Turma da Mônica: Laços

Turma da Mônica: Laços é para assistir com o coração

Maurício de Sousa é um dos gênios do Brasil. E além do talento pra desenhar e criar histórias, tem talento pros negócios. A Turma da Mônica é o universo  ficcional brasileiro mais famoso, com plano de exploração de marca, projeto cross-media e internacionalização. Opa, eu disse universo? Acho que podemos assumir que é multiverso, levando em conta o sucesso da Turma da Mônica Jovem, Mônica Toy e  o selo Graphic MSP, que publica releituras dos personagens em graphic novels de excelente qualidade narrativa e gráfica.

(Aliás, o tema do Desafio Literário deste mês são Graphic Novels!)

Foi no Graphic MSP que surgiu Laços, história escrita e desenhada pelos irmãos Victor e Lu Caffagi. Eu li Laços em dueto (onde cada pessoa vai lendo uma frase da revista em voz alta), e  foi uma experiência deliciosa, reencontrar todo aquele universo do Bairro do Limoeiro. Dei gritinhos de emoção com alguns easter eggs (como a explicação sobre o motivo de apenas o Cebolinha usar sapato). Sempre fui muito fã das revistinhas da Turma (fui assinante quando criança, então sei várias histórias de cor e tenho muita familiaridade com as tropes e personagens secundários), decorei as músicas de Mônica e Cebolinha no mundo de Romeu e Julieta (especial para a Tv Bandeirantes gravado em live action com bonecos e bailarinos na cidade histórica de Ouro Preto/MG)  e meu VHS ficava quente com a fita de Mônica e a Sereia do Rio e A Princesa e o Robô, filmes de animação. Então acompanhei com ansiedade as notícias da produção de Turma da Mônica: Laços, o primeiro filme live-action da turminha sem bonecos cabeçudos!

Assistimos em uma sessão quase vazia, cheia de adultos. O bairro do Limoeiro aparece na tela exatamente como é nos quadrinhos clássicos: as cercas de tábuas, os gramados e calçadas, as casinhas coloridas, as árvores e arbustos, o picolezeiro e o carrinho de kikão (cachorro quente). E quando os quatro personagens centrais aparecem, acontece alguma mágica que nos faz acreditar que aquele lugar existe – mais ainda, que nós já estivemos lá.

As crianças estão bem dirigidas, com destaque para o intérprete do Cebolinha (Kevin Vechiatto), cujo personagem carrega grande parte da ação – afinal, a história do filme fala sobre um plano do Cebolinha para encontrar o Floquinho. A caracterização é impecável na fidelidade aos quadrinhos, em especial os pais da turminha, e me deu muita vontade de comprar o pijama de astronauta para o meu sobrinho (plano de exploração de marca, eu disse). O áudio do filme é superior à maioria dos filmes nacionais que assisti, e mesmo com a dicção natural dos atores mirins, conseguimos entender bem o que é dito. A trilha sonora, aliás, está adequada e guia a ambientação de modo muito discreto.

O filme não é para toda a família: é um filme para crianças de todas as idades. Achei muito inteligente a escolha da direção de não mostrar diretamente as cenas de briga, sempre vemos na tela apenas a reação de alguém que está assistindo a briga e os efeitos posteriores (o famoso olho roxo).

É um filme de jornada, e em vários momentos o espectador adulto vai lembrar de Goonies e de E.T, o Extraterrestre. Bicicletas? Tem. Floresta escura? Tem. Personagem que vive à margem da sociedade e serve como guia? Também! Para os fãs como eu, vale procurar pelos Easter eggs. Reconheci Cremilda e Clotilde, Aninha e Titi, Franjinha, Jeremias e Quinzinho. Aparece também a fantasia de ratinha cor de rosa que a Mônica usa no desenho As Aventuras da Turma da Mônica, e o Cranicola. Vale também prestar atenção nas referencias discretíssimas ao Papa-capim, ao Jotalhão e ao Piteco.

A participação de Rodrigo Santoro como o Louco é um encanto. Como é bom poder vê-lo tão livre na tela, com recursos que valorizam cada movimento dele, com um texto que homenageia o original dos quadrinhos a cada vírgula! Quero um filme só dele… O fato de ele só ser visto pelo Cebolinha é recorrente nas historinhas e é explorado também no filme. Uma pena é que para inserir esta cena, foi eliminada a melhor sequencia da graphic novel original, a conversa ao redor do fogo.

O ponto fraco do filme em minha opinião é o clímax da luta contra o vilão. Lorde Coelhão e Capitão Feio eram muito mais ameaçadores. O vilão de Laços (ele tem nome? Não lembro!) não convence em maldade nem em tolice e a cena que o define é um equívoco dramático e cinematográfico, com trilha sonora de Fagner causando grande constrangimento. As sequências de ação na cabana são lentas, óbvias e pouco criativas. Mas acredito que dentro da lógica estabelecida pelo filme, o público embarca na regra do jogo de que o vilão é bobo mas não vai machucar os protagonistas.

Tem crianças, tem cachorros, tem amizade e é um amorzinho de filme. Então, leve suas crianças pra assistir (inclusive a criança interior), e na saída dá um pulinho na banca de revista do seu Mauricio e compra um gibi pra dar de presente.

Nota: 9

Arquivos

Leia Mais
Pacificador: como capacete de personagem foi desafio nas filmagens