Se depois da quinta temporada, Black Mirror deu a impressão de reciclar velhos conceitos a sexta temporada mostrou que Charlie Brooker, criador da série, & cia têm ideias de sobra. Com uma sexta temporada absolutamente surpreendente, a produção Netflix pode ser acusada, porém, de contradizer seu próprio universo. Tudo vai ser diferente.
Com um pé em misticismo e sobrenatural e críticas a mídia, Black Mirror deixou menos espaço para a crítica de ficção científica, que parecia ser o natural da série. Porém, desta vez deixou qualquer espectador com o cabelo em pé e surpreso pelos diferentes pontos de virada e desfechos de cada história. O que você prefere?
A sexta temporada tem cinco episódios. A Joan é Péssima (com Salma Hayek, Michael Cera e Annie Murphy), inaugura a sequência com um capítulo que tem muito do melhor da série. Joan (Annie Murphy) descobre que uma série na mais famosa plataforma de streaming da cidade é sobre… Seu dia! Não apenas seu cabelo ou dia de trabalho mas até seus momentos mais íntimos. É um típico pesadelo 100% possível e comensurável em um mundo onde a Inteligência Artificial e o que nossos celulares sabem de nós mesmos cresce sem nenhum tipo de controle. Como vencer o logaritmo quando o objetivo dele é entreter pessoas com histórias sobre você?
A Joan é Péssima tem até mesmo sua dose de escatologia imaginária como o primeiro episódio de Black Mirror mas não tem o que muitos fãs enxergam como uma obrigação: um final dramático. É um capítulo quase fofinho em seu desfecho, mas sem dúvida alguma uma boa história. Já Loch Henry (com John Hannah e Monica Dolan) não tem absolutamente nada de tecnologia ou ficção científica, mas entra no universo de críticas a nossa relação com a mídia. Dois estudantes de cinema resolvem fazer uma True Crime Series com um caso envolvendo a família de um deles.
Esta talvez seja a melhor história da sexta temporada. Com um final para lá de inesperado e uma abordagem pouco usual do fascínio dos espectadores de TV e streaming por esse filão chamado True Crime. Quais os limites para quem quer explorar este mercado e o que isto diz de nós como consumidores de histórias?
Beyond the Sea coloca um grande elenco com Aaron Paul (Breaking Bad), Josh Hartnett (Sin City), Kate Mara (House of Cards) e Rory Culkin no episódio mais Black Mirror de todos os cinco. Dois astronautas em uma missão de anos no espaço com a possibilidade de transferirem sua consciência para um corpo andróide na Terra que simula seu corpo original e garante que não percam o contato com a humanidade. Mas o que acontece quando parte da humanidade não quer este tipo de tecnologia?
Talvez valha alertar que Beyond The Sea tem todo o horror que Black Mirror se acostumou em nos explicar e demonstrar. Com um final nada doce, a história só deixa um pequeno furo de roteiro para trás. Afinal, se os personagens dependem de um aparelho para retornarem aos seus corpos, quando um é destruído esta consciência deveria ser perdida.
Mazey Day tem Zazie Beetz (Coringa) e é a piração total da produção. Tudo começa fazendo parecer que é só uma crítica aos paparazzi e sua perseguição a celebridades até que… O episódio revela um desfecho que Arquivo X e Supernatural não veriam problema, mas fica a reflexão. Será que ainda estávamos vendo Black Mirror? Podemos esperar vampiros na próxima temporada? Super-heróis? É difícil adivinhar em que chão a série de Booker pisa agora e talvez esta seja a intenção.
Demônio 79 conta com Paapa Essiedu (I May Destroy You) como um demônio (!) e Anjana Vasan (Homem-Aranha: Longe de Casa) como Amina, uma vendedora de sapatos bem humilde que acidentalmente precisa cumprir um pacto com o diabo e impedir o fim do mundo (!!). O final de Demônio 79 deixa em aberto se estamos vendo a razão das distopias de outros capítulos ou se é simplesmente mais uma surpresa da série. Resta esperar a sétima temporada.
Nota: 7.5
Confira o trailer da série: