Filmes sempre ajudam a explicar nosso mundo. E se você não está preocupado, está mal informado. O clima beligerante no Brasil vem desde 2016, quando a presidente Dilma Roussef foi deposta do cargo por um golpe parlamentar, mas este é um cenário em que não cabe análises rápidas e sim muitas reflexões.
Listamos aqui alguns filmes que podem te ajudar a entender:
Estado de Sítio
Costa-Gravas nasceu na Grécia e se naturalizou francês. Mas como poucos latinos compreendeu a situação na América do Sul em seu Estado de Sítio. Embora não deixe claro em que país se passa a história, as referências como o grupo Tupamaros, indicam o Uruguai embora tudo que se passe ali tenha ocorrido em ditaduras na região. Ou seja, Chile, Argentina, Peru…
… E sim, Brasil, inclusive.
A partir da morte de um embaixador norte-americano, Estado de Sítio volta no tempo e mostra como o país chegou àquela situação e o que aquele assassinato significa. Sem assumir lado, sua câmera revela que não há paz enquanto Estado e sociedade brigarem entre si. A história tensa da câmera nervosa de Costa-Gravas mostra uma região eternamente estressada por interesses externos que raramente convergem com o dos seus habitantes. Ao fim, não haverá paz sem que se respeite isso. O que fazer senão aprofundar a democracia antes de nos aperfeiçoarmos na guerra? O recado deixa claro que enquanto houver mortes e destruição, o ciclo não será interrompido ainda que o Estado sempre tenha as armas mais poderosas. Afinal, os guerrilheiros têm o tempo ao seu favor mesmo que não possuam o relógio.
Notícias de uma Guerra Particular
O documentário de João Moreira Salles é perfeito até em seu nome. O “notícias” indica a sensação de urgência como o “particular” referencia o critério impopular de uma batalha lutada sem sucesso há décadas. O vídeo alçou a fama alguns dos personagens mais importantes da segurança pública no principal cartão postal do Brasil e trouxe a tona novas perspectivas do debate.
Por que é importante para entender o momento do Brasil? Porque deixa claro que não há como vencer uma guerra em que usuários e traficantes são tratados de forma tão diferente quanto usuários do Leblon são vistos de outra forma pela Polícia Militar em relação a moradores de favelas. Assista o documentário e depois veja o clipe Primavera Fascista.
Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora É Outro
O diretor José Padilha foi muito criticado em Tropa de Elite por quem confundiu a intenção do Capitão Nascimento (Wagner Moura, em um de seus papéis mais marcantes) com a do próprio diretor. Não se sabe o quanto essas críticas lhe influenciaram na sequência que traz um policial militar mais agonizante e menos algoz. Nascimento amadurece como o Brasil não amadureceu ao entender que os verdadeiros inimigos não estão no alto do morro.
Entre os grandes momentos do filme que ganharam outro significado estão o espancamento de um político pelas mãos de Nascimento, o que ganha outra conotação no clima de “contra tudo e contra todos” que o Brasil vive. Ou seria contra autoritários que querem se locupletar pelo Estado?
Mas o que permanece mais atual ainda é o fim de Tropa de Elite 2. A câmera com uma longa tomada em plano-sequência passando por Brasília, a Câmara e o Planalto. Uma reflexão sobre todas as suas negociatas e confusões. “O sistema é foda, parceiro” parece ter virado um argumento para não abraçarmos a democracia pelas suas virtudes e sim a atacarmos por seus problemas. Quando foi que esse pensamento construiu algo senão terror?
Democracia em Vertigem
Indicado ao Oscar deste ano, Democracia em Vertigem é um dos melhores filmes brasilerios do gênero. Em uma narrativa sólida, a diretora Petra Costa faz um paralelo entre a sua vida e sua família e a escalada de loucura que consome a república brasileira, democraticamente estável desde os anos 90.
Não caia no lugar comum de que o filme é panfletário ou algo do tipo. A diretora ouve de membros do Partido dos Trabalhadores (PT) os erros que se cometeu para se afastar da população. Aécio Neves e o PSDB, porém, não conversaram com a produção apenas a atacaram.
Bacurau
Lançado em 2019, Bacurau conta a história de um pequeno povoado abandonado pelo poder público e que some do mapa ao mesmo tempo que é atacado por uma milícia de outro país. Não é apenas um enredo, mas uma alegoria. A selvageria de Lunga (Silvero Pereira) nos ensina e nos inspira. O que fazer quando estado e o inimigo de fora estão contra nós, senão lutar?
