Ghostface and Jenna Ortega in Paramount Pictures and Spyglass Media Group's "Scream."

Pânico 5: entre homenagens e novos personagens

Filme remonta às origens da franquia

Em 2022, foi retomada a franquia Pânico, com o lançamento de seu quinto filme. Em grande medida, Pânico 5 retoma o que sempre foi o centro da franquia, usando do suspense e do terror para refletir sobre o fazer cinematográfico.

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Em Pânico 5, somos apresentados a um novo grupo de jovens da cidade fictícia de Woodsboro, na Califórnia. O centro da história se dá em torno de Sam e de sua irmã mais nova, Tara. Sam é filha de Billy Loomis, um dos assassinos do primeiro filme. Como nos outros filmes, há um grupo de amigos da protagonista, do qual o assassino faz parte.

Em grande medida, a estrutura narrativa foi mantida em relação aos filmes anteriores. Há um prólogo violento, no qual Tara é atacada, e depois são apresentados os possíveis suspeitos, que fazem parte do grupo de amigos de Sam e Tara. Segue uma série de cenas de perseguição e assassinato promovidas pelo misterioso assassino mascarado (ou assassinos?). Por fim, retorna-se à casa do massacre ocorrido no primeiro filme, com direito a uma grande festa e algumas mortes. Mais para o final, revela-se a identidade de quem vinha cometendo os assassinatos e as motivações, completando um ciclo que remete não apenas ao primeiro, mas a quase todos os filmes da franquia.

Como em toda a franquia, a metalinguagem é um dos principais elementos utilizados para contar a história. Na cena introdutória, com Tara, é feita menção a Billy, pai de sua irmã, e, como no primeiro filme, aproveita-se para emitir algumas impressões sobre cinema de terror desenvolvido naquele momento. Como nos filmes anteriores, a protagonista, Sam, é apresentada a “regras” que estariam sendo seguidas pelo assassino e que remete a uma série de filmes de terror. E Sam ouve essas explicações de Mindy, sobrinha de Randy Meeks, o cinéfilo dos dois primeiros filmes da franquia. Além disso, são recriadas e reinterpretadas cenas icônicas, como a da morte da garagem ou a do perigo de assassinato no mesmo sofá da mesma sala, ambas do primeiro filme. Outros exemplos poderiam ser mencionados, mas o que cabe destacar é que se trata claramente de uma homenagem à obra de Wes Craven e ao diretor que deu vida aos primeiros quatro filmes. Essa questão da homenagem é trazida por Mindy, quando explica as características do reboot que o assassino parece pretender criar.

Os quatro filmes da franquia dirigidos por Craven tiveram como eixo reflexões sobre a criação cinematográfica. Em 1997, quando foi realizado o primeiro filme, o cinema de horror estava vivendo um esgotamento criativo, dominado por sequências intermináveis e péssimas de produções das décadas de 1970 e 1980. Os filmes repetiam histórias e vilões em novas produções marcadas pela completa falta de criatividade. Craven e Kevin Williamson, roteirista dos dois primeiros filmes, além do quarto, tomaram esse material repetido e sem criatividade e, por meio da metalinguagem, fizeram uma reflexão crítica, reinventando clichês para criticar clichês e até mesmo explicando detalhadamente como deveriam ser as sequências de uma franquia.

Com isso, o primeiro filme Pânico justamente reflete sobre o que há de repetitivo e caricato nos tradicionais slashers de então. Essa crítica é feita logo na cena introdutória do primeiro Pânico. O segundo filme problematizou a sequência, centralmente o segundo filme de uma franquia, colocando para si mesmo o desafio de superar a qualidade da obra original. E de imediato esclarece que a ideia de que o original é sempre melhor não passa de um mito. No terceiro filme da franquia são apresentadas as regras da trilogia, ainda que as preocupações de Craven (nesse momento, sem a dupla com Williamson) parecem estar bastante centradas na denúncia à lógica misógina de Hollywood. No quarto filme, por fim, Craven e Williamson, retornando ao roteiro, fazem uma dura crítica aos remakes que destroem as obras originais e repetem sem criatividade fórmulas esgotadas. No primeiro filme da franquia Pânico, Craven já havia dado um recado direto aos que estragaram seu filme de maior sucesso, A hora do pesadelo.

O quinto filme da franquia Pânico está em outro contexto, mais de dez anos depois do anterior, em que as mudanças indicadas por Craven pareciam surtir efeito. Observa-se que filmes como A Bruxa, O Babadook (o favorito de terror de Tara, segundo a personagem fala em duas ocasiões), as produções de Jordan Peela, e os trabalhadores envolvendo os produtores de Hereditário, além de outros filmes e mesmo de outras cinematografias, mostram um novo momento para o cinema de horror. O horror, assim, mostra sua força, por meio de filmes criativos e com narrativas diversas e pela ruptura com a repetição de sequências prontas.

Pânico 5: produção referencia filmes da franquia e vai agradar os fãs de terror
Pânico 5: produção cinematográfica referencia filmes da franquia e vai agradar os fãs de terror

O que então há para criticar nesse contexto em que o legado de Craven parecia ter se sobressaído? Simples: a forma doentia como uma parcela dos fandom encaram suas próprias obras favoritas, entendendo que, se não é feito ao seu gosto, é um lixo que precisa ser refeito. Ainda que a maior parte dos admiradores de uma obra sejam pessoas saudáveis e que estão mais interessadas em aproveitar o prazer daquilo que assistem, também existem espaços e fóruns em que impera um clima tóxico e onde se exalam ódio contra diretores, produtores, atores, trizes ou mesmo para qualquer pessoa que discorde de sua opinião. Então, em Pânico 5, os criadores se perguntam: e se essas criaturas que vivem no lixo dos fóruns tóxicos resolvessem recriar seu filme favorito – no caso, o fictício Stab, mostrado desde o segundo Pânico  – e, para que isso fosse o mais realista possível, tivessem que sair matando pessoas?

No geral, Pânico 5 é um bom filme, seja pela crítica atual a certos ambientes tóxicos da internet, com suas fake news e mentiras difundidas amplamente, pela apresentação de duas novas protagonistas muito bem interpretadas e pela homenagem a Craven.

Nota: 9

Assista ao trailer:

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