Na última sexta-feira (11) estreou no Disney+ a mais nova animação Disney/Pixar. Trata-se de Red: Crescer é uma Fera (Turning Red), a primeira animação do estúdio feita por uma equipe chefiada por mulheres e que aborda um tabu: a puberdade.
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Em 2002, na cidade de Toronto vive Mei (Rosalie Chiang), uma adolescente de 13 anos como qualquer outra. Ou quase. Ela é estudiosa, possui gostos bastante diversos, é dedicada a tudo o que faz, ama suas amigas e é fã de uma boy band. Mas diferentemente da maioria, ela ajuda a mãe Ming (Sandra Oh) a gerenciar e administrar o templo da família, o templo chinês mais antigo da cidade. Porém, o que torna Mei única é que ao sentir emoções intensas ela se transforma em um panda-vermelho.
“Sensacional” mal começa a descrever Red. O simples fato de trazer uma protagonista que começa a entrar em conflito com as tradições de sua família por causa do mundo moderno que a rodeia já seria interessante por si só. Mas trazer também a puberdade, os conflitos consigo mesma que a fase traz e com a família que reluta em aceitar que você cresceu, torna tudo ainda mais incrível. E isso faz de Mei a melhor metáfora sobre puberdade desde o Homem-Aranha. Possivelmente melhor que ele. (Desculpa Peter Parker!)
A verdade é que a puberdade é difícil para todos, mas um verdadeiro tabu para as meninas. Isso porque fatores como surgimento de pelos, mau cheiro e até alterações de humor costumam ser vistas como bem-vindos nos meninos, verdadeiros sinais de virilidade. Mas nas meninas… Aprendemos desde pequenas que meninas devem ter a pele lisinha, serem cheirosas e agradáveis. Mas adivinha só? A natureza não está nem aí pras convenções humanas!
E ainda tem a menstruação e as descobertas da sexualidade. E ninguém quer falar sobre isso com meninas. Então quando Mei se sente constrangida consigo mesma por fazer desenhos sensuais do garoto mais velho que suas amigas admiram, e sente que é o verdadeiro fim do mundo quando sua mãe descobre, ela representa todas as meninas que já passaram e ainda passarão por esse mundo. E mesmo que a personagem não tenha ficado menstruada, já que seu “problema vermelho” é outro, Ming se esgueirando pelo colégio para levar absorventes para Mei simboliza os medos de todas as meninas que começam a menstruar.
Sobre o fato de Mei se transformar em um panda-vermelho, de início questionei um pouco a escolha do animal. Claro, a pelagem vermelha é um bom simbolismo para a menstruação. Só que o panda-vermelho é um animal pequeno (58 centímetros de comprimento), herbívoro e que usa sons como primeira forma de defesa. Então a tradição de que a antepassada Shu Ye pediu aos deuses que lhe dessem os poderes do panda-vermelho para proteger a família parecia não fazer muito sentido. Mas passei a entender a escolha das criadoras ao ver o documentário O Abraço do Panda: A Fera Vermelha (também disponível no Disney+). Já que além de originário da China, ele tem as cores da bandeira do Canadá, e dorme muito e come errado como um adolescente.
Mas apesar de Red focar nas desventuras de uma menina na puberdade e seus conflitos com a mãe, não deve ser rotulado como um filme para meninas. Primeiro que já deveríamos ter parado com essas categorizações, não há motivos além de puro preconceito para um menino não ver uma animação com protagonista feminina. E segundo que meninos também têm suas dúvidas, e o filme pode ser um bom introdutor para conversas sobre respeitar o espaço de uma menina. Em uma entrevista, Sandra Oh disse que uma amiga assistiu Red com o filho de 10 anos e de repente estavam conversando sobre sexualidade e o que as meninas passam. Espero que isso se repita em muitos lares.
Já mencionei que a equipe de Red é chefiada por mulheres (o que faz a estreia na Semana da Mulher ser bastante propícia), mas vale destacar dois nomes: da diretora Domee Shi e da designer de produção Rona Liu. Este é o primeiro longa na carreira da dupla, que foi responsável pelo vencedor do Oscar de 2019 de Melhor Curta de Animação Bao. É muito talento.
Red: Crescer é uma Fera é um filme especial para quem foi adolescente nos anos 2000. São inúmeras referências, e a trilha sonora com ritmo de boy band composta por Billie Eilish e Finneas O’Connell te transporta direto para aquela época. Mas é um filme divertido e sensível que possui aspectos capazes de agradar pessoas de todas as idades, gêneros e nacionalidades. E acima de tudo, deve ser debatido.
Nota: 10
Confira o trailer: