O livro do silêncio – Deuses de dois mundos, #1

Começando o ano já firme e forte no Desafio Literário Popoca, selecionei um dos livros da lista de indicados e que, ainda por cima, é de um autor brasileiro falando de orixás! O livro do silêncio é o primeiro da série Deuses de dois mundos, do publicitário e roteirista P.J. Pereira, que chegou a lista dos mais vendidos no ano do seu lançamento, em 2015.

SPOILER FREE

Preciso dizer que não tentarei julgar a qualidade da pesquisa do branco P.J. Pereira com relação aos mitos de origem africana dos Orixás, até porque desconheço profundamente o assunto. Só torço para que eu não esteja aprendendo nada de errado com os livros dele.

Nesse sentido, muitos poderiam já apontar uma certa apropriação cultural, e podem não estar completamente errados, apesar de que no Brasil uma quantidade razoável de brancos seguem e frequentam os centros de religiões de matriz africana. A parte tranquila do livro com relação a isso é que o autor foi bastante sábio e não incluiu personagens obviamente negros no enredo (com exceção dos deuses africanos, claro), o que o exime da armadilha mais óbvia de apropriação cultural e falsa representação.

Independentemente disso, é bom termos na literatura nacional um livro de teor sobrenatural com um fundo de matriz africana. Acho importante. Só podia ser melhor se o autor fosse negro.

Então, sem considerar esses pontos, que não tenho posição nenhuma para julgar, o livro do carioca é sim, bem escrito. A história é contada de forma alternada, entre o mito da luta dos orixás e o mundo atual, onde temos um provável alterego, o publicitário Newton, que se vê envolvido numa trama sobrenatural e procura ajuda na internet para entender o que aconteceu com ele. Enquanto a parte mítica da história é contada de forma mais clássica, a história de Newton é narrada através de emails que a personagem envia para um desconhecido que prometeu conseguir explicar tudo o que aconteceu e que ele não consegue lembrar ou entender.

A alternância entre essas histórias torna o livro bastante dinâmico e divertido, e P.J. Pereira foi bastante cuidadoso e habilidoso nas trocas narrativas. Se a parte mitológica estiver bem pesquisada, imagino que a leitura seja menos interessante para quem entende do assunto, mas esse não foi o meu caso e o estilo do autor torna o mito bastante acessível e prazeroso de ler.

Pessoalmente, como leitora pouco assídua de literatura brasileira, uma das graças do livro foi justamente ler sobre coisas familiares (a história se passa em São Paulo) e personagens fáceis de se identificar (com exceções, claro). Mas não posso desmerecer a prosa, que me agradou por ser bastante jovem e descontraída.

Mas nem tudo são flores. Apesar do prefácio do terceiro livro da série afirmar que os livros podem ser lidos separadamente, isso não é verdade com relação ao primeiro e segundo volumes. O livro do silêncio tem um gancho daqueles que não dá para ignorar. Então fica a dica, leia o primeiro livro já tendo o segundo em mãos, para garantir uma leitura sem estresse, assim como P.J. Pereira tem o seu lugar garantido no inferno dos autores que deixam ganchos em seus livros.

Nota 8,5.

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