim tenta inserir uma personagem feminina num universo excessivamente masculino. Mas não adianta ter uma história feminista se é uma história ruim. Helm acaba sendo uma princesa guerreira sem muita profundidade, que não quer se casar mas se veste como uma cosplayer sexy de elfa e que mesmo sem experiência em batalhas vence quase todos os confrontos que se envolve. O último deles vestida de noiva em uma estranha simbologia de confronto final.
Não sei até que ponto vai o envolvimento de Peter Jackson como produtor-executivo e me parece justo que o grande responsável seria mesmo Kamiyama. Seja lá quem for, me parece um sinal muito ruim ver o universo de Tolkien tão banalizado em uma série ruim e um longa-metragem insosso. Tudo isso, vale relembrar, para criar fanfics de apêndices que o próprio escritor não achou que tinha uma história que valesse seu tempo.
Entende-se e se respeita até certo ponto que o capitalismo transforme tudo em produto. Mas com uma história tão marcante que se tornou amada como uma religião, os produtores deveriam ter mais parcimônia e autocrítica. Nada que não acrescente muito a Terra-Média deveria ser produzido.
Nota: 4
Confira o trailer de A Guerra dos Rohirrim: