No mês de janeiro foi lançado em livro uma das mais famosas histórias do escritor britânico Clive Barker. O conto conhecido como “Candyman”, que originalmente fez parte da coletânea Livros de Sangue (1985), foi adaptado para o cinema em 1992. Em sua época, o filme mostrou-se uma experiência criativa diante do esgotamento das repetitivas franquias que dominavam o cinema de horror.
A história do filme está centrada na lenda urbana sobre uma misteriosa criatura, que todos chamam de Candyman (traduzido por aqui como “homem dos doces”), responsável por uma série de violentos crimes não solucionados. Essa criatura, invocada quando alguém chamava cinco vezes o seu nome em frente a um espelho, possui um gancho em uma das mãos, que usava para matar suas vítimas. Essa criatura fantástica, séculos antes, era o filho de um escravo que havia feito fortuna depois da Guerra Civil. Tendo grande talento para a pintura, Candyman acabou se envolvendo com a filha de um de seus ricos clientes. Torturado por capangas, o jovem pintor teve uma das mãos arrancada. Os agressores ainda esfregaram mel no corpo de Candyman, que foi atacado e morto por abelhas.
A história tem como protagonista Helen (Virginia Madsen), uma jovem pesquisadora universitária que se interessa pela misteriosa história em seu estudo sobre lendas urbanas. Contudo, Helen acaba descobrindo (da pior forma possível) que um homem usava o mito de Candyman para assustar as pessoas. Esse farsante e sua gangue são presos e, com isso, o medo provocado pelo mito do verdadeiro Candyman é enfraquecido. Ele culpa Helen pelo enfraquecimento da lenda, para se vingar da pesquisadora, incriminando-a pelo sequestro de um bebê e pelo assassinato de sua melhor amiga.
Essa história faz um interessante confronto entre uma crença popular e o conhecimento científico. Ao construir a ideia de que a construção dessa figura mítica tem a ver com a realidade vivida por uma população pobre, desnuda a condição de populações jogadas nas periferias das grandes cidades estadunidenses e amontoadas em conjuntos habitacionais de condições precárias. Essa história mostra ainda que não se trata de populações ignorantes ou sem compreensão da realidade, mas essas pessoas acabam sendo representadas de forma preconceituosa por certo discurso acadêmico bastante conservador.
O filme, apesar de suas limitações técnicas e orçamentárias, apresenta uma narrativa ágil e bem conduzida pela direção, amarrada por um roteiro bastante coeso. O lugar onde vive Candyman chama bastante a atenção pelos ricos detalhes (o grafite das paredes é belíssimo) e pela criatividade em sua estruturação.
Destaca-se a atuação de Virginia, que interpreta Helen, mostrando um trabalho bastante equilibrado e convincente. Com exceção de Madsen e Tony Todd, que interpreta Candyman, as demais atuações são bastante fracas.
Essa é mais um daquelas histórias maravilhosas que nasceram da criatividade de Clive Barker, cuja obra original agora pode também ser acessada numa belíssima edição em livro. O filme, além disso, continua a ser um clássico a ser visto e revisto, principalmente diante do fato de que permanecem vivos muitos dos problemas sociais retratados.
Nota: 8