O diretor e produtor Roger Corman realizou diversas adaptações da obra de Edgar Allan Poe para o cinema, entre os quais A máscara da morte vermelha (conhecido também como Orgia da morte). O filme, lançado em 1964, se passa em um período de peste, conhecida como a “Morte Vermelha”, que está devastando a população. Na primeira cena do filme, a “Morte Vermelha” entrega uma flor para uma camponesa idosa levar ao seu vilarejo, para assim poder espalhar a peste. O protagonista do filme, Príncipe Prospero, interpretado por Vincent Price, é um nobre sádico que acredita que pode escapar da praga ao se refugiar em seu castelo. Próspero, ao visitar uma vila de camponeses, de cuja produção havia se apropriado, deixando apenas migalhas, se surpreende com o fato de a peste estar tão próxima de sua região. Diante da resistência dos camponeses, que o confrontam, Próspero manda queimar a vila.
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Os sobreviventes da vila incendiada, diante do avanço da peste, se aproximam do castelo de Próspero e pedem proteção. Contudo, além de serem impedidos de entrar e buscar abrigo, são mortos pelos soldados de Próspero.
O príncipe Próspero e suas fugas
O príncipe, mostrando ainda mais seu desprezo pela vida, organiza uma série de festas para seus convidados, ignorando o sofrimento do povo do lado de fora. Próspero promete proteção aos ricos e nobres, zombando da situação vivida pelos camponeses. O castelo de Próspero, com suas festas e sua luxúria, representa uma forma de fuga da realidade e da destruição provocada pela peste no lado de fora de suas pareces. Contudo, apesar da postura daqueles ricos e nobres, a peste continua a se espalhar.
Pode-se compreender a figura de Próspero como uma crítica à aristocracia e à nobreza, assim como às elites em geral. O filme mostra a decadência e a corrupção moral de seus personagens.
Próspero ignora os sinais de que a “Morte Vermelha” pode atravessar as paredes de seu castelo, acreditando estar protegido. O príncipe, contudo, ao final de tudo, é forçado a confrontar a realidade da morte.
O vermelho e as mortes
Pode-se entender a peste como uma metáfora para a morte e a destruição que Próspero tenta evitar. O uso do vermelho em relação à peste não apenas simboliza a morte e a destruição, como também faz referência à paixão e ao desejo inconsequentes que movem os personagens.
O uso do vermelho também procura criar uma atmosfera de tensão e ansiedade. Essas cores criam um contraste entre a luxúria e a decadência do castelo e a miséria e a morte que se espalha do lado de fora.
Outro aspecto interessante do filme é a forma como se utiliza da música e do som para criar uma atmosfera de tensão e suspense. Sua trilha sonora é rica em elementos que evocam sentimentos de medo. Os sons ambientes, como o vento uivante e os passos ecoando nos corredores do castelo, contribuem para a construção dessas sensações.
Embora o filme seja baseado em um conto de Edgar Allan Poe, há algumas diferenças significativas entre as duas histórias. No conto original, a história é narrada de forma mais concisa e focada na figura do Príncipe Próspero. No filme, a história possui elementos adicionais, como a crueldade de Próspero em relação aos camponeses.
O príncipe e as mortes
O filme explora a dualidade entre a aparência e a realidade, em especial por meio dos personagens que frequentam o castelo de Próspero. Enquanto os nobres se apresentam como figuras elegantes e refinadas, suas ações revelam uma certa degeneração moral. As máscaras usadas durante os bailes no castelo simbolizam essa dissimulação, escondendo a verdadeira face dos convidados.
No final do filme, Próspero se depara com a “Morte Vermelha” dentro do castelo, escancarando a falsa sensação de segurança que o príncipe procurava mostrar. Para sua surpresa, a morte tem o seu próprio rosto. Essa representação da morte como uma figura com um rosto humano é uma crítica à ideia de que a tragédia provocada pela peste seria algo distante.
Essa representação da morte também é uma forma de simbolizar a responsabilidade que Próspero tem pelas vítimas da peste mostradas ao longo do filme. A presença da “Morte Vermelha” no castelo é mostrada como uma consequência direta das ações de Próspero, que, em sua arrogância e ilusão de fuga da realidade, não percebeu a entrada da peste dentro suas paredes.