Nosferatu é uma tentativa ousada de atualizar o filme clássico de 1922, com o diretor Robert Eggers e um elenco recheado de estrelas. Quem não viu o original dirigido por F. W. Murnau porque é avesso a filmes em preto-e-branco dificilmente vai se interessar por um enredo que soa igual a maioria dos filmes de vampiro dos ultimos anos porque a produção original inspirou quase todos. Este seria o resumo geral de um filme que talvez o cinema não precisasse, mas de fato tem mais detalhes que chamam a atenção.
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Eggers se notabilizou por A Bruxa, um filme moralista sobre uma adolescente protestante que descobre o misticismo do ponto de vista da Santa Inquisição em uma interpretação notável de Anya Taylor-Joy. A atriz foi convidade para The Northman, filme que fracassou comercialmente e que dirigiu depois do brilhante O Farol. Todos os três filmes tem muito em comum com Nosferatu: são filmes de época, abordam uma luta do bem contra o mal e, talvez o que mais me incomode, tem um elenco aparentemente formado apenas por pessoas brancas, sendo Anya Taylor a pessoa mais diversa como “latina”. Afinal, a atriz nasceu na Argentina mesmo pais de seus pais, que têm ascendência europeia.
Não parece coincidência. Eggers gosta de fazer filmes sobre pessoas brancas com elencos (quase_ completamente brancos em que usa o viés do protestantismo (A Bruxa e Nosferatu) ou da cultura nórdica (The Northman). Nosferatu é mais um a fazer isso, o que tem em comum com o filme original que surgiu antes da globalização de Hollywood e discussões sobre diversidade.
Se o filme não acrescenta ao enredo original, o que sobra? Efeitos especiais, maquiagem e figurino parecem pouco para mim, mas Nosferatu, de fato, obteve indicações de Melhor maquiagem e Cabelo, Melhor Figurino, Melhor Direção de Arte e de Fotografia. Vale lembrar que Eggers é um cineasta de notável domínio da técnica cinematográfica, mas estamos falando de um clássico do cinema. O balanço é ruim.
Interpretações em Nosferatu
O elenco do filme conta com Willem Dafoe como o dr. Albin Eberhar. Eggers dirigiu Dafoe em seus últimos três filmes, mas a curiosidade é recordar que o ator esteve no papel principal de A Sombra do Vampiro, ficção notável justamente sobre o Nosferatu original, com um enredo de metalinguagem cinematográfico. Econômico, o ator cumpre seu papel discretamente assim como Nicholas Hoult como Thomas Hutter. Bill Skarsgård decepciona no papel imortalizado por Max Schreck e parece apenas um amontoado de maquiagem e fantasia.
Nosferatu acaba sendo um filme menos desinteressante pelas atuações femininas. As atrizes Emma Corrin (Anna Harding) e Lily-Rose Depp (Ellen Hutter) roubam a cena sempre que o foco do enredo lhes procura. Leva a gente a pensar se ao invés de refilmar algo tão conhecido não fosse melhor outro enredo e outro ponto de vista sobre um vampiro. Eggers parece ter confundido “ultrapassado” com “clássico”. Não é a única confusão que parece fazer.
Nota: 2
Confira o trailer legendado de Nosferatu: