E para completar o Desafio Literário Popoca de abril, com o tema livros em que a mentira é parte importante da história, escolhi algo com utilidade dupla: está dentro do Desafio e estava na minha lista de ler para ontem porque saiu esse mês a série baseada no livro na Netflix: Sombra e Ossos (Shadow and Bone), da israelense criada nos EUA Leigh Bardugo, que na verdade é o primeiro de uma trilogia.
++ Shadow and Bone: A nova onda da Netflix
SPOILER FREE
Talvez o livro, que saiu com o título Sombra e Ossos no Brasil, não seja uma escolha óbvia para o tema, mas, como uma amiga me chamou atenção certa vez, Bardugo tem um amor pouco saudável pelo plot twist o vilão na verdade é uma pessoa que parecia legal no início da história. Bom, nem sempre é o vilão, mas, ela gosta muito desse tema estilo Scooby Doo. Posso não ter mencionado com todas as letras na última resenha que fiz dela (veja a resenha de Mulher Maravilha aqui), mas era exatamente desse clichê que eu estava falando. Então, boa parte do enredo de Sombra e Ossos se baseia em mentiras. Bastante apropriado na verdade. Em tempo, para quem está acompanhando a série na Netflix e ainda não leu os livros do Grishaverse, fique avisado que o serviço de streaming está fazendo uma combinação de duas séries da autora dentro do universo Grisha: a trilogia Grisha, que começa com Sombra e Ossos, e a duologia Six of Crows. Então, metade dos personagens da belíssima primeira temporada não estão nos livros Grisha. E sim, o Netflix tem spoilers da série que você não leu, e diferenças com relação aos livros. Vale mencionar que o Grishaverse tem ainda a série King of Scars (2 livros) e o livro de contos The Language of Thorns.
Voltando ao livro, Leigh Bardugo fez sucesso mundial com os volumes de Grishaverse, e a razão para isso é clara, ela conseguiu criar um universo com um jeitão leste europeu que é realmente fascinante. Nesse universo existem as pessoas normais e os mutantes benders grishas, que são aqueles com poderes para manipular os elementos. Eles são manipuladores de ar e água (conjuradores), do corpo humano (curandeiros e assassinos) e capazes de mexer com a matéria (fabricadores).
Nossa personagem principal (que eu juro que é mais interessante no livro do que na série, não desanimem de ler, por favor) é Alina Starkov, que mora na versão grisha da Rússia Czarista, chamada Ravka, e que é um dos poucos países da região que não queimam os grishas como bruxas na idade média. Alina faz parte do primeiro exército, isto é, o exército de humanos, e numa travessia ao Não Mar (uma zona de escuridão com monstros criada há séculos por um grisha manipulador de sombras, que é um poder especial e muito raro), ela descobre que é capaz de conjurar a luz do sol. E a história se desenvolve a partir daí, com ela sendo levada para a ordem dos grisha, chamada de segundo exército, e como todos creem que ela será a salvadora da pátria e destruidora do Não Mar, que divide Ravka ao meio.
O enredo tem mais política e questionamentos sociais do que eu esperava, confesso, mas, é uma das coisas interessantes da série. Outra coisa interessante é toda a mitologia de santos que a autora criou para esse universo, que é bastante rica e complexa, apesar de ser pouco mencionada no primeiro livro da série. Por outro lado, como muitas séries young adult com protagonista feminina, o papel do romance no enredo é um tanto quanto exagerado. E sim, Alina é dependente demais do seu homem e fica tempo demais pensando nisso. Para compensar, o livro tem muita ação, violência numa boa medida e é fácil e gostoso de ler.
É uma boa leitura para quem gosta de fantasia, com um universo bem montado e coerente, ação e politicagem.
Nota 8,5.
Vi a série, vale a pena comprar o livro?
O livro e a série tem algumas diferenças, no livro, Alina é mais interessante, mas, a série a tornou metade Shu (uma etnia tipo os chineses nesse universo), o que ficou muito bom. O livro tem mais detalhes, e por isso o enredo é mais complexo e você entende melhor o funcionamento de algumas coisas, e tem o fato de não misturar com a duologia Six of Crows (que eu ainda não li e por isso não posso julgar). O visual da série ficou bonito, mas, o livro desenvolve mais diversos personagens secundários que não tem como ter tempo de tela para isso, e alguns plot twists são muito diferentes.
Particularmente, acho as diferenças entre as duas versões grandes o suficiente para valer a pena a leitura e não ficar com cara de vale a pena ver de novo, caso isso te incomode. Spoilers são inevitáveis, mas, de forma geral o livro vale ser lido mesmo tendo visto a série, caso você tenha gostado da série, claro.
Eu achei a série linda visualmente, e com alguns acertos, como incluir a questão do racismo, o que o livro já tinha de alguma forma com os grishas, mas zero com relação aos povos de Shu Han (China) e Fjerda (vikings? alemães?). Mas, em compensação, falta química entre alguns atores chave, e, gente, o que fizeram com a Alina? Todos os demais personagens da série ficaram mais interessantes do que ela, só que ela é a protagonista! Como assim?
Nota da série: 7,5
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