A invasão das bruxas

Trajetória marca as representações das bruxas com muitas ressignificações, tanto positivas como depreciativas

Uma das figuras mais permanentes e exploradas em produções culturais há séculos são as bruxas. Elas estão presentes desde os contos dos Irmãos Grimm até as produções contemporâneas da televisão, do cinema e da literatura. Nessa longa trajetória, as representações sobre as bruxas passaram por muitas ressignificações, tanto positivas como depreciativas.

As bruxas estão presentes nos contos de fada, apresentadas como a representação do Mal, em histórias como as de “João e Maria” ou da “Bela Adormecida”. Elas também são centrais no livro Martelo das feiticeiras, manual que ensinava os inquisidores técnicas para identificar e perseguir pessoas suspeitas de bruxaria, escrito no século XV.

Contudo, ao longo dos séculos, essas representações foram mudando. No século XX, o cinema e a televisão se apropriaram da temática das bruxas. Uma personagem que se tornou bastante conhecida foi a jovem bruxa Sabrina, que ganhou duas séries de televisão ao longo das últimas décadas. Outra famosa obra é a peça de teatro escrita por Arthur Muller, que ganhou uma adaptação de sucesso no cinema com o título de As Bruxas de Salem. Nessas obras, sobressaem, respectivamente, o tom cômico e a reflexão crítica sobre a perseguição às bruxas.

Na série mais recente protagonizada por Sabrina, exibida pela Netflix, a jovem bruxa se defronta com a escolha entre o mundo das bruxas e o mundo dos mortais. O tom da série é bastante leve e bem-humorado, enquanto desfilam referências a demônios famosos, como Lilith, e são apresentados elementos da filosofia do satanista Anton LaVey.

Uma importante adaptação cinematográfica em torno das bruxas foi o filme Suspiria, do diretor italiano Dario Argento. O filme foi o primeiro de uma trilogia centrada em bruxas e ainda ganhou uma refilmagem nos anos recentes. No filme de Argento, uma bailarina se muda para estudar em uma famosa escola na Alemanha. Em meio às pressões e opressões da escola, a protagonista se descobre em meio a um grupo de bruxas, que acabam por persegui-la.

No período recente foi talvez na televisão que as bruxas ganharam mais espaço. Na série Motherland: Fort Salem, mostra-se como poderia ser a existência das bruxas caso não tivesse havido séculos antes a caçada em Salém. Na situação imaginada, as bruxas acabam por formar um exército de mulheres que lutam em nome do governo. Em séries como Salém e Agatha Desde Sempre, como em outras produções, os acontecimentos e perseguições contra as mulheres de Salém são retomadas de diferentes ângulos. Soma-se a isso a adaptação televisa do universo das bruxas de Anne Rice.

As bruxas ainda aparecem em outras tantas produções culturais, seja nas frequentes reedições do Martelo das feiticeiras, na nova versão de outra série clássica, Charmed, ou em outras produções, como na série italiana Luna Nera ou no filme Silenciadas. Na série Once upon a time, diferentes facetas das bruxas são apresentadas, como, décadas antes, no clássico filme O mágico de Oz. O tema parece também tem espaço na música, em especial no heavy metal, como em Burning the Witches da banda Warlock e mais recente em diversas letras da banda suíça composta exclusivamente por mulheres Burning Witches.

Muitas dessas representações das bruxas, que mais recentemente não atribuem a elas uma maldade inerente, parecem dialogar em grande medida com o contexto de lutas femininas, travadas em todo o mundo nos últimos anos. Essas produções recentes constroem representações de força e coragem, e não pejorativas, de mulheres que fogem de estereótipos conservadores e procuram construir sua própria estrada.

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