novos super-heróis

EDITORIAL: Os quadrinhos precisam de novos super-heróis

Em tempos sombrios, a nona arte sempre contribuiu como uma resposta ao melhor do que temos. O nazismo assombrava o mundo, mas um franzino Steve Rogers mostrava que cada um poderia dar sua dose de sacrifício para que o mal não vencesse. Antes disso, em 1938, o Super-Homem surgia combatendo problemas sociais como inocentar uma mulher acusada equivocadamente pela justiça, impedia abuso doméstico e salvava um senador da chantagem de um gangster.

Como se explica a necessidade por novos super-heróis?

No passado, mesmo em terras tupiniquins, era suficiente vermos heróis que entregassem a justiça, protegessem a família e impedissem a corrupção. Em Lendas, saga de John Byrne publicada nos anos 90, o próprio Homem de Aço aceita um decreto presidencial de Ronald Reagan para que interrompesse suas atividades em uma conspiração planejada por Darkseid. Parece razoável que nos tempos que vivemos os super-heróis aceitem isto?

Ousadia?

Novos Super-Heróis precisam surgir nos quadrinhos enfrentando o uso abusivo do Estado contra minorias, o discurso de ódio e a desinformação. Parece ousado, mas artistas como Dennis O’Neil, Byrne e tantos outros já discutiram o assunto. Meses atrás, citei uma história de Nuclear e o Lanterna Verde Hal Jordan para falar da situação política do Brasil. Embora aquele editorial se referisse a X-Men: Dias de Um Futuro Esquecido, a referência estava implícita na frase:

 O ódio, assim como o fogo, não escolhe lados e atinge a todos. Mas sempre haverá quem acenda o pavio.

Nos anos 90, o Nuclear havia perdido sua humanidade combinada de Ron Raymond e de Martin Stein, que o permitiam existir. Ao investigar um incêndio, descobre um ato de racismo e briga com o Lanterna Verde que tenta impedir que as coisas piorem.

novos super-heróis A versão completa desta história está neste link (em inglês). Curiosamente, a história tem um quê de racismo. Após serem agredidos e quase morrerem, as vítimas (dois jovens negros) veem um Nuclear sem emoções se tornar um instrumento de retribuição. No fim, Hal Jordan impede mais mortes e critica o ódio como resposta.

Justo ou não, vale lembrar: trata-se de um Lanterna Verde branco. Adoraria ver esta storyline revisitada por John Stewart.

No passado, os comics foram usados como propaganda política para encorajar tropas e população. Hoje, precisamos que discutam fake news, discurso de ódio e como não confiar cegamente em políticos populistas como Donald J. Trump e Jair Bolsonaro.

E, principalmente, precisamos de personagens com mais vozes. Há quem diga que Deus é uma mulher. Eu espero que os novos super-heróis sejam mulheres, gays, trans, negros, índios, muçulmanos e tantos outros elementos de diversidade.

Antes de enviar a sonda Voyager ao espaço, a NASA recolheu vários elementos que dessem uma pista do que somos na Terra. Convidado por um jornal a dar sua contribuição do que gostaria que se levasse, Jack Kirby desenhou dois super-heróis saindo da Terra. Em sua explicação, Kirby disse que nossa autoimagem era o melhor que poderíamos mostrar. Nós somos o que são nossos sonhos.

É hora de sonhar novos sonhos. Com a palavra, os criadores.

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